Superlua (quase) à vista
Nesta segunda-feira, a Lua terá sua aparência mais brilhante e maior desde 1948
Nenhum planeta do Sistema Solar mantém uma relação tão importante com um satélite como a Terra com a Lua. Seu poder de atração é enorme, fascinante. Ela, junto ao Sol, exerce sua influência sobre a Terra, com as marés. Nesta segunda-feira, voltaremos novamente nossos olhos para uma Lua, que, de tão brilhante e próxima de nós, é chamada de Superlua. Um termo, aliás, que se soma, há mais ou menos cinco anos, às centenas de nomes que temos dado ao nosso satélite exclusivo desde que somos capazes de observá-lo. A Lua, afinal de contas, é da família.
Durante as Superluas, o diâmetro da lua cheia pode aumentar em até 14%, e seu brilho em cerca de 30%, com relação a uma lua cheia no apogeu
Durante as Superluas, o diâmetro da lua cheia pode aumentar em até 14% e seu brilho em cerca de 30% com relação a uma lua cheia do apogeu (a distância máxima até a Terra). A pergunta é: podemos perceber a mudança de tamanho a olho nu? A resposta é que será muito difícil, embora a Lua de fato pareça mais brilhante.
Para responder, precisamos calcular a mudança angular aparente (tamanho aparente da Lua no céu quando vista a olho nu) na lua cheia. A diferença de tamanho no céu da lua cheia no apogeu e no perigeu (a Superlua) é de quatro minutos de arco, ou seja, 4/60 avos de um grau de inclinação na esfera celeste.
Como referência, podemos tomar o tamanho que nosso dedo mínimo ocupa no céu quando o observamos com o braço estendido (ver figura 1), que é de 60 minutos de arco (um grau). Em média, a lua cheia tem um tamanho angular (tamanho no céu) de 30 minutos de arco (a metade do dedo mindinho!).
Nesta segunda-feira, a lua cheia ocorrerá às 11h52, hora de Brasília
A Lua gira ao redor da Terra com um período de aproximadamente 28 dias, embora sua órbita não seja circular, e sim elíptica, razão pela qual a distância Lua-Terra não é constante. Além disso, os parâmetros orbitais da Lua variam com o tempo, devido principalmente às influências gravitacionais do Sol e dos planetas. Por esta última razão, sempre que se cita alguma característica da órbita lunar é preciso mencionar um determinado período.
Se tomarmos o período de 5.000 anos, desde 1999 a.C. até 3000 d.C., a distância do perigeu lunar (distância mínima Terra-Lua) variou entre 356.355 e 370.399 quilômetros, enquanto o apogeu lunar (distância máxima) oscilou de 404.042 a 406.725 quilômetros (fonte: Five Millennium Catalog of Solar Eclipse, Espenak and Meeus, 2009).
Perto do perigeu
Por definição, uma Superlua acontece quando a lua cheia ocorre perto do perigeu lunar (normalmente a menos de dois dias). Matematicamente, podemos definir a distância relativa da lua cheia para uma órbita determinada (R Dfm) como:
A maior Superlua do século XXI está prevista para 6 de dezembro de 2052, quando nosso satélite estará a uma distância de 356.429 quilômetros
RDfm = (Da-dfm) / (Da-dp), onde Da é a distância Lua-Terra no apogeu lunar; Dp é a distância Lua-Terra no perigeu lunar; e Dfm a distância Lua-Terra no momento da lua cheia.
Se a lua cheia ocorre no momento do perigeu, então RDfm é igual a 1, ao passo que a lua cheia no apogeu resulta em RDfm igual a 0. Por definição, teremos uma Superlua se RDfm for igual ou maior que 0,9.
Embora seja verdade que durante as Superluas a atração gravitacional lunar é maior, o único efeito observável sobre nosso planeta é nas marés mais vivas. O aumento gravitacional, mesmo nessa situação, é fraco demais para causar perturbações geológicas (terremotos, tsunamis...).
Frequência
Se fizermos os cálculos, podemos notar que não é raro que a lua cheia aconteça perto do perigeu. De fato, costumam acontecer de três a cinco Superluas por ano (das 12-13 possíveis, ver tabela em astropixels.com). Durante o ano de 2015 tivemos cinco Superluas, ao passo que em 2016 serão quatro (setembro, outubro, novembro e dezembro).
A maior diferença de tamanhos a olho nu entre as luas cheias num intervalo de 5.000 anos é de 4 minutos de arco, 1/15 avos do tamanho angular do nosso dedo mínimo
Em 14 de novembro de 2016 a lua cheia se dará às 13h52 UT (11h52 pelo horário de Brasília). Será a maior lua cheia em 86 anos (1948-2034), muito perto do perigeu (a distância da Terra à Lua em seu momento mais cheio será de 356.523 quilômetros, enquanto que no perigeu lunar será de 356.512 quilômetros). A maior Superlua do século XXI terá lugar em 6 de dezembro de 2052, com nosso satélite a uma distância de 356.429 quilômetros.
Na situação mais favorável, uma Superlua terá um diâmetro de 4 minutos de arco maior que uma Lua cheia no apogeu, ou seja, o aumento de diâmetro angular da Superlua é de apenas 1/15 avos da largura do nosso dedo mindinho. Realmente algo muito difícil de observar a olho nu (ver figura 2).
Também podemos comparar a variação de tamanho das maiores Superluas anuais entre os anos 2001 e 2038. A diferença máxima se dá entre as Superluas de 2017 e 2016: apenas 8 segundos de arco. É impossível perceber esta variação a olho nu, como mostra a figura 1.
MIQUEL SERRA-RICART é astrônomo do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC), doutor em Ciências Físicas e Administrador do Observatório de Teide. Integra o Grupo de Pesquisas do Sistema Solar do IAC, dirigido por Javier Licandro.
ISABEL PAZ MENÉNDEZ é jornalista. Atualmente, dirige a comunicação do canal astronômico sky-live.tv.
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