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MEDO À LIBERDADE
Coluna
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Morrer por nada

Oito anos depois da crise de 2008, não há modelo, não há solução, não há culpados e ninguém sabe para onde ir

Donald Trump, presidente eleito dos EUA.
Donald Trump, presidente eleito dos EUA. EFE

Tenho muita pena dos governantes atuais. Velhos tempos aqueles em que ser um bom líder era sinônimo de boa gestão econômica. Velhos tempos aqueles em que os políticos ganhavam nas urnas para que depois o carniceiro das finanças de plantão oferecesse o sacrifício da sociedade no altar do FMI ou do Banco Mundial, segundo o princípio da política moderna que dita que saudável é a economia e doente, a população. Agora, para além do som e da fúria, do insulto e das contas pendentes que cada um temos com nosso país, onde está o grande bolsão da desesperança? Em todo o mundo, no mesmo lugar, nas pessoas castigadas porque ninguém quer confessar que o modelo que nasceu em Bretton Woods em 1944 já morreu.

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Ninguém quer confessar que o Estado de bem-estar —conquista sem precedentes na história da humanidade— era feito para países ricos, pouco povoados, e cujo principal êxito consiste em que alguém se aposente do trabalho aos 55 anos e ainda aspire a 30 anos de golfe e sexualidade plena. Mas simplesmente se tornou inviável. Além disso, à medida que se avançou em conquistar espaços e territórios de liberdade individual, o senso coletivo de responsabilidade —por exemplo, dar filhos à pátria— foi caindo. E assim deparamos com o fato de que os Estados têm muitas obrigações e pouca gente para cumpri-las.

Como se não fosse suficiente, nos metemos na maior revolução de todos os tempos em relação aos critérios de produção, ao mudar uma economia de coisas concretas, como pontes, estradas, aeroportos e trabalho, por uma economia de especulação financeira, colonização tecnológica e equilíbrio do terror baseado na quantidade de bombas nucleares fabricadas para despachar o resto do universo.

E assim fomos avançando até deparar com uma realidade: um Ocidente que não trabalha e um Oriente que monopoliza grande parte dos postos de trabalho. No meio, o papel ridículo e terrível dos governantes. Nesse sentido, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, leva uma grande vantagem já que, como se dedica ao cimento, seu conceito de política e de economia é muito realista. Por isso, choca tanto.

O Governo Trump vai parecer o regime absolutista de Maria Antonieta, formado por milionários que não compreendem as necessidades de quem está abaixo

No entanto, é uma pena que alguém bem-sucedido como ele — de “rei do tijolo” a conquistador da Casa Branca— não tenha tido mais curiosidade pelo equilíbrio humano. Seu Governo vai parecer o regime absolutista de Maria Antonieta, formado por milionários que não compreendem as necessidades de quem está abaixo e que se contentam em reproduzir aquela frase célebre, atribuída à Rainha da França, que acabou perdendo a cabeça: “Se têm fome, que comam brioches”. Apesar de que, pelo menos, Trump é realista, não como esses líderes que continuam com planos de austeridade selvagens, enquanto o mundo arde e eles queimam sua sociedade na pira de alguma ortodoxia econômica desaparecida.

A crise de 2008 foi desencadeada porque os políticos chegaram a níveis de cobiça, roubo e falta de vergonha similares aos de Sodoma e Gomorra. Desde então, ninguém foi capaz de enfrentar a realidade de que o modelo econômico ao qual estávamos acostumados chegou ao fim. Agora os governantes —sejam os mexicanos com seu “gasolinazo”, os espanhóis que apertam os mais frágeis com o pagamento dos remédios ou os que prometem mais austeridade para cumprir as metas econômicas da União Europeia— estão servindo ao passado, descuidando do presente e colocando em ação uma gigantesca revolução social que não será primavera, mas outono ou incêndio de verão que queimará tudo.

Oito anos depois da crise não há modelo, não há solução, não há culpados e ninguém sabe para onde ir. Enquanto isso, acabado o Welfare State, a mensagem não é só que o mundo será muito pior para nossos filhos, mas a constatação de que o que os ensinamos não teve muita serventia. Desse ponto de vista, o aventureirismo político, a loucura e a repetição das cenas de O grande ditador, de Chaplin, têm mais sentido do que nunca. A ficção cinematográfica tornou-se realidade e os únicos que perdem são os cinemas de bairro que cobram entrada para mostrar a seus espectadores que todos os seus sacrifícios não serviram de nada.

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