Oposição venezuelana dá por encerrado o diálogo com o Governo
A Mesa da Unidade Democrática abandona definitivamente as conversações
Em um último esforço para salvar o processo de diálogo promovido pelo Vaticano entre o Governo e a oposição venezuelana, os mediadores internacionais — que incluem o Secretário-Geral cessante da Unasul, o enviado especial do Papa e três ex-presidentes ibero-americanos — produziram um documento de pontos mínimos para o consenso entre as partes. Com o documento de trabalho em circulação desde a semana passada, tentou-se cristalizar alguns acordos concretos na mesa de diálogo, que entre suas muito espaçadas reuniões não conseguiu muito mais do que proferir boas intenções.
No entanto, como era de se esperar tendo em vista as declarações dadas horas antes por vários porta-vozes da oposição, esta, congregada na Mesa da Unidade Democrática (MUD), rejeitou na quinta-feira por meio de um comunicado o documento dos mediadores e afirmou que “a experiência de diálogo desenvolvida na Venezuela de 30 de outubro a 6 dezembro de 2016 é um capítulo encerrado que não será reaberto”.
A posição adotada pela MUD bloqueia a possibilidade de alcançar uma solução negociada para a crise política e socioeconômica que a Venezuela experimenta, com a governabilidade reduzida ao mínimo, uma escassez crônica de produtos de consumo básico e a maior taxa de inflação do mundo, ingredientes que, somados, fazem temer uma explosão social iminente.
A aliança de oposição anunciou que está trabalhando num documento alternativo para retomar o diálogo em condições mais favoráveis. “O fato de que estejamos dispostos a elaborar e debater este documento alternativo com os facilitadores não significa de modo algum que vamos virar a página”, enfatiza o comunicado, “pelo contrário: a confiabilidade de qualquer mecanismo futuro de verificação e cumprimento de acordos se baseia em conseguir que os acordos anteriores sejam honrados”.
A oposição não participou da última reunião agendada da mesa de diálogo, em 13 de janeiro. Justificou a ausência pelo descumprimento por parte do Governo dos acordos obtidos até agora.
Mas além do descumprimento dos acordos, o documento dos mediadores continha algumas propostas que o líder do partido Un Nuevo Tiempo — um dos mais propensos ao diálogo — Stalin González, classificou publicamente como “inconstitucionais”.
Houve uma especial resistência entre os representantes da MUD ao pedido dos mediadores para que fosse acordada na mesa de diálogo a aprovação, pela Assembleia Nacional — controlada pela oposição desde janeiro de 2016 — a dívida externa contraída pelo Governo. Sabe-se que alguns dos principais credores internacionais do Governo de Nicolás Maduro, especialmente a China, estão preocupados com o que poderia acontecer com algumas das obrigações financeiras da Venezuela numa eventual mudança política e, portanto, estão relutantes em desembolsar novos recursos.
Também foi revelado que a oposição solicitou a presença de facilitadores diferentes dos atuais. Entre suas sugestões estariam representantes da Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Embora ainda não tenha havido uma reação oficial do Governo, um dos negociadores deste, Roy Chaderton, embaixador junto à OEA, adiantou que “os mediadores propostos pela oposição não são uma opção viável”. “O Governo não os aceitaria porque não poderia confiar neles, não sei se querem contribuir ou propor ideias que impulsionem mais o conflito político”, disse o diplomata numa declaração feita na quarta-feira.
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