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Chefe de campanha de Trump escondeu que já trabalhou para a Rússia

O lobista Paul Manafort foi contratado por um empresário próximo a Putin em troca de 10 milhões de dólares por ano

Jan Martínez Ahrens
Paul Manafort em um evento eleitoral em abril de 2016.
Paul Manafort em um evento eleitoral em abril de 2016.AFP
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A questão russa não dá descanso a Donald Trump. No exato momento em que o FBI confirmou que abriu investigação para determinar se o Kremlin estava associado à equipe do multimilionário para derrotar Hillary Clinton, revelou-se que seu antigo chefe de campanha, o lobista Paul Manafort, foi contratado por uma pessoa do círculo de Vladimir Putin para promover os interesses de seu Governo nos Estados Unidos. A revelação desmonta a defesa de Manafort, que tinha garantido que jamais trabalhara para os russos, e estreita o cerco sobre o presidente norte-americano.

Manafort é o elo mais fraco de Trump. Lobista bem conhecido em Washington, em sua carteira de clientes figuraram ditadores como Mobutu Sese Seko e o filipino Ferdinando Marcos. Também trabalhou em 1976 na campanha para nomear Gerald Ford no lugar de Ronald Reagan. Sua proximidade com o multimilionário vem de longe e nas últimas eleições esteve na primeira fila de combate, primeiro como assessor pessoal de Trump, depois como articulador de sua vitória na convenção republicana e finalmente como chefe de campanha. Um cargo que teve de abandonar em agosto, dois meses depois de assumi-lo, quando se descobriu que teria recebido 12,7 milhões de dólares de um partido pró-russo na Ucrânia.

Manafort negou veementemente e rechaçou qualquer vínculo com o Kremlin e sua área de influência. Mas no momento em que o escândalo do ataque hacker russo à sede do Partido Democrata arrefecia, Trump o fulminou sem pestanejar. Sua manobra, porém, não conseguiu dissipar as dúvidas e seu nome ficou desde então ligado à constelação de assessores do multimilionário tocados pela mão de Putin. Um fato que a Casa Branca sempre tentou minimizar. “Desempenhou um papel muito limitado e em um espaço de tempo muito curto”, disse o porta-voz da presidência, Sean Spicer.

Agora, uma investigação da agência AP revelou que Manafort realmente esteve a serviço dos interesses do Kremlin. Entre 2005 e 2009 foi contratado pelo empresário russo Oleg Deripaska. Homem de confiança máxima de Putin, o magnata do alumínio tem um negócio com mais de 200.000 funcionários. O contrato, de 10 milhões de dólares anuais, visava “influir na política, nos negócios e na mídia dos Estados Unidos” para beneficiar o Governo russo.

A revelação derruba a defesa de Manafort e abre caminho para novas investigações. Há meses, o lobista é alvo de ataques por sua proximidade com o Kremlin. Várias vezes negou ter mantido qualquer tipo de contato. Mas, descoberto seu polpudo contrato com o círculo mais próximo ao presidente russo, não lhe restou saída além de admitir a relação. “Trabalhei para Oleg Deripaska há quase uma década, representando-o em negócios e assuntos pessoais em países onde tinha investimentos. Mas não defendi nenhum interesse político russo”, afirmou.

Suas palavras chegam tarde. A descoberta deste vínculo aprofunda a suspeita de que a influência russa em Washington é maior do que até o momento se sabia. Manafort, como antes fez o conselheiro demitido de Segurança Nacional, Michael Flynn, e o procurador geral Jeff Sessions, mentiu sobre suas relações com a Rússia. Uma ocultação que joga contra a credibilidade do presidente e suas constantes apelações de que é vítima de uma “caça às bruxas”.

Apesar de em nenhum momento ter-se comprovado a relação com Trump, os serviços de inteligência consideram provado que a campanha de hackeamento e vazamento realizada durante as eleições pelo Governo russo teve por finalidade minar os apoios a Hillary Clinton e favorecer o republicano. Desde então, os questionamentos buscam conhecer o peso real dos satélites de Putin no círculo mais próximo ao multimilionário. Manafort é um deles. No Comitê de Inteligência ao qual o diretor do FBI compareceu na segunda-feira, seu nome foi citado 28 vezes. No futuro, o será mais vezes ainda.

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