_
_
_
_

Henrique Capriles denuncia um “golpe de Estado” na Venezuela

Oposição convoca população a sair para as ruas na quarta-feira

O líder opositor venezuelano, Henrique Capriles.Foto: atlas | Vídeo: FEDERICO PARRA AFP / ATLAS

A oposição ao Governo da Venezuela, presidido por Nicolás Maduro, decidiu partir para a ofensiva depois que uma série de decisões adotadas na última quinta-feira por tribunais regionais levou o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo oficialismo, a suspender a coleta de 20% das assinaturas do total de eleitores. Esta era exigência que estava prevista para ser cumprida na próxima semana como última etapa para se convocar um referendo revogatório contra o presidente Maduro.

Mais informações
Venezuela paralisa referendo sobre destituição de Maduro
EDITORIAL| Maduro resiste
Maduro acusa a oposição pelos atrasos no referendo revocatório
Venezuela anuncia que Leopoldo López será acusado por 43 mortes

Henrique Capriles Radonski, governador do Estado de Miranda e ex-candidato à Presidência do país, classificou a decisão de um “golpe de Estado”. A afirmação foi feita nesta sexta-feira durante entrevista coletiva em Caracas, na qual a aliança de oposição Mesa da Unidade Democrática (MUD) procurou passar a impressão de unidade diante da crise. Capriles, que desde a última quinta-feira está submetido a uma ordem judicial que o proíbe de deixar o país, convocou seus apoiadores a saírem para as ruas “para resgatar a ordem constitucional”, que, na sua opinião, foi rompida com a suspensão do referendo revogatório. Além disso, expôs o seu apoio a uma manifestação de mulheres que será realizada neste sábado em defesa do referendo, encabeçada pela ex-deputada María Cortina Machado e por Lilian Tintori, mulher do dirigente oposicionista preso Leopoldo López.

Entre outras ações concretas, Capriles anunciou que na próxima quarta-feira se realizará aquilo que chamou de “uma tomada da Venezuela”, em que “nos mobilizaremos onde for preciso se mobilizar”, insinuando que o protesto poderá chegar ao centro histórico de Caracas, onde se localizam a sede da presidência do país e outros poderes públicos. Ele evitou explicitar a expressão utilizada, dizendo que “todos entendem ao que me refiro”.

De forma mais explícita, disse que, neste domingo, a Assembleia Nacional (AN), controlada pela oposição, realizará uma sessão extraordinária para avaliar o “abandono do cargo” que teria sido cometido por Maduro. Com efeito, na noite de quinta-feira, enquanto se dava a investida governamental contra o processo do referendo, o presidente partiu para uma viagem por diversos países produtores de petróleo na Ásia Central e no Oriente Médio, como parte de seus esforços para estabilizar os preços da matéria-prima nos mercados internacionais. Maduro, porém, não solicitou autorização para a viagem ao Parlamento.

Capriles disse esperar que as Forças Armadas respaldem todas as iniciativas que forem efetuadas com o objetivo de restaurar a ordem constitucional. “Não queríamos chegar a esta situação”, afirmou ele, “mas uma coisa é ser pacífico, e outra coisa é ser medroso”.

O presidente da Assembleia, Henry Ramos Allup, atuou como segunda voz na entrevista coletiva. Ao ratificar a convocação para este domingo, Ramos  — dirigente do partido social-democrata Ação Democrática (AD) — disse que a pauta da sessão incluirá “alguns assuntos que não gostaríamos de ter de abordar”, como o da possível dupla nacionalidade de Maduro. Trata-se de uma questão que voltou à tona em 2013 por iniciativa da oposição mais radical a partir de informações não comprovadas segundo as quais o atual mandatário teria nascido na Colômbia e de pais colombianos. A Constituição em vigor no país determina que o presidente da República seja venezuelano de nascimento, condição a que, se confirmados os rumores, Maduro não atenderia.

Até esta sexta-feira, a oposição mais institucional, reunida no MUD, vinha se mantendo contrária a levantar a questão da cidadania de Maduro, por considerá-la frágil juridicamente e de caráter vagamente chauvinista. Agora, porém, resolveu colocá-la na puta, ao lado da questão do abandono do cargo, como forma de advertência sobre uma possível destituição do chefe de Estado.

Enquanto Capriles informava ter passado o dia conversando com autoridades de outros governos da região para lhes explicar a nova situação, Ramos Allup disse que falará com o secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luís Almagro, para que envie uma missão do organismo a fim de observar as manifestações planejadas pela MUD e, conforme destacou, para recorrer à Carta Democrática Interamericana, um acordo assinado em 2001 em Lima (Peru) que estabelece sanções aos países do hemisfério que se desviarem da ordem democrática. Ele se antecipou a eventuais acusações de “traição à Pátria” que poderiam ser feitas por causa disso pelos adeptos do oficialismo destacando que a Venezuela faz parte da OEA e é signatária da Carta Democrática. Afirmou ainda que, em contrapartida, o Governo prepara, por meio do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), algumas decisões que restringirão ou acabarão com o parlamento.

Minutos antes, durante um comício realizado em uma praça de touros da cidade de Maracay (estado de Aragua, no centro litorâneo da Venezuela), transmitido pela TV estatal, o deputado e primeiro vice-presidente do partido governamental Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Diosdado Cabello, defendera que, uma vez suspenso o processo do referendo revogatório, a justiça deveria colocar na prisão os responsáveis pela suposta fraude que a oposição teria cometido durante a coleta do 1% inicial de assinaturas. “Ainda não jogamos todas as nossas cartas”, disse, “o contra-ataque chavista está apenas começando”.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_