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Coluna
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Sexo com Tom Zé

O artista brasileiro celebra seus 80 anos com um disco que trata de assuntos sexuais

Tom Zé, compositor e poeta em um hotel em Madri em 2011.
Tom Zé, compositor e poeta em um hotel em Madri em 2011.Samuel Sánchez

A ponto de completar oitenta anos —em 11 de outubro— Tom Zé vai lançar Canções eróticas de ninar – Urgência didática. Um disco brincalhão e divertido, que nasce de lembranças e experiências infantis em Irará, estado da Bahia, e que foge dos discursos agressivos contra a mulher de tantas canções populares. No texto escrito para o encarte ele explica que o disco traz “os assuntos do sexo como eram tratados (ou não) em minha infância e juventude”.

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Antônio José Santana Martins, Tom Zé, aparece junto a Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes e um retrato de Nara Leão na capa de Tropicália ou panis et circenses (1968), manifesto do movimento tropicalista, que segundo ele levou o Brasil da Idade Média à segunda revolução industrial. Era considerado um artista difícil. O único crime de quem garante que faz jornalismo cantado foi querer ampliar os limites tradicionais das canções. Mas o mercado, implacável, o condenou ao esquecimento. Até que, em 1986, David Byrne deparou com seu LP de 1976 Estudando o samba. O fundador do Talking Heads tinha viajado para o Rio para apresentar seu filme True stories em um festival de cinema e entrou em uma loja de discos com a intenção de levar alguns vinis de samba. Ao chegar em casa em Nova York e ouvir pela primeira vez músicas como ou , com liquidificadores, serras elétricas e máquinas de escrever, ligou para seu amigo Arto Lindsay, que lhe explicou que o disco de título duvidoso era na verdade obra de um dos tropicalistas. Quando Byrne conseguiu entrar em contato com ele, Tom Zé estava a ponto de abandonar a música e voltar com sua mulher, Neusa, a Irará, onde lhe aguardava um emprego no posto de gasolina de um parente —precisava comer e sua situação em São Paulo era insustentável. David Byrne lançou uma coletânea de suas músicas —que apresentava dizendo: “Você está pronto para Tom Zé? Ele está te esperando há trinta anos”— e editou vários discos com material novo —há cinco anos uma caixa com sete vinis de 180 gramas: Studies of Tom Zé. Então o frentista da pequena cidade do interior da Bahia abriu caminho para auditórios de Paris, Nova York —arrasou no Lincoln Center improvisando sobre anúncios das páginas amarelas e repetindo os avisos nos alto-falantes do metrô— ou Madri, a única cidade que teve um bar com seu nome.

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Tom Zé ganhou o apreço das novas gerações do pop, o beneplácito da crítica especializada, tanto no Brasil como nos Estados Unidos e Europa. Apesar de também ter protagonizado uma certa trombada —e posterior reconciliação— com Caetano e discussões nas redes, consequência do que chama de “a globarbarização”: às acusações de se vender ao imperialismo por ter colocado sua voz em uma propaganda da Coca-Cola respondeu com um EP intitulado Tribunal do feicebuqui. Sábio heterodoxo, que continua movido pelo desejo e a curiosidade, ainda prefere perguntar do que responder: trata-se, como anunciava em , de explicar para confundir, de confundir para esclarecer.

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