Henrique Capriles denuncia um “golpe de Estado” na Venezuela
Oposição convoca população a sair para as ruas na quarta-feira
A oposição ao Governo da Venezuela, presidido por Nicolás Maduro, decidiu partir para a ofensiva depois que uma série de decisões adotadas na última quinta-feira por tribunais regionais levou o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo oficialismo, a suspender a coleta de 20% das assinaturas do total de eleitores. Esta era exigência que estava prevista para ser cumprida na próxima semana como última etapa para se convocar um referendo revogatório contra o presidente Maduro.
Henrique Capriles Radonski, governador do Estado de Miranda e ex-candidato à Presidência do país, classificou a decisão de um “golpe de Estado”. A afirmação foi feita nesta sexta-feira durante entrevista coletiva em Caracas, na qual a aliança de oposição Mesa da Unidade Democrática (MUD) procurou passar a impressão de unidade diante da crise. Capriles, que desde a última quinta-feira está submetido a uma ordem judicial que o proíbe de deixar o país, convocou seus apoiadores a saírem para as ruas “para resgatar a ordem constitucional”, que, na sua opinião, foi rompida com a suspensão do referendo revogatório. Além disso, expôs o seu apoio a uma manifestação de mulheres que será realizada neste sábado em defesa do referendo, encabeçada pela ex-deputada María Cortina Machado e por Lilian Tintori, mulher do dirigente oposicionista preso Leopoldo López.
Entre outras ações concretas, Capriles anunciou que na próxima quarta-feira se realizará aquilo que chamou de “uma tomada da Venezuela”, em que “nos mobilizaremos onde for preciso se mobilizar”, insinuando que o protesto poderá chegar ao centro histórico de Caracas, onde se localizam a sede da presidência do país e outros poderes públicos. Ele evitou explicitar a expressão utilizada, dizendo que “todos entendem ao que me refiro”.
De forma mais explícita, disse que, neste domingo, a Assembleia Nacional (AN), controlada pela oposição, realizará uma sessão extraordinária para avaliar o “abandono do cargo” que teria sido cometido por Maduro. Com efeito, na noite de quinta-feira, enquanto se dava a investida governamental contra o processo do referendo, o presidente partiu para uma viagem por diversos países produtores de petróleo na Ásia Central e no Oriente Médio, como parte de seus esforços para estabilizar os preços da matéria-prima nos mercados internacionais. Maduro, porém, não solicitou autorização para a viagem ao Parlamento.
Capriles disse esperar que as Forças Armadas respaldem todas as iniciativas que forem efetuadas com o objetivo de restaurar a ordem constitucional. “Não queríamos chegar a esta situação”, afirmou ele, “mas uma coisa é ser pacífico, e outra coisa é ser medroso”.
O presidente da Assembleia, Henry Ramos Allup, atuou como segunda voz na entrevista coletiva. Ao ratificar a convocação para este domingo, Ramos — dirigente do partido social-democrata Ação Democrática (AD) — disse que a pauta da sessão incluirá “alguns assuntos que não gostaríamos de ter de abordar”, como o da possível dupla nacionalidade de Maduro. Trata-se de uma questão que voltou à tona em 2013 por iniciativa da oposição mais radical a partir de informações não comprovadas segundo as quais o atual mandatário teria nascido na Colômbia e de pais colombianos. A Constituição em vigor no país determina que o presidente da República seja venezuelano de nascimento, condição a que, se confirmados os rumores, Maduro não atenderia.
Até esta sexta-feira, a oposição mais institucional, reunida no MUD, vinha se mantendo contrária a levantar a questão da cidadania de Maduro, por considerá-la frágil juridicamente e de caráter vagamente chauvinista. Agora, porém, resolveu colocá-la na puta, ao lado da questão do abandono do cargo, como forma de advertência sobre uma possível destituição do chefe de Estado.
Enquanto Capriles informava ter passado o dia conversando com autoridades de outros governos da região para lhes explicar a nova situação, Ramos Allup disse que falará com o secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luís Almagro, para que envie uma missão do organismo a fim de observar as manifestações planejadas pela MUD e, conforme destacou, para recorrer à Carta Democrática Interamericana, um acordo assinado em 2001 em Lima (Peru) que estabelece sanções aos países do hemisfério que se desviarem da ordem democrática. Ele se antecipou a eventuais acusações de “traição à Pátria” que poderiam ser feitas por causa disso pelos adeptos do oficialismo destacando que a Venezuela faz parte da OEA e é signatária da Carta Democrática. Afirmou ainda que, em contrapartida, o Governo prepara, por meio do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), algumas decisões que restringirão ou acabarão com o parlamento.
Minutos antes, durante um comício realizado em uma praça de touros da cidade de Maracay (estado de Aragua, no centro litorâneo da Venezuela), transmitido pela TV estatal, o deputado e primeiro vice-presidente do partido governamental Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Diosdado Cabello, defendera que, uma vez suspenso o processo do referendo revogatório, a justiça deveria colocar na prisão os responsáveis pela suposta fraude que a oposição teria cometido durante a coleta do 1% inicial de assinaturas. “Ainda não jogamos todas as nossas cartas”, disse, “o contra-ataque chavista está apenas começando”.
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