_
_
_
_
_

China inflige a primeira derrota diplomática a Donald Trump

Presidente havia ameaçado romper política que reconhece Taiwan como parte do território chinês

Donald Trump e  Xi Jinping.
Donald Trump e Xi Jinping.EFE
Mais informações
China se projeta como baluarte da ordem mundial em “tempos incertos”
China desembarca em Davos disposta a consolidar seu poder frente a Trump
Grandes potências econômicas ameaçam se unir para isolar Trump
Trump abre outro embate com China ao questionar a política sobre Taiwan

A China infligiu a primeira derrota diplomática a Donald Trump. Em uma longa conversa telefônica com o presidente chinês, Xi Jinping, o norte-americano se comprometeu a manter a política de “uma só China”, que reconhece Taiwan como parte do território chinês. Trata-se de um recuo completo de declarações anteriores do republicano.

As novas garantias de Trump sobre um assunto que o país asiático considerava “inegociável” reduzem substancialmente o nível de confronto dialético mantido desde antes da eleição do magnata e evitam a que poderia ter sido uma séria disputa entre as duas maiores economias mundiais.

A conversa, que tratou de muitos temas, aconteceu na noite de quinta-feira (hora de Washington e Brasília; manhã de sexta em Pequim), segundo nota da Casa Branca. O texto apresenta um tom excepcionalmente conciliatório – muito diferente da linguagem combativa que Trump empregou em ocasiões anteriores para se referir à China – e relata que o presidente norte-americano manifestou, “a pedido do presidente chinês”, seu apoio à política favorável à unificação chinesa.

O gabinete de imprensa da Casa Branca, que nos últimos dias solta comunicados bastante sucintos e diretos sobre as conversas de Trump com líderes internacionais, desta vez chegou a ressaltar o tom “extremamente cordial” da conversa.

Não ficou claro se a China precisou oferecer concessões aos EUA em troca do recuo de Trump.

Depois da sua vitória na eleição presidencial de novembro, o republicano irritou Pequim ao fazer uma inédita ligação telefônica para a presidenta taiwanesa, Tsai Ing-wen. Dias depois, chegou a sugerir numa entrevista ao Wall Street Journal que só manteria a política de “Uma Só China” se Pequim fizesse concessões em outras áreas.

Desde que os Estados Unidos e a República Popular da China (comunista) normalizaram suas relações diplomáticas, na década de 1970, os EUA reconhecem o regime de Pequim como o Governo legítimo da China inteira – incluindo a ilha rebelde de Taiwan, com a qual Washington não mantém relações diplomáticas.

Para a China, não há assunto mais sensível que Taiwan, já que Pequim considera essa ilha como parte inalienável do seu território. Os dirigentes chineses deixaram isso claro em declarações públicas e também em comunicações privadas com a recém-encerrada Administração de Barack Obama e com a nova equipe de Governo dos EUA.

Depois que Trump reiterou suas ameaças de aproximação diplomática com Taiwan, as relações entre a nova Casa Branca e Pequim ficaram virtualmente congeladas. Desde sua posse, o presidente norte-americano já havia conversado com uma dúzia e meia de líderes, mas até esta quinta não conseguira se comunicar com Xi. Eles haviam conversado apenas uma vez, em novembro, antes da conversa de Trump com Tsai.

Da parte de Pequim, os sinais eram claros: a menos que houvesse um compromisso explícito de respeitar a política de “Uma Só China”, a relação bilateral seria prejudicada. “Uma Só China é a base inquebrável e inegociável das relações EUA-China. Qualquer outra interação bilateral está sujeita a isso”, diz Li Yongcheng, da Universidade de Estudos Estrangeiros em Pequim.

Desde sua posse, o novo Governo norte-americano vinha emitindo sinais conciliatórios e atenuando sua retórica. Na semana passada, os assessores de segurança nacional de ambos os países, Yang Jiechi e Michael Flynn, mantiveram um diálogo, e na quinta-feira a Casa Branca revelou que Trump enviara uma carta a Xi com felicitações pelo ano-novo chinês, em que aproveitava para agradecer os cumprimentos de Xi por sua posse.

Uma vez obtida a declaração de Trump, o tom de Pequim também mudou. No comunicado sobre a conversa divulgado pelo Governo chinês, Xi elogiou a “ênfase” do norte-americano em sua adesão à política de unificação chinesa.

“Certamente há uma maneira de negociar com a China, mas as ameaças relacionadas aos seus interesses fundamentais são contraproducentes desde o primeiro momento”, disse James Zimmerman, ex-presidente da Câmara de Comércio dos EUA na China, à Reuters. “O resultado é que Trump acaba de confirmar ao mundo que é um tigre de papel, um zhi laohu: alguém que parece ameaçador, mas é totalmente ineficaz e incapaz de suportar um desafio.”

As duas partes parecem sugerir que a partir de agora as relações irão se normalizar e que ambos os Governos retomarão sua colaboração. A China, indica seu Governo, está disposta a colaborar em áreas como “comércio, investimentos e relações internacionais”. A Casa Branca, por sua vez, espera “novas conversas muito bem sucedidas”.

O momento escolhido para a conversa entre os dois líderes não foi aleatório. O telefonema ocorreu horas antes da chegada a Washington do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, que deseja solidificar os laços com o novo Governo norte-americano para fazer frente às ambições expansionistas da China, seu vizinho e grande rival regional. A visita de Abe, de três dias, incluirá uma partida de golfe com Trump no clube privado do presidente na Flórida.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_