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Jogos Olímpicos Rio 2016
Crônica
Texto informativo com interpretação

Eric Moussambani, meu herói

A história do nadador africano que comoveu o mundo em Sydney ao não desistir

Eric na prova de 100 metros livres masculino nos Jogos Olímpicos de Sydney em 2000.
Eric na prova de 100 metros livres masculino nos Jogos Olímpicos de Sydney em 2000.AP
Rafa Cabeleira

Como fazia todos os sábados, Eric se levantou cedo para ajudar a mãe nas tarefas do lar. Cabia-lhe varrer e esfregar, então decidiu ligar o rádio em busca de um pouco de música para animar os afazeres domésticos, sem imaginar que aquele gesto tão prosaico iria mudar a sua vida. Agarrado à vassoura, Eric ficou sabendo que a Federação de Natação da Guiné Equatorial estava procurando nadadores para participar da próxima Olimpíada, e que os interessados deveriam passar pela sede do Comitê Olímpico para formalizar a solicitação e participar das provas seletivas. Para sua surpresa, só se apresentaram ele e uma mulher, Paula Barila Bolopa.

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Eric havia aprendido a nadar algumas semanas antes, numa praia próxima à sua casa, e seu primeiro treinador foi um pescador da região, chamado Silvestre, que lhe explicou como deveria mexer os braços e as pernas para não afundar. Apenas quatro meses antes da disputa olímpica, começou a treinar na piscina de um hotel, disponibilizada pela Federação para que ele se preparasse para a competição. A cada dia, entre 5h e 6h, antes que os hóspedes aparecessem, Eric cobria com suas braçadas sucessivas vezes os 12 metros de comprimento daquela modesta piscina. Enquanto nadava, sonhava com a iminente viagem à Austrália, país do qual jamais ouvira falar e que, por alguma razão inexplicável, sua mente havia situado na Europa.

Já instalado na Vila Olímpica de Sydney, Eric recorda como ficou impressionado com o tamanho de tudo que o cercava, em especial da piscina das competições “Água demais para mim”, pensou. Durante os treinos, lhe chamou a atenção o giro que os outros nadadores faziam sob a água quando chegavam à borda, então pediu ajuda a um dos treinadores da equipe norte-americana. Quando finalmente conseguiu lhe convencer de que era um dos nadadores inscritos, seu novo amigo colocou mãos à obra e, antes de Eric nadar sua prova, aprendeu quatro noções básicas, além de ganhar um presente muito especial desse treinador: a sunga azul, marca Adidas, com a qual entraria para a história. A bermuda florida que ele planejava ostentar para a ocasião ficou guardada na mala.

O resto é parte da lenda dos Jogos Olímpicos. Eric Moussambani colocou de pé as 17.000 pessoas que abarrotavam o centro aquático, enquanto se debatia desesperadamente para não afundar e terminar a prova. O mundo inteiro se comoveu com a entrega daquele nadador africano que nos recordou o verdadeiro espírito das Olimpíadas e que, com o passar do tempo, pode caminhar pela rua com a cabeça bem erguida, enquanto alguns dos que subiram ao pódio cobrem, envergonhados, as manchas do doping. Ao sair da piscina, Eric foi diretamente para o seu quarto, fechou a porta e dormiu. “Estava muito cansado.”

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