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Agência Mundial Antidoping pede exclusão da Rússia da Olimpíada

Direção do COI fará reunião nesta terça para decidir sanção a ser aplicada contra o “ataque sem precedentes à integridade do esporte” revelado pelo relatório McLaren

Carlos Arribas
Presidente do COI, Thomas Bach, em Moscou em 2015.
Presidente do COI, Thomas Bach, em Moscou em 2015.Alexander Zemlianichenko (AP)

Depois que uma dezena de agências nacionais antidoping, lideradas pelas dos EUA e do Canadá, dentre elas a da Espanha, terem solicitado no fim de semana ao Comitê Olímpico Internacional (COI) a exclusão da Rússia dos Jogos Olímpicos do Rio, e poucos minutos após a publicação do relatório McLaren, um pedido no mesmo sentido foi feito pela própria Agência Mundial Antidoping (AMA), órgão ligado ao COI e financiado em 50% por este e em 50% pelos países-membros. “A bola agora está com o COI”, disse McLaren, cujo relatório, de adoção não-obrigatória, não inclui sugestões de medidas a adotar.

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As declarações do presidente do COI, Thomas Bach, uma espécie de Rei Salomão da geopolítica esportiva internacional, são mais complicadas de se entender do que parecem. Sua reação inicial, uma hora depois de a AMA divulgar em seu site as 100 páginas do relatório McLaren, foi anormalmente dura. “Os resultados da investigação demonstram que houve um ataque sem precedentes à integridade do esporte e dos Jogos Olímpicos”, afirmou Bach na sede da entidade, em Lausanne, em uma declaração de princípios igualmente inédita. A gentileza e a habilidade proverbiais do campeão de esgrima Bach se destacam na sua segunda frase: “O COI não hesitará em punir da forma mais dura possível qualquer pessoa ou organização envolvida”. Bach convocou sua diretoria para uma reunião por telefone a ser realizada nesta terça-feira para que se decidam as sanções relativas aos jogos do Rio, que começam daqui a três semanas.

O que se oculta por trás da aparente rigidez dessa declaração é o fato de que, no relatório, as únicas pessoas cujo envolvimento é apontado são alguns funcionários de nível inferior e o ministro dos Esportes, Vitaly Mutko, e seu vice-ministro, Yuri Nagornykh. E, como organizações, a polícia secreta FSB –antiga KGB—e a agência antidoping russa. Ocorre que o COI não tem nenhum poder de sanção em relação a essas pessoas e essas organizações. Teria, sim, para punir o Comitê olímpico Russo (ROC) ou, individualmente, atletas que o relatório assinalaria como tendo feito uso de doping. O ROC aparece no relatório de uma forma que o inocenta, pois, segundo o texto, esse comitê nada teve a ver com as manobras realizadas. E seria apenas punindo o ROC, entidade que inscreve os atletas nos jogos, que o COI poderia impedir a sua participação no Rio. O relatório sobre o doping de Estado tampouco aponta nenhum nome de algum atleta cujo teste positivo teria sido manipulado pela metodologia usada por Mutko.

É sintomático, nesse sentido, que o presidente do ROC, Alexander Zhukov, tenha comemorado imediatamente o fato de o relatório não incluir recomendações de sanções.

Até o momento, Bach tem se mostrado resistente à ideia de romper com a sua filosofia de buscar, na aplicação de sanções, um equilíbrio entre a punição aos organismos e a preservação dos direitos dos atletas não envolvidos. Parece ser improvável, assim, que o COI decida na tranquila Lausanne vetar a participação da Rússia, que desencadearia uma crise sem precedentes no movimento olímpico à véspera de uma Olimpíada cuja preparação já não foi das melhores.

A exemplo da federação Internacional de Atletismo (IAAF), as federações internacionais envolvidas, que são praticamente todas que participam dos Jogos, poderiam punir todos os atletas russos. Se tivessem essa intenção, que até hoje não foi demonstrada por nenhuma delas –a começar pela de ginastas, que não tem nenhum atleta envolvido e se colocou contra qualquer punição coletiva--, certamente não dariam nenhum passo antes desta quinta-feira, quando o Tribunal Desportivo de Arbitragem (TAS) decidirá sobre o pedido feito pelo ROC e 68 atletas russos para que participem da Rio 2016.

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