‘Narcoviolência’ atinge novo pico de crueldade no México: corpos jogados de aviões
A luta pelo poder no cartel de Sinaloa escancara a escalada de violência de uma nova geração, semelhante à dos cartéis de Cali e Medellín
A cena poderia ser a sequência de qualquer série sobre narcotraficantes, mas mais uma vez, quando todos os limites da brutalidade pareciam ultrapassados, no México a realidade consegue novamente superar a ficção. Um corpo foi encontrado na quarta-feira, dia 12 de abril, depois de supostamente ter sido atirado de um pequeno avião em Eldorado, localidade a 50 quilômetros de Culiacán, a capital do Estado de Sinaloa, onde o cartel da região trava uma batalha intensa depois da extradição para os Estados Unidos de seu líder, Joaquín Guzmán Loera, El Chapo Guzmán.
O fato aconteceu na madrugada da quarta-feira e o corpo foi encontrado pela manhã, em torno das 6h30, completamente desfigurado, no teto de uma clínica. Segundo apontam vários veículos locais, o homem, que ainda não foi identificado devido ao estado em que seu corpo se encontra, vestia uma camiseta vermelha, meias cinzas e não usava calças. Alguns veículos afirmam também que horas depois outro corpo foi encontrado, também destruído, enquanto outras informações dão conta de que se tratavam de mais dois corpos, que foram recuperados por um grupo armado da região.
Nenhuma fonte oficial confirmou até agora que o corpo tivesse sido jogado de um avião, mas os conhecedores do terreno e da guerra que se abriu no cartel de Sinaloa com a ausência do Chapo afirmam que isso confirma as práticas que se vinham especulando há um bom tempo. O terror como mensagem. “Não tenho qualquer dúvida de que foi atirado de um avião. A única coisa que não sabemos é se foi jogado vivo ou já morto”, afirma o jornalista de Río Doce Javier Valdez, um dos repórteres que mais escreveu sobre o tráfico na região. Valdez considera que a escalada de violência chegou a níveis semelhantes aos de 2008, quando os Beltrán Leyva, a família de Guzmán e El Mayo Zambada disputavam o poder. Não é só a brutalidade, mas também o clima em Sinaloa: “É tudo confuso, a paranoia, o não sair de casa, a falta de autoridade por cumplicidade ou omissão... A única diferença é que agora a violência se deslocou para as zonas rurais de Culiancán, não para a própria cidade como na época, quando se transformou em um necrotério”.
A violência voltou a enfurecer Sinaloa depois da extradição de El Chapo, no início do ano. Nos dois primeiros meses de 2017 tinham sido registrados mais de 230 homicídios, um número que analistas da região consideram que já duplicou. O aumento da violência foi acompanhado de um recrudescimento das formas como se mata. “Temos uma geração mais violenta de traficantes. Já não basta matar, é preciso mostrar o corpo”, afirma Valdez. Martín Barrón, do Instituto Nacional de Ciências Penais, concorda —“é uma profissionalização da arte de matar”— e compara com os atos sanguinários dos anos oitenta e noventa dos cartéis colombianos de Cali e Medellín, nos quais surgiram os paramilitares e a guerrilha das FARC. “Isso também evidencia os vínculos e a relação que ainda existe entre traficantes colombianos e mexicanos”, acrescenta Barrón.
A extradição de El Chapo para os Estados Unidos abriu uma guerra pelo poder no cartel de Sinaloa, que Guzmán Loera controlava de onde estivesse. Uma das facções que tenta tirar a liderança da organização criminosa dos familiares de El Chapo é a de Dámaso López, que domina exatamente a região em que foi encontrado o corpo atirado do avião. Antes aliado de Guzmán Loera, López, que já foi policial ministerial, cresceu dentro do cartel depois de ser um dos artífices da primeira fuga de El Chapo.
A falta de liderança, no entanto, não acaba com o mercado. Apesar das disputas internas, lembra Martín Barrón, o cartel de Sinaloa continua passando por um momento próspero: “Mais de 60% da heroína que circula pelos Estados Unidos é comercializada por eles e, no caso das drogas sintéticas, a porcentagem é de 30% ou 40%. Há alguma coisa aí que funciona para eles”.
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