Diário visual de Vera e Victoria, duas meninas apaixonadas
Imagens das jovens, uma delas transexual, compõem poema de amor em um livro e uma exposição
“O dia em que Vera beijou Victoria pela primeira vez confessou que era transexual. Foi em um parque. Não mudou nada. Durante os quatro anos que passaram juntas elas se amaram como nunca tinham amado alguém”. Naqueles anos, aos que se refere a apresentação do livro Vera y Victoria (Vera e Victoria), a fotógrafa Mar Sáez conviveu com elas elaborando um diário visual do universo íntimo das duas jovens de Elche, de cerca de vinte anos. O resultado é um poema em imagens sobre a relação de duas pessoas apaixonadas, sem adjetivos ou condicionamentos.
“Que importa se uma é transexual ou vegana, por exemplo, e a outra não, se o que realmente importa é o amor entre elas, o que acaba se tornando a mensagem do livro, uma mensagem com a qual todo mundo pode sentir empatia. Porque todas as outras coisas não deixam de ser ou acabam sendo ingredientes tangenciais”, explica a fotógrafa e psicóloga, ex-correspondente de imprensa na Mauritânia, horas antes da abertura, na terça-feira, de sua exposição com uma seleção de fotos do casal e do lançamento do livro que destila a vida delas na livraria Railowsky, dentro do festival Photon de Valência.
“Eu tive a grande sorte de que elas me abrissem as portas de sua intimidade e graças à generosidade delas pude conviver três anos com ambas, na casa delas, na minha, por aí... O quarto ano serviu para procurar uma editora que publicasse o livro”, acrescenta Mar Sáez.
E há alguns meses conseguiu que uma prestigiosa editora francesa especializada em fotografia, a Éditions André Frère, o publicasse. A jovem artista murciana, de 34 anos, expôs suas imagens na última edição do festival de fotografia de Arles e lá chamou a atenção da editora. O livro foi publicado com um texto sobre o amor redigido pela escritora Lara Moreno, autora de romances como Por si se Va la Luz (Caso a Luz se Vá) e Piel de Lobo (Pele de Lobo), e traduzido em diferentes edições ao para o francês, o espanhol e o inglês.
O livro e a exposição despertaram interesse na França, diz Mar Sáez, que viajou para cidades como Paris ou Marselha para lançá-lo. Depois de Valência, onde as imagens estarão em exibição até 1º de junho, continuam seu périplo pela Espanha em um projeto artístico que combina a beleza das fotografias do jovem casal com a defesa sem preconceitos do amor e dos relacionamentos.
A semente da iniciativa remonta ao estágio de Mar Sáez durante a universidade. “Estudei Psicologia e Comunicação Audiovisual em Valência e também estudei com uma bolsa de estudos Sêneca na universidade Juan Carlos I, em Madri, e tinha sempre em mente o tema da identidade. Fiz o estágio final de Psicologia num consultório de sexologia: terapia de casais, transexuais, processos de hormonização... Lá, combinando Psicologia e Fotografia, descobri a problemática e conheci jovens trans, alguns ativistas como Vera”, diz a fotógrafa.
Vera se sentia mulher desde a infância, mas só disse isso à família aos 18 anos. A partir de então deixou de se chamar Bernardo para adotar seu nome atual.
O projeto inicial pretendia abordar a vida de uma jovem transexual. “Pareceu ótimo para ela, porque o via como uma ferramenta de sensibilização. Infelizmente, Vera ainda sofre situações desconfortáveis por ser trans. Ela me perguntou se poderia ir com sua parceira e Victoria começou a vir. Também falou sobre isso a um amigo trans, Gabriel, que adorou o projeto, e eu pensei fazer um retrato dos jovens que querem dar o passo, e também querem contar, e começam os trâmites para tomar hormônios...”, diz a fotógrafa, que trabalhou como jornalista na imprensa escrita durante seis anos. Trabalhou no jornal La Razón como redatora, mas foi se especializando cada vez mais em fotografia participando de cursos com profissionais como Alberto García Álix e José Manuel Navia. Agora ela se dedica inteiramente à fotografia e está totalmente envolvida em seu novo projeto, A los que Viajan (Aos que Viajam), que apresentará na sexta-feira no Festival Imaginària de Castellón, com imagens obtidas em viagens colaborativas com desconhecidos, em plataformas como Bla Bla Car.
Mas antes de dar essa nova guinada, Mar Sáez perfilou seu trabalho anterior com transexuais, que buscava retratar a transição de mulher para homem e de homem para mulher, até fixar seus contornos definitivamente. Tornou-se independente de Gabriel e se lançou ao projeto que retratava o amor entre Vera e Victoria.
Ambas acompanharam a fotógrafa em algumas de suas apresentações, mas não participarão da que acontece nesta terça-feira em Valência. “Elas me apoiam. Ganhei duas amigas, mesmo que não estejam mais juntas”, comenta Mar Sáez.
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