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Como fazer séries com fundo político na era Donald Trump

Algumas ficções introduziram mudanças de última hora para se adaptar à nova realidade

Claire Danes e Mandy Patinkin, na sexta temporada de 'Homeland'.
Natalia Marcos

A vitória de Donald Trump nas eleições passadas dos Estados Unidos pegou algumas séries no contrapé, principalmente aquelas que têm um fundo político ou que acompanham a realidade bem de perto. Enquanto algumas, como House of Cards e Veep, refletem mundos paralelos que não teriam motivos para serem afetados pelos acontecimentos políticos reais, outras foram atropeladas pela realidade, inclusive sendo obrigadas a introduzir mudanças.

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Uma combinação desses dois casos acontece na sexta temporada de Homeland, que estreia neste domingo nos Estados Unidos e no Brasil. A ação acontece em Nova York no período entre a eleição do novo presidente e sua posse, exatamente o momento que os Estados Unidos estão vivendo agora e que culminará em 20 de janeiro, quando Donald Trump tomar posse no cargo. No entanto, o mundo imaginado por Homeland é diferente do real. Talvez antecipando-se aos acontecimento, lá, uma mulher, senadora por Nova York (interpretada por Elizabeth Marvel), é a nova presidenta dos Estados Unidos. Apesar de a trama se concentrar na ameaça de um atentado terrorista na Big Apple — um dos motivos pelos quais sua estreia foi adiada para depois das eleições —, a nova presidenta terá bastante presença na história através das novas políticas e alianças que irá desenvolver.

Elizabeth Marvel e F. Murray Abraham, em 'Homeland'.
Elizabeth Marvel e F. Murray Abraham, em 'Homeland'.

Essa não é a primeira vez que Homeland tenta se aproximar o máximo possível da realidade. Na temporada passada, cuja ação se situava em Berlim, os personagens da série fizeram referência aos atentados de 13 de novembro de 2015 em Paris poucos dias depois do ocorrido. No caso da sexta temporada, o universo da séria transcorrerá, inevitavelmente, por uma via diferente da real, com uma presidenta, que, segundo descreveu Alex Gansa, um dos criadores da série, é “um pouco Hillary Clinton, um pouco Donald Trump e um pouco Bernie Sanders”. No entanto, os novos capítulos também se ajustaram à nova realidade, adaptando alguns detalhes sobre o desenrolar em uma produção que ainda está em fase de rodagem. Como confessaram seus criadores, inclusive compartilham consultores com a equipe de Trump. "Homeland se transformou em algo com mais camadas e mais significado do que o mero entretenimento. É uma crônica, em sentido poético, do mundo que estamos vivendo”, diz em entrevista ao USA Today Mandy Patinkin, que interpreta Saul Berenson na série.

Outras séries viram como a vitória de Trump alterava seus planos. Os roteiristas de The Good Fight, drama do mundo jurídico derivado de The Good Wife que a CBS vai estrear em sua plataforma online em 19 de fevereiro, confessaram que os resultados das últimas eleições norte-americanas os obrigaram a refazer seus roteiros. Segundo afirmaram Robert e Michelle King, criadores da série, em um recente encontro com a imprensa, The Good Fight será "não só anti-Trump, mas também um olhar sobre como os liberais estão reagindo”. "The Good Wife era realmente sobre os anos de Obama. Isso deu lugar a uma nova série”, diz Robert King. De fato, a protagonista de The Good Fight, Diane Lockhart, já era uma ferrenha defensora de Hillary Clinton em The Good Wife, algo que se manterá no spin off.

Christine Baranski e Cush Jumbo, protagonistas de 'The Good Fight'.
Christine Baranski e Cush Jumbo, protagonistas de 'The Good Fight'.

No caso de Scandal, a realidade obrigou os roteiristas a repensarem certas tramas dos novos capítulos, nesse caso por sua grande semelhança com a realidade. Como explicou em uma entrevista Shonda Rhimes, criadora da série, nos novos episódios queriam incluir uma linha de argumentos segundo a qual o governo russo tentava desestabilizar os Estados Unidos em uma eleição. “Tentamos estar cientes de tudo que acontece no lado conservador e no liberal, e depois tentamos extrapolar ao grau mais louco. Infelizmente, a realidade já está se extrapolando a seu grau mais louco", disse Rhimes. A grande semelhança com a realidade também levou a rede NBC a adiar a exibição de um episódio de Law & Order, em que um candidato à Presidência dos EUA inspirado em Donald Trump se vê em meio a um caso polêmico quando várias mulheres fazem acusações sexuais contra ele. O capítulo continua sem data prevista de exibição.

Também na comédia

A nova realidade não afetou apenas os dramas e suspenses políticos. Algumas comédias que brincam com os acontecimentos reais em suas tramas já refletiram, de uma forma ou de outra, a vitória de Trump em seus capítulos. South Park refez um episódio em questão de 24 horas para se ajustar à nova situação política pouco depois da confirmação da vitória do candidato republicano. Em Os Simpsons, os roteiristas pediram desculpas por terem previsto há 16 anos a Presidência de Trump. Já Black-ish, uma das comédias da moda nos Estados Unidos, e a qual gosta de entrar em temas polêmicos, lançou esta semana um capítulo em que, com humor, tratava da reação dos protagonistas, uma família negra de classe média, ante a vitória de Trump.

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