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A vida começa a voltar às ruas de Vitória

Pessoas voltam a ocupar praias e bares de Vitória e centenas participam de passeata. Paralisação dos PMs continua

Pessoas voltam a ocupar a praia em Vila Velha, neste domingo.
Pessoas voltam a ocupar a praia em Vila Velha, neste domingo.PAULO WHITAKER (REUTERS)

As ruas da Grande Vitória, no Estado do Espírito Santo, voltaram a ficar mais movimentas, neste domingo, após nove dias de uma paralisação da Polícia Militar que gerou uma onda de violência e insegurança. Desde o início da greve, 144 mortes foram registradas no estado capixaba. Apenas 250 policiais fardados estavam patrulhando as ruas da região metropolitana de Vitória nesta manhã e grande parte dos moradores ainda se sentia insegura.

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Ainda assim, alguns ônibus voltaram a circular das 7h às 17h, as praias e bares voltaram a ficar ocupados e a Federação do Comércio sugeriu que os comerciantes reabram os negócios nesta segunda-feira. Segundo um comunicado da entidade, os empresários devem voltar ao trabalho "munidos de coragem, guarnecidos que estarão pelas forças federais, preparadas para repelirem toda a sorte de desordem praticadas por pessoas irresponsáveis". Algumas repartições públicas já anunciaram o retorna às atividades nesta segunda e a Secretaria de Estado da Educação (Sedu) também informou a volta às aulas nas escolas da rede estadual.

"Comecei a sair neste fim de semana. Hoje tive coragem de vir à praia, mas ainda estou com medo porque você não vê policiais nas ruas. Mas acho que estava todo mundo tão cansado de ficar em casa trancado que, quando chegou o fim de semana, as pessoas se animaram a sair", conta Brunella Pivetta, uma publicitária de 27 anos. "Estamos tentando voltar para a normalidade, mas ainda estamos com medo".

Outras centenas de pessoas também se animaram a sair de casa neste domingo para, vestidos de branco e segurando balões, fazer uma caminhada na orla da praia de Camburi, em Vitória, e pedir paz no Espírito Santo. "Queremos que parem essa guerra. Estamos trancadas em casa há dias. Algum lado desse cabo de guerra entre o PMs e o Governo precisa ceder", afirma a aposentada Anceley Gonçalves, que veio do município de Serra, na Grande Vitória, para participar da manifestação que foi promovida por lideranças locais e igrejas. A irmã dela, Vânia Gonçalves, disse estar esgotada com o caos desencadeado no Estado. "Se o único problema é o salário dos PMs, aumentem o imposto que estou disposta a pagar pela minha liberdade", sugeriu.

Segurando um cartaz que pedia mais segurança nas periferias, Alessandra Toledo explicava que foi ao ato para pedir medidas ao longo prazo. "Uma passeata com discurso de paz pode servir apenas de palanque político. Levamos nossa preocupação com políticas de inclusão que serão capazes de trazer a paz para todos. Daqueles que enchem o calçadão e os que vivem na periferia. Precisamos de políticas inclusivas para um estado seguro de fato. Não queremos apenas um cessar de violência nessa semana”, explicou. Para ela, a crise instaurada na segurança pública no Estado não aconteceu da noite para o dia. “A culpa é, em grande parte, do Estado, que não teve a capacidade de negociar com a PM antes que uma medida radical, como a paralisação, fosse tomada”, afirmou.

O prefeito da cidade de Vitória, Luciano Rezende (PPS), também participou da marcha e estimou que cerca de 5.000 pessoas estiveram presentes na caminhada na manhã desta segunda. “Os serviços estão voltando ao normal, a prefeitura fazendo sua ação, a guarda Nacional, o Exército, as guardas municipais trabalhando. Nós vamos retomando a rotina, basta de medo paralisante, nós estamos na rua para mostrar isso”, afirmou o prefeito.

Alguns policiais militares foram vistos no ato em Vitória, já que, desde a tarde de sábado, alguns agentes retornaram às ruas, atendendo ao chamado do comando geral. A PM. Com o apoio do Exército, helicópteros foram usados para retirar alguns PMs do Batalhão de Missões Especiais, para fazer o policiamento ostensivo nas ruas da Grande Vitória já que a entrada do quartel está bloqueada pelas mulheres.

Greve continua

Segundo a Secretaria de Segurança Pública (Sesp), 1.236 policiais atenderam ao chamado operacional, neste domingo, e se apresentaram para trabalhar no Estado capixaba. Grande parte dos agentes estão atuando a pé. O efetivo no Estado é de 10.000 policiais, mas apenas 2.000 saem de forma escalonada às ruas diariamente. Nos últimos dias, mais de 3.000 homens das Forças Armadas e da Força Nacional foram convocados para reforçar a segurança no Estado.

Mesmo com o retorno de alguns PMs às ruas, as mulheres dos agentes continuam em frente a batalhões da Grande Vitória e a greve não foi finalizada. Elas afirmam que só deixarão os portões dos quartéis quando suas reivindicações sejam atendidas. O movimento pede principalmente um reajuste de 43% nos salários dos policiais.

A psicóloga Lívia Nunes, de 25 anos, conta que o restaurante onde trabalha voltou a abrir as portas na última sexta-feira, na praia do Canto, também em Vitória. "Mas contrataram seguranças privados para ficar na porta", explica. Já Neuza de Jesus, que tem uma barraquinha de açaí na praia da ilha do Boi, só teve coragem de sair de casa e voltar a trabalhar neste domingo. "Ainda vim depois de meio dia porque queria estar segura que estava tudo tranquilo por aqui. Nessa semana morreu gente demais".

Investigações de grupos de extermínio

Na tarde deste domingo, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou que o governo do estado criará um grupo especial de investigação para encontrar os responsáveis pelos homicídios recentes, bem como averiguar a suspeita de que teriam sido cometidos assassinatos por grupos de extermínio com a participação de policiais militares.

O secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, André Garcia, já tinha afirmado na última sexta-feira que a possibilidade de ação de grupos de extermínio não estava descartada. "Há um grupo investigando exatamente esses crimes que aconteceram nos últimos dias. E, se houver a participação de policiais, eles deixam de ser policiais e passam à categoria de bandidos. Serão tratados como tais", disse em coletiva na sexta. 

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