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Obama nomeia primeiro embaixador dos EUA em Cuba em meio século

Decisão de nomear Jeffrey DeLaurentis pode ser barrada no Senado

Silvia Ayuso

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, parece decidido a consolidar a normalização com Cuba antes de deixar a Casa Branca daqui a menos de quatro meses. Nesta terça-feira, ele nomeou Jeffrey DeLaurentis como o primeiro embaixador em Havana em mais de meio século. Uma decisão que surpreendeu, já que a reaproximação continua encontrando firme oposição no Senado, sobretudo em ano eleitoral.

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A embaixada dos Estados Unidos em Havana, Cuba.YAMIL LAGE (AFP)
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“Tenho orgulho de nomear Jeffrey DeLaurentis para ser o primeiro embaixador dos Estados Unidos em Cuba em mais de 50 anos”, disse Obama em um comunicado. Designar um embaixador é “um passo sensato em direção a uma relação mais normal e produtiva entre nossos países”, acrescentou.

Poucos duvidam da capacidade do diplomata veterano, que ocupa o posto de fato há um ano, desde que os Estados Unidos e Cuba reabriram suas respectivas embaixadas. Mas enquanto Havana não tardou em confirmar como embaixador seu até então chefe da Seção de Interesses em Washington, José Ramón Cabanas, Obama nomeou DeLaurentis – que chefiava a Seção de Interesses norte-americana – como encarregado de negócios.

Foi uma decisão pragmática já que, ao contrário do que ocorre com um embaixador, a nomeação de um encarregado de negócios não requer a aprovação do Senado, onde continuam fortes as vozes que ameaçam barrar o processo. Entre os principais opositores se destacam os senadores republicanos de origem cubana Ted Cruz e Marco Rubio, ambos críticos acérrimos à aproximação com Havana. E basta um único senador para que a nomeação fique paralisada.

Esse foi o caso da atual embaixadora no México, Roberta Jacobson. Rubio barrou sua nomeação por meses, como punição precisamente por seu papel de destaque no processo de normalização das relações com Cuba. Como secretária de Estado adjunta para a América Latina, Jacobson foi a principal encarregada norte-americana das negociações bilaterais iniciadas com o anúncio de normalização de relações feito por Obama e Raúl Castro em dezembro de 2014 que culminaram na reabertura das embaixadas em 20 de julho de 2015.

Queda de braço com o Senado

Um ano depois da visita de Obama a Cuba, nenhum desses senadores e fracassados aspirantes presidenciais deu sinais públicos de ter mudado de opinião, o que torna o gesto do presidente no mínimo surpreendente.

De fato, Rubio logo apontou a decisão de Obama como mais uma mostra da “capitulação” do presidente ao regime castrista e deu a entender que barraria a nomeação.

“Recompensar o Governo dos Castro com um embaixador norte-americano é outro esforço desesperado do presidente para deixar um legado que precisa ser freado”, disse em um comunicado o senador pela Flórida, que concorre à reeleição em novembro.

Mesmo assim, para Michael Shifter, presidente do think tank Diálogo Interamericano, trata-se de um gesto “inteligente” da Casa Branca.

“Obama não tem nada a perder a essa altura porque é um lame duck (pato manco, como se denomina um presidente nos últimos meses de governo)”, disse Shifter ao EL PAÍS. E sabe que “de todo o seu legado em política externa, a mudança fundamental com Cuba é o mais popular”, recordou.

“Os republicanos tentarão barrar a nomeação e provavelmente conseguirão, mas têm uma visão minoritária, mesmo entre os republicanos e os cubano-americanos, e isso poderia prejudicá-los em novembro”, considerou o especialista nas relações entre Washington e América Latina.

Uma mostra de que a posição no tocante a Cuba não é unânime entre os republicanos é a reação imediata de outro influente senador conservador, Jeff Flake, que saudou a decisão de Obama nas redes sociais.

“Os norte-americanos que viajam e fazem negócios em Cuba estarão bem servidos se houver uma rápida confirmação de DeLaurentis”, tuitou.

Senador pelo Arizona, Flake é um dos mais firmes defensores da normalização de relações e é também o autor de um projeto de lei – que já tramita há mais de ano e meio no Senado – para abolir a proibição de viagens à ilha, algo que considera cada vez mais urgente, uma vez que já estão entrando em operação os primeiros voos comerciais regulares entre EUA e Cuba em mais de meio século.

Ric Herrero, diretor executivo da organização CubaNow, que também apoia a normalização de relações, pediu que Rubio não interfira na nomeação de DeLaurentis.

“O senador Rubio não deveria fazer uma política mesquinha com nossa segurança nacional por causa dessa nomeação”, disse a este jornal por e-mail. Rubio “sabe que não há razão convincente para barrar sua nomeação e deveria votar a favor de sua confirmação ou sair do caminho”, afirmou.

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