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Por que esta é a melhor cena de natureza da história

‘Planet Earth’ voltou com tudo. Em seu primeiro episódio, deixa uma sequência para a posteridade Mas haverá mais e, talvez, até melhores

Uma imagem do primeiro episódio do documentário 'Planet Earth II'.
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Há ocasiões em que pulamos da poltrona. A televisão, às vezes, tem esse poder. A BBC conseguiu colocar de pé milhões de espectadores com uma sequência colossal. Possivelmente a melhor cena de natureza da história. Emoção, suspense e intriga no mais puro estilo Hitchcock. Mas, enquanto os pássaros dele eram ficção, isto aqui é real. Não há nada mais aterrorizante do que a vida selvagem.

Planet Earth II estreou no último domingo, em prime time. No Reino Unido, é algo normal: documentários no horário nobre. Meio país (e parte do exterior) parado diante da segunda parte de uma série que mudou a história dos documentários há apenas dez anos. As expectativas eram altas. Muito altas. E foram amplamente superadas. Sobretudo graças a uma cena que, primeiro, tirou os espectadores de suas poltronas e, logo em seguida, agitou as redes sociais. Nela, assistimos a uma eletrizante corrida pela vida: iguanas recém-nascidas fogem de um esquadrão da morte. Muitos até gritaram, desesperadamente: “Corre, iguana, corre”. Depois, tiveram pesadelos com as serpentes.

Da areia emerge um filhote de iguana. No horizonte, sua salvação. Por entre as pedras, as serpentes espreitam. Começa a perseguição. Um objetivo almejado e uma ameaça até alcançá-lo: os elementos fundamentais para uma boa história. Primeiro, no entanto, é preciso encontrá-la. Na ficção, a base é a criação. Nos documentários, é a documentação. Depois da busca, é preciso capturar a história com as câmeras. Uma tarefa digna apenas dos aventureiros pacientes. Na gravação reside a beleza da fotografia e as peças para a estrutura: planos abertos ou fechados, lentos ou rápidos, com movimento ou estáticos. Todos eles determinam a montagem. Eis aqui onde começa a linguagem e o grande mérito da já famosa cena das iguanas.

Nos documentários, há muito mais imprevistos do que na ficção, e parte da história é construída na edição, pelo montador e pelo diretor. A quantidade de imagens é extraordinária e a escolha não é trivial. Matthew Meech é o editor por trás da sequência das iguanas e sua escola vai além dos documentários sobre a natureza: “Sou um fã do cinema. Por isso, de alguma maneira, recolho elementos de outros lugares. Adoro Hitchcock, Christopher Nolan, Scorsese, Spielberg”, afirmou. As influências cinematográficas ajudam, mas editar ações selvagens tem suas dificuldades. “É como cortar filmes mudos. Tudo trata da ação e reação”, afirma Meech. “Os planos devem falar por si mesmos, não são somente um fundo para a narração.”

Matthew Meech é o editor por trás da sequência das iguanas e sua escola vai além dos documentários sobre a natureza; é um fã de Scorsese e Hitchcock

Mas, neste caso, que voz! Aos 90 anos, Sir David Attenborough continua modulando a voz como ninguém. É impossível não escutá-lo, mesmo se ele estiver narrando o funcionamento de um liquidificador. Sua reputação o precede. Tem mais de 60 anos de experiência e é a única pessoa com um prêmio Bafta em preto-e-branco, a cores, em HD e em 3D. De quebra, um prêmio espanhol Príncipe de Astúrias. Mesmo com essa carreira mais do que consolidada, ele continua se maravilhando com a natureza. No próximo episódio, dedicado às montanhas, aparecerá em uma cena com um dos animais mais elusivos do planeta, um leopardo-das-neves que, com seu filhote, enfrentará dois machos rivais. “Essa foi seguramente a sequência mais reveladora e emocionante. Fisgou meu coração”, confessa o mestre Attenborough.

Atenção às redes, porque é certo que Planet Earth II continuará a nos surpreender.

Oscar Cusó (@oscarcuso) é biólogo, diretor e roteirista de documentários sobre natureza, ciência e história. Participou de diferentes séries e longa-metragens para redes como BBC, National Geographic e TVE.

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