O fim de uma era no tênis?
A perda de protagonismo de ícones como Federer e Nadal, entre outros veteranos, abre o debate no circuito masculino. Opinam Manolo Santana, Alex Corretja, Jordi Arrese e Xavi Budó
A psicologia evolutiva conclui que o ser humano é profundamente contraditório. Se durante um período prolongado não experimenta mudanças, anseia por elas; se, pelo contrário, percebe uma realidade muito sinuosa, deseja um cenário estável. Atualmente, o fã de tênis está a meio caminho entre o um e o outro. Meses atrás, não faz muito tempo, se perguntava quando chegaria a mudança de figurinhas, a saída de cena dos velhos ícones e a chegada definitiva dos melhores jovens. Agora, sente angústia ao olhar para as quadras e não ver Roger Federer e Rafael Nadal, os dois símbolos dourados da última década, ou bufa porque um jogador como o escocês Andy Murray, perto dos 30 anos e com apenas três Grand Slams no currículo, assumiu as rédeas do circuito masculino.
O debate está na rua, na imprensa, entre os torcedores. Também entre os profissionais e todos aqueles que fazem parte da família do tênis. Num intervalo muito curto muitas coisas aconteceram. Em 2016 Federer (35 anos) passou pela primeira vez por uma sala de cirurgia, e Nadal (30) também se viu forçado a frear em seco. Ao observar o ranking, é bastante estranho ver o suíço na 16ª. colocação e o espanhol na 8ª. Pela primeira vez em 15 anos, nenhum dos dois disputa o Torneio dos Campeões. Enquanto isso, Novak Djokovic (29) foi perdendo força, sem que ninguém saiba explicar ao certo por quê, e o mandato de Murray (29) encerra um período de 12 anos no qual o sérvio, Nadal e Federer estiveram sempre à frente.
Também se viu o progressivo desaparecimento de David Ferrer (34) do primeiro plano – um top-10 clássico, ele é agora apenas o 21º. do mundo – e a linha descendente do tcheco Tomas Berdych, 10º.. De modo que a pergunta paira no ar: será o fim de uma era? Para alguns, a resposta é um sim taxativo; para outros, nem tanto; e, para um terceiro grupinho, a mudança deverá esperar, porque os grandes ainda teriam lenha para queimar. “No ano que vem será interessante. Será o momento de dizer se é um fato e se esta era já é passado”, dizia há alguns dias Murray, o segundo tenista mais velho a alcançar a liderança do ranking, atrás apenas do australiano John Newcombe (30 anos, em 1974). “Este ano foi diferente para os torcedores”, comentou o croata Marin Cilic.
Transições complexas
“Isto não é novidade”, observa Manolo Santana, pioneiro do tênis espanhol. “Quando Borg e McEnroe foram se apagando, as pessoas se perguntavam a mesma coisa. As transições são sempre difíceis. Agora há jovens que vêm com força, mas Roger e Rafa merecem o máximo respeito. Federer continuará jogando até deixar de se divertir, Nadal é um jogadorzaço. Acho que ainda pode ganhar um Roland Garros a mais. Fez bem em parar. Voltará, como sempre voltou. Ele não pode ir embora sem um último Grand Slam”, acrescenta o madrilenho.
“É lógico que pouco a pouco aconteça uma mudança geracional. É lei da vida”, intervém Alex Corretja, campeão da Masters Cup em 1998. “Os jovens vão começar a chegar, sobretudo porque já não têm essa sensação de que vão perder o trem. Mas continuam precisando de tempo. Se Nadal ou Federer voltarão a ganhar alguma coisa? Claro que poderão ganhar. Agora, voltar a ser número 1 é outra coisa, porque isso exige uma regularidade enorme. 2017 será fundamental para que os dois saibam quais são suas aspirações reais.”
No próximo ano será o momento de dizer se é um fato e se esta geração já é passado” Andy Murray
Pronuncia-se também Jordi Arrese, capitão da equipe que conquistou a Copa Davis em 2004. “Vejo a mudança de ciclo ainda muito distante. Os jovens ainda estão muito aquém, e os velhos estão na idade perfeita, porque compensam o déficit físico com a experiência. Rafa é um animal e dependerá da sua motivação. Os veteranos têm todo o crédito do mundo para mim. Hoje a média de idade é muito mais elevada. Os jogadores duram muito mais, porque se cuidam ao máximo tanto na preparação como na alimentação, em todos os detalhes”, diz o catalão, medalhista de prata na Olimpíada de 1992.
“E isso que há poucos esportes nos quais haja tanto desgaste. No nosso, se joga 80% do ano sobre cimento”, acrescenta Xavi Budó, técnico de Carla Suárez. “É preciso esperar. Os do Big Four têm uma bagagem e uma consistência que os que vêm atrás não têm. Atualmente se joga muito rápido e com muita potência, e isso faz com que em curto prazo haja mais surpresas, mas a mentalidade é essencial, e para ter a mentalidade adequada é preciso passar por um processo normalmente longo. Alguns estão preparados para subir o Everest, e outros para subir montanhas de 5.000 ou 6.000 metros. Aí está o exemplo de Wawrinka (31), que nos últimos três anos deu um salto enorme”, conclui o preparador.
E enquanto isso, aqui e ali, o enigma: será a hora da substituição?
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