Lorde é, agora sim, a voz de uma geração
Nos ultimos anos a cantora consumiu 20% de sua vida, tornou-se amiga de Taylor Swift e se tornou estrela do pop
Entre o lançamento de seu primeiro álbum, Pure Heroine, e seu novo disco, Melodrama (Universal), que foi posto à venda na semana passada, aconteceram a Lorde três coisas terríveis e irreparáveis: consumiu 20% de sua vida, tornou-se amiga (e agora parece que também inimiga) de Taylor Swift e deixou de ser uma taciturna e anônima adolescente neozelandesa para se tornar, aos 20 anos, uma taciturna estrela global do pop. Nos quatro anos decorridos desde que o mundo soube dela graças ao fabuloso single Royals (vencedor de um Grammy), a garota teve tempo de se construir como ser e de desmontar e voltar a armar seu som, terminando por entregar um disco que é a crônica de um advento, de uma separação, do descobrimento das drogas, da noite e da ressaca, dos cliques e dos flashes, das roupas cedidas por estilistas e dos retuítes. Mas, acima de tudo, do muito e do pouco que tudo isso importa.
“Como passa rápido a tarde limpando taças de champanhe”, canta em Sober II (Medodrama), e nessa frase parece encapsular perfeitamente do que fala quando não consegue parar de falar. O tempo voou, e agora pode tomar champanhe, mas parece que sempre será daquelas pessoas que limpam suas próprias taças.
É a melhor amiga de Taylor Swift. A irmã responsável de Miley Cyrus. A filha problemática de Kate Bush. A prima cínica de Lana Del Rey
Lorde é a melhor amiga de Taylor Swift. A irmã responsável de Miley Cyrus. A filha problemática de Kate Bush. A prima cínica de Lana Del Rey. Lorde é uma personagem de Ghost World injetada na cultura de massa, mas não para destruí-la nem para que vejamos como o sucesso a destrói, e sim para contar às garotas e aos garotos de sua idade o que é tudo isso por que tanto anseiam numa linguagem que também seus pais conseguem entender. Ela é a forma que o século XXI encontrou para fabricar um Kurt Cobain. Mas se Cobain pertencia a uma geração que menosprezava o sucesso a partir do cinismo e da insegurança, Lorde pertence a uma muito mais segura de si mesma, uma de pessoas que acreditam que o sucesso não vai mudá-las, e que elas sim podem mudar o que entendemos por sucesso. Por isso, Melodrama é o equivalente contemporâneo e inteligente daqueles segundos discos nos quais os músicos buscavam a empatia do ouvinte narrando como era chato sair para passear e como tinham ficado frios seus encontros sexuais. No lugar disso, Lorde registra sua entrada nesse universo com naturalidade e senso de humor, o que lhe permite até continuar usando em muitas de suas canções a primeira pessoa do plural sem que pareça que ela esteja rindo de nós.
Em entrevista recente ao The New York Times a garota contou que quase ninguém a reconhece na rua e que, quando está num lugar público e nota que alguém percebeu quem ela é, volta-se para essa pessoa, leva o indicador aos lábios e sussurra “shhhh”. Normalmente funciona, e a outra pessoa fica sem ação. Enquanto seus coetâneos tentam se conectar com seu público fingindo que não têm segredos para ele, Lorde conquistou toda uma geração (e parte da anterior) convencendo-a de que juntos guardam um segredo.
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