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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Venezuela fala

Maduro deve libertar os presos políticos e realizar o referendo revogatório no prazo

El País
Aspecto parcial da manifestação opositora em Caracas.
Aspecto parcial da manifestação opositora em Caracas.FEDERICO PARRA (AFP)

A manifestação multitudinária realizada na quinta-feira em Caracas para exigir que o Conselho Nacional Eleitoral agilize os procedimentos para realizar um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro é um sinal claro da fratura social grave que está criando o mandatário ao tentar atrasar por todos os meios um processo legal que, se fosse realizado em tempo hábil, poderia tirar do poder não só ele, mas o chavismo como um todo.

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Embora o oficialismo tenha tentado silenciá-la com uma manifestação contrária onde o mandatário venezuelano exibiu sua retórica ameaçadora, a convocatória da oposição foi um sucesso completo e uma ratificação da vitória completa obtida nas urnas em 6 de dezembro do ano passado. Superando todos os avisos do governo sobre um fantasmagórico golpe, a deportação de jornalistas estrangeiros nos dias anteriores ou a suspensão do metrô para dificultar o comparecimento, a manifestação atraiu centenas de milhares de pessoas sem incidentes registrados.

O rechaço de Maduro está produzindo um tremendo paradoxo pois, embora a oposição esteja cumprindo estritamente as condições concebidas por Hugo Chávez para a convocatória de um referendo revogatório — figura introduzida pelo falecido presidente no ordenamento constitucional venezuelano —, o Governo que se proclama continuador e guardião do chavismo se recusa a cumprir uma das medidas que o próprio Chávez transformou em estandarte do seu mandato. A estratégia de Maduro consiste em atrasar o referendo até depois de 10 de janeiro. Após essa data, e de acordo com a lei, mesmo que o oficialismo perca a votação, não serão chamadas novas eleições presidenciais, seu vice-presidente é que ocuparia a chefia do Estado até 2019. O grave, do ponto de vista formal, é que todo o processo, iniciado em abril, deveria ter durado quatro meses, mas o chavismo pretende — e está conseguindo — demorar mais que o dobro do tempo.

E, além disso, o regime não libertou os presos políticos cuja mera existência é uma prova da boa vontade nula que Maduro tem para superar a crise. Os esforços de mediação internacional até agora provaram ser fúteis enquanto o presidente embarcou em um voo cego que piorou a situação de penúria material dos venezuelanos e está levando o confronto político a um impasse. O presidente venezuelano quer ignorar que seu desrespeito constante aos esforços internacionais para ajudar a Venezuela não terá nenhuma consequência para o chavismo, mas deve saber que o tempo está se esgotando. Ele deve permitir que o referendo seja realizado no prazo e libertar os presos.

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