Chavismo tenta eliminar a MUD, o principal partido da oposição da Venezuela
Manobra busca evitar referendo revogatório do mandato de Nicolás Maduro
O chavismo tirou um ás da manga nesta terça-feira. Jorge Rodríguez, prefeito de Caracas e dirigente do Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV), solicitou ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo governismo, que anule o registro da coalizão oposicionista Mesa da Unidade Democrática (MUD) como partido político, por causa de supostas fraudes cometidas na coleta das assinaturas para a convocação de um referendo revogatório do mandato do presidente Nicolás Maduro.
Rodríguez disse que mais de 50.000 assinaturas – cerca de 1% do total necessário para convocar o referendo – foram anuladas por “irregularidades muito graves”, e outras 250.000 por não cumprirem os requisitos exigidos para sua validação. “É a fraude eleitoral mais gigantesca já cometida neste país”, afirmou o prefeito de Caracas.
O referendo revogatório foi uma iniciativa da MUD, e a eventual cassação do partido representará um revés nesse processo. “Como será possível ativar um artigo da Constituição [sobre o referendo revogatório] com um embasamento tão profundamente manchado?”, perguntou-se o governista após se reunir com a presidenta do CNE, Tibisay Lucena, a quem entregou o documento que formaliza o pedido de cassação do registro da MUD. O Conselho Eleitoral avaliará nos próximos dias o processo aberto pelo partido governante.
Enquanto isso, Henrique Capriles, governador do Estado de Miranda e ex-candidato presidencial, qualificou como “loucura” a manobra do chavismo: “Essas loucuras têm uma intenção por trás: roubar o [referendo] revogatório do povo venezuelano”.
A tensão aumentou por causa da ausência de uma resposta do poder eleitoral sobre o referendo. O CNE havia prometido se pronunciar antes da terça-feira sobre as assinaturas validadas pela oposição no fim de junho, mas isso não aconteceu. No final da tarde, prometeu que esse anúncio sairá na próxima segunda.
A oposição convocou para esta quarta uma mobilização em todas as sedes principais do Conselho Eleitoral no país para exigir uma data para confirmar 20% das assinaturas do eleitorado – mais de quatro milhões, a cifra necessária para convocar o referendo. “Acredito que a senhora Lucena esteja subestimando o povo venezuelano… Está brincando com a paciência do povo”, disse Capriles.
O chavismo perdeu popularidade por causa da atual crise política e econômica que domina a Venezuela. Uma pesquisa recente do instituto Venebarómetro mostrou que 64% dos eleitores venezuelanos revogariam o mandato de Maduro se houvesse uma votação agora.
Condições para o diálogo
Em outras ocasiões, o chavismo já tentou impedir a ativação do processo revogatório. Em junho, moveu uma ação no Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) por causa da suposta fraude nas assinaturas apresentadas pela oposição para solicitar o referendo.
Mas a oposição diz que esse referendo revogatório é a única maneira de manter um diálogo com o Governo. “O referendo é inegociável. A quem pergunta pelo diálogo nós dizemos: não vamos fazer o papel de idiotas úteis”, afirmou Capriles.
O diálogo, a principal aposta de Maduro para a crise política, tem a mediação do ex-chefe de Governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero e dos ex-presidentes Martín Torrijos, do Panamá, e Leonel Fernández, da República Dominicana. Tanto a oposição quanto o Governo concordaram com a incorporação de representantes do Vaticano.
Horas antes do pedido de anulação do registro da MUD, Jesús Chuo Torrealba, secretário-geral da agremiação, havia qualificado como um avanço a libertação de 28 pessoas consideradas presos políticos.
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