Grupo de ex-ministros de Chávez pede referendo revogatório na Venezuela
O recurso, previsto na Constituição, busca fazer frente à grave crise socioeconômica e de governabilidade
Um grupo de ex-funcionários do Governo de Hugo Chávez, incluindo ex-ministros, juntamente com representantes de uma facção dissidente da atual administração realizaram na segunda-feira uma coletiva de imprensa para exigir a convocação, este ano, de um referendo revogatório contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, algo que o Executivo venezuelano procura evitar a todo o custo.
“O referendo revogatório, além de ser um direito constitucional, é também uma solução pacífica para a crise política”, destacou Ana Elisa Osorio, ministra do Meio Ambiente no Gabinete de Hugo Chávez por cinco anos e ex-deputada do Parlamento Latino-Americano do Partido Unido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), aliado do atual Governo. “Ignorar isso poderia levar a saídas indesejadas”.
Além de Osorio, estavam presentes na coletiva, entre outros, o ex-ministro da Educação e aliado de Chávez desde o início da revolução, Héctor Navarro; Gustavo Márquez, ex-ministro do Comércio; o major-general aposentado Oliver Alcalá Cordones, ex-chefe da Zona de Defesa Integral Guayana; o ex-representante da Venezuela perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Freddy Gutiérrez; e o cientista político Nicmer Evans, líder da Maré Socialista, uma corrente chavista que faz oposição ao atual Governo.
Minutos antes do evento, o major-general Cordones — irmão do ex-comandante do Exército e atual prefeito de La Guaira (estado de Vargas, costa central da Venezuela), Carlos Alcalá Cordones — havia remetido para o Conselho Supremo Eleitoral (CNE), em sua sede, no centro de Caracas, um documento com o mesmo pedido. A petição também inclui a assinatura do ex-ministro do Planejamento e mentor intelectual de Chávez, Jorge Giordani.
“Nos definimos como defensores da Constituição, somos a favor de que o povo decida”, afirmou Alcalá Cordones, que esteve ao lado, em 1992, do então comandante Hugo Chávez em sua tentativa de golpe contra o segundo mandato de Carlos Andrés Pérez (1989-1993), e a quem diversos meios de comunicação o vincularam a cartéis do tráfico de drogas quando estava no poder.
Devido à grave crise socioeconômica e de governabilidade enfrentada pela Venezuela, setores da oposição têm defendido a realização de um referendo revogatório contra o presidente Maduro, um recurso disponível na Constituição em vigor, de 1999, e que já foi colocado em prática em 2004, contra o então presidente Hugo Chávez, que venceu o desafio.
A oposição só conseguiu concluir perante as autoridades eleitorais a primeira fase do processo de ativação do referendo e acusa o CNE — dominado pelo Governo — de atrasá-lo deliberadamente para evitar a convocatória.
Na verdade, o Governo Maduro tenta contornar 2016 sem enfrentar o desafio do referendo revogatório. Nesta segunda-feira, foram divulgados, em Caracas, os resultados da pesquisa de opinião Venebarómetro, que constatou que 88% dos entrevistados apoiam a rápida remoção de Maduro do poder; e 58% disseram estar dispostos a assinar os formulários para solicitar o referendo, apesar dos riscos que isso poderia implicar para cada um deles. Neste contexto, não surpreende que Maduro e outros líderes da coalizão do Governo, como o número dois do PSUV, Diosdado Cabello, e o Governador do estado de Aragua, Tarek El Aissami, tenham expressado abertamente que o referendo não será realizado este ano, dizendo que a oposição demorou para iniciar os trâmites ou que o processo é fraudulento.
Se o Governo não puder evitar a realização do referendo, pelo menos tenta adiá-lo para o ano que vem, quando, de acordo com as disposições constitucionais, se for derrotado, o mandato presidencial até janeiro 2019 deverá ser completado pelo vice-presidente da República, Aristóbulo Istúriz, do PSUV. Por outro lado, se o referendo fosse realizado em 2016, seria necessário convocar eleições dentro de um mês após o resultado.
Daí a importância da declaração, na segunda-feira, na qual as principais vozes do campo revolucionário — mas que vêm se distanciando de Maduro há muito tempo — exigiram a realização imediata do referendo. O professor universitário Esteban Emilio Mosonyi esclareceu, em nome do grupo, que a iniciativa não visa necessariamente retirar Maduro do poder, mas colocar em prática um “direito civil”, consagrado na Constituição que o próprio Chávez apadrinhou em 1999.
Além disso, os dissidentes condenaram a demissão de funcionários públicos que assinaram a favor da realização do referendo, bem como “funcionários que não possuem nenhuma função eleitoral”, mas manifestam sem nenhuma base o direito de avaliar a procedência ou não da consulta.
Manifestações desse calibre vêm se repetindo em vários meios de comunicação nos últimos dias, procedentes de líderes do início do regime bolivariano. Juan Barreto, ex-prefeito de Caracas e líder do partido Redes (um dos membros da coalizão pró-governo Grande Polo Patriótico), disse na segunda-feira que o Governo deve parar de suspeitar “cada vez que seja criticado” e que Maduro “deve respeitar o [referendo] revogatório”. “Se continuar ameaçando aqueles que discordam, esse não é o caminho”, disse.
Há duas semanas, Barreto admitiu, em entrevista a uma rede de TV, que continua negociando a “saída de Maduro”, declaração considerada desleal, e que gerou reações iradas do PSUV. Militantes do Governo também criticaram a decisão do ex-prefeito de Caracas de aparecer em uma foto cumprimentando Lilian Tintori, esposa de Leopoldo López, líder da oposição preso desde fevereiro de 2014, em um presídio militar perto da capital, e verdadeiro pesadelo para o chavismo.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.