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Moana, a princesa feminista da Disney

O filme mergulha na cultura polinésia e alerta para a catástrofe ecológica provocada pelo esgotamento dos recursos marítimos

Vaiana encontra a Maui e obriga-lhe a subir a seu barco.
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Branca de Neve morde uma maçã e cai em um sono do qual só o beijo de um príncipe pode acordá-la. Assim como a Bela Adormecida, a quem a fada, como primeiro dom, havia presenteado com a beleza. No caso da Pequena Sereia, outra das princesas da Disney, quando segue seu próprio critério e vai contra o estabelecido, é castigada e perde a voz. Cinderela cala e limpa, até que um príncipe lhe traz um sapato de cristal de seu tamanho.

Moana não é dessa estirpe. Moana sobe sozinha num barco, salva um recife de corais e enfrenta uma tormenta aprendendo a navegar e encara, de remo na mão, um semideus, meio testosterona, meio vaidade, a quem exige que desfaça a injustiça que está trazendo desgraça para seu povo. Na boca de seus diretores John Musker e Ron Clements (autores de Aladdin e A pequena sereia), ela é “a heroína mais feminista da Disney” ou, como diz Osnat Shurer, a produtora, “uma protagonista com quem ela pode, finalmente, como mulher, se identificar”.

UM FILME COM OLHOS VOLTADOS PARA A LOJA DE PRESENTES

Moana, que demorou cinco anos para ser rodado, na montagem final inclui uma sequência que faz menção a outra produção Disney, Piratas do Caribe. O barco dos Kakamora, adoráveis piratas-cocos com maquiagem de guerra e aljava cheia de flechas de nácar, se divide em três para abordar a embarcação de Moana. Também tem uma pitada de humor, quase totalmente graças ao nonsense Hei Hei, um frango sem outra função além de apanhar, comer pedras e estar sempre à beira de morrer afogado. Hei Hei e os Kakamora, e de fato todos os personagens, têm versões de pelúcia, brinquedos e até 35 artigos promocionais disponíveis para venda antes mesmo da estreia.

A Disney se afasta das senhoritas desvalidas, dos papéis de gênero que muitos dizem – como Peggy Orenstein, com certa comoção, no The New York Times – ser modelos de conduta perniciosos para as meninas. Queriam fazer um filme com a Polinésia, e suas cores vivas, como pano de fundo, e viajaram por Taiti, Samoa e Fiji. Mergulharam em sua cultura até o menor dos detalhes – e se nota no resultado do filme – e conceberam uma história em torno de Mauí, uma divindade capaz de mudar de forma que, na cosmogonia local, fazia emergir ilhas pescando-as do fundo do mar assim como Prometeu, que roubou o fogo para dar de presente aos humanos. Ao voltar, porém, mudaram de ideia e submeteram tudo à prevalência de Moana: a filha do chefe da ilha de Motu Nui, cujos recursos naturais arrefecem e se esgotam, e que atende o chamado que sente por parte do mar para lembrar seu povo de que foram grandes navegantes.

Mauí, interpretado por Dwayne Johnson – todas as vozes são emprestadas de atores polinésios –, não é nem um simplório nem um abobalhado, mas faz as vezes de comparsa de Moana: dele dependerá a salvação da aldeia, paraíso tropical, em uma viagem que também servirá para que ela se volte para dentro e descubra quem é. “É a história de uma mulher empoderada”, diz Musker. Shurer acrescenta: “Nenhum príncipe encantado pode mostrar a você qual é sua própria voz”.

Mesmo com um argumento linear, vale a pena prestar atenção nos contos recitados pela avó, na dança dos ilhéus e até as texturas de vestidos, amuletos e no mar. A Disney recuperou a fórmula com que melhor sabe contar: uma fábula entre canções. A música fica por conta de Lin-Manuel Miranda, que, com seu musical Hamilton,ganhou os prêmios Tony e até o Pulitzer. Aos ritmos do Pacífico, como não poderia deixar de ser, soma-se essa vivacidade do pop atual com influências latinas. Miranda, que aos nove anos ficou fascinado pelo caranguejo Sebastião, pelo menos poderá se vingar compondo Shiny (Brilhante) para outro crustáceo, Tamatoa, que roubou o anzol mágico.

Não há romance e, apensar de os diretores não declararem o amor morto para o universo Disney, acreditam que os príncipes precisam ser repensados. “Precisamos refletir nosso tempo, tendemos a pensar que os filmes que fazemos são atemporais e que serão vistos da mesma forma no futuro, mas acabam marcados por sua época.” Com base nesse mesmo argumento, Shurer considera factível que, não demora muito, seja possível ver um filme Disney no qual pessoas do mesmo sexo estejam apaixonadas e mantenham uma relação. “Ninguém nos daria uma diretriz contrária ou nos deteria, desde que a história tivesse alma, humor e convidasse a refletir.”

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