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Primeiro orçamento de Trump marca um giro radical nos EUA

Aumento do gasto militar e de segurança se apoia em corte generalizado nos demais departamentos

Amanda Mars
Cópias do primeiro rascunho de orçamento de Trump
Cópias do primeiro rascunho de orçamento de TrumpMARK WILSON

Os Estados Unidos de Donald Trump se traduziram nesta quinta-feira pela primeira vez em dólares, em dinheiro vivo, e mostraram uma mudança radical nas prioridades da primeira potência mundial. A Casa Branca lançou uma primeira proposta de orçamento para 2018 que dá impulso a um rearmamento multimilionário, além de um reforço da segurança interna, a custo de duros cortes em praticamente todos os departamentos, especialmente os de política ambiental e de ajuda externa. Fazer política tem mais a ver com administrar recursos do que fazer discursos, e o pensamento trumpista acaba de se cristalizar em números reveladores.

A coletiva de imprensa diária do porta-voz das Nações Unidas começou neste mesmo dia falando do esboço do orçamento que a equipe de Trump acaba de tornar público. Quando uma potência como os Estados Unidos coloca um dólar a mais ou a menos em suas contas, o eco é notado bem além de suas fronteiras. Quando se fala de cortar até um terço do que destina à ajuda externa, o tremor chega a meio mundo e acende os alarmes da ONU, que na semana passada advertiu que o mundo sofria a maior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial.

Perguntaram sobre isso ao diretor do Escritório do Orçamento de Trump, Mick Mulvaney, e ele foi contundente: “O presidente disse que se iria gastar menos dinheiro com as pessoas de fora e mais nas de casa”, afirmou em coletiva de imprensa, e enfatizou que esses fundos seriam cortados.

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A Casa Branca apresentou um primeiro esboço do orçamento federal para o exercício fiscal de 2018, que começa em 1 de outubro e serviu para confirmar a guinada nacionalista e militarista do novo presidente republicano. A proposta, que terá de ser discutida pelo Congresso, aborda aquelas dotações em que há margem de manobra, ou seja, não altera os gastos sociais protegidos por lei (como o gasto com aposentadorias e a cobertura de saúde de idosos e pobres), mas já esboça uma longa lista de perdedores.

De modo geral, o orçamento é enxugado em 1,2% em relação ao projetado por Barack Obama, apesar da fase expansiva da economia, e o bolo é repartido de forma muito diferente. A Defesa consegue o maior incremento de recursos da última década — 52, 3 bilhões de dólares (162,2 bilhões de reais), ou 10% —, com a ameaça do terrorismo do Estado Islâmico como argumento, e a Segurança Interna obtém um reforço de 2,8%. “Temos que voltar a ganhar guerras”, disse Trump há duas semanas. Ao mesmo tempo, cai vertiginosamente tudo o destinado à Agência de Proteção ao Meio-Ambiente (31%), ao Departamento de Estado, que é o que coordena os programas de ajuda (29%), do Emprego (20,7%) e Transporte (12%).

Se o arsenal nuclear engorda em 2 bilhões de dólares (6,2 bilhões de reais), o financiamento federal para a televisão e a rádio pública nacional, que o presidente Lyndon B. Johnson impulsionou nos anos 60, desaparece por completo. Se o financiamento ao desenvolvimento baixa 28%, o fundo para os veteranos do Exército melhora 6%.

Difícil negociação

“Um orçamento que ponha a América em primeiro lugar deve fazer da segurança sua prioridade número 1, sem segurança não pode haver prosperidade”, disse Trump em referência a um projeto orçamentário que tinha por título os lemas eleitorais do empresário nova-iorquino América Primeiro. Um esboço do orçamento para fazer com que a América seja grande de novo. E praticamente tudo o que essas páginas englobam, desde o rearmamento militar até uma redução reaganiana do Governo, saiu do discurso trumpista, incluindo o famoso muro na fronteira com o México, uma promessa estelar e incendiária da campanha, que também aparece nas contas.

O orçamento desta quinta-feira, contudo, é somente o começo. Trump apresenta uma proposta ao Congresso e agora se abre um período de duras negociações, apesar da maioria republicana na Câmara. E o motivo não é só a batalha que já na quarta-feira os democratas prometeram travar — tacham o orçamento de “devastador” para a classe média —, mas também os desentendimentos com os próprios republicanos, já que muitos cortes são tremendamente impopulares nos Estados que eles representam. Um bom sinal do que paira sobre Washington é que o orçamento apresentado por Obama para 2017 não chegou a ser aprovado.

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