Em queda nas pesquisas, Trump fala em fraude eleitoral
Criticado por líderes de seu partido, republicano aproveita ampla desconfiança no sistema
Donald Trump, que tem quebrado tantos precedentes na política dos Estados Unidos, entra em mais um terreno desconhecido. A três semanas das eleições presidenciais e em queda nas pesquisas, o candidato republicano afirma que haverá uma fraude eleitoral maciça para derrotá-lo. O boato, reprovado por vários líderes republicanos, questiona alguns fundamentos da democracia do país: as eleições livres e a transferência de poder sem incidentes. Segundo uma pesquisa, 41% dos eleitores acreditam que poderia haver fraude em favor da candidata democrata, Hillary Clinton.
“É óbvio que está em curso uma ampla fraude no voto antes e durante a eleição. Por que os líderes republicanos negam o que está acontecendo? Que ingenuidade!”
A mensagem de Trump na rede social Twitter, na manhã da última segunda-feira, 17, arremata um fim da semana em que reforçou a retórica conspiratória. Além de questionar a legitimidade das eleições, Trump voltou a defender a ideia de que Clinton seja presa por crimes não comprovados e insinuou que ela usa drogas e deveria passar por um exame antidoping antes do terceiro e último debate desta campanha, na quarta-feira em Las Vegas (Nevada).
“Nossa democracia se baseia na confiança nos resultados eleitorais, e o speaker confia plenamente que os Estados conduzirão esta eleição com integridade”, disse uma porta-voz do ‘speaker’ ou presidente da Câmara de Representantes, Paul Ryan, líder dos republicanos em Washington. O republicano Mark Pence, governador de Indiana e candidato à vice-presidência com Trump, também se distanciou de seu chefe no domingo e disse que aceitaria o resultado eleitoral.
Nos Estados Unidos a organização das eleições está a cargo dos Estados, majoritariamente controlados pelo Partido Republicano, e das instituições locais. Uma fraude maciça só poderia acontecer com sua cooperação. A teoria conspiratória de Trump implicaria que os republicanos participarão de uma fraude contra seu candidato e em favor de Clinton.
Não existem muitos precedentes de candidatos de um grande partido que, de forma explícita e pouco antes da jornada eleitoral, minem a confiança no processo que os levaria à Casa Branca. Os candidatos Richard Nixon e Al Gore perderam por diferenças muito pequenas em 1960 e 2000, mas aceitaram o resultado e permitiram que a sucessão transcorresse sem incidentes. Se as palavras de Trump forem levadas em conta, isso pode não acontecer caso Clinton vença em 8 de novembro.
O temor é que alguns seguidores do republicano o levem a sério, provoquem incidentes na jornada eleitoral e, depois, se recusem a aceitar o resultado.
A primeira consequência das palavras de Trump poderia ser uma redução da participação eleitoral entre os próprios republicanos. Mas a mensagem de Trump também tem atrativo entre pessoas que acreditam que a elite forjou o sistema em favor do establishment representado pelos Clinton e pelo próprio Partido Republicano de Trump.
Como muitas teorias conspiratórias de Trump, a da fraude eleitoral é uma versão exagerada de mensagens que o Partido Republicano alentou no passado. Nos últimos anos os republicanos impulsionaram leis que endurecem as condições para votar com o argumento de que serviriam para prevenir a fraude eleitoral.
Na convenção de Cleveland, em julho passado, os delegados republicanos já entoaram o canto de “Clinton na cadeia!” Trump, que no passado havia defendido a mesma ideia, replicou: “Vamos derrotá-la em novembro”.
A ofensiva de Trump – com denúncias sobre um complô internacional, insistência na fraude eleitoral e ataques pessoais às mulheres que o acusam de agressão sexual – fere todos os manuais da política eleitoral norte-americana.
Ele radicaliza sua mensagem, em vez de moderá-la para atrair eleitores centristas e indecisos. Assim entusiasma a sua base mais fiel, com o risco de espantar os moderados. É o que diz a teoria, mas Trump já derrubou muitas teorias desde que apresentou sua candidatura em junho de 2015 sem que ninguém apostasse nele.
O magnata nova-iorquino entendeu que a desconfiança nas instituições é um fenômeno difundido e pensa que a ideia de que as eleições são forjadas pode pegar. Costuma citar o precedente do Brexit, o voto, contra os prognósticos, a favor da saída do Reino Unido da União Europeia.
Segundo uma pesquisa do jornal Politico, 41% dos eleitores – e 73% dos republicanos – acreditam nas teorias de uma possível fraude eleitoral. Outra pesquisa, do Pew Research Center, revela que 78% dos eleitores de Trump acreditam que é importante que o perdedor reconheça a derrota. Frente à ampla desconfiança, o desejo de quebrar a ordem parece escasso.
ERRATA
Uma versão anterior deste artigo dava a entender que Donald Trump não tinha sido o primeiro a pedir a prisão de Hillary Clinton, mas sim os delegados republicanos na convenção de Cleveland, em julho. Na realidade, Trump já havia defendido essa ideia antes, embora não em Cleveland.
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