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Uma nova morte na trama do avião de Eduardo Campos

PF investiga suposto esquema de propinas a partir de aeronave e empresário acusado é achado morto

Motel em que empresário envolvido no esquema foi encontrado morto
Motel em que empresário envolvido no esquema foi encontrado mortoSérgio Bernardo (JC Imagem/Folhapress)

Prestes a completar dois anos, a queda do avião que matou Eduardo Campos produziu uma reviravolta e juntou mais uma morte à sua trama. Foi encontrado morto nesta quarta o empresário pernambucano Paulo Cesar de Barros Morato, menos de 48 horas depois de a Polícia Federal deflagrar a Operação Turbulência, que investiga um aparente esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, do qual o avião que matou o então candidato presidencial do PSB faria parte. Morato era, segundo a PF, testa de ferro da empresa que forneceu o dinheiro para a compra da aeronave.

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Deflagrada nesta terça-feira, a Operação Turbulência baseou-se na investigação que começou logo depois do acidente de Campos. À época, a imprensa levantou informações sobre o dono do avião e chegou ao nome do empresário João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho. Agora, a PF diz que o dinheiro para a compra da aeronave é proveniente de um esquema que teria movimentado até 600 milhões de reais. Ao lado de Mello Filho, teriam atuado outros dois empresários que aparecem em documentos relativos à compra da aeronave: Apolo Santana Vieira e Eduardo Freire Bezerra. Além dos dois, Arthur Roberto Lapa Rosal e o já mencionado Paulo Morato também fariam parte do esquema, do qual o avião seria só uma parte. No caso de Morato, que foi encontrado morto em um quarto de motel na cidade de Olinda (PE), a suspeita é que ele seria o testa de ferro da empresa Câmara & Vasconcelos Locação, que teria repassado dinheiro ilícito para a compra da aeronave.

Ainda não se sabe a causa da morte de Morato, que passará por uma autópsia, mas as investigações iniciais da Polícia Civil apontam para suicídio ou ataque cardíaco, já que Morato era hipertenso e remédios estavam no quarto. Além disso, sete pen drives, que podem conter provas, foram encontrados no local e recolhidos para que as investigações tenham continuidade. Os advogados dos quatro empresários presos ainda não se pronunciaram. “Essas empresas transacionavam entre si e realizavam movimentações milionárias, na conta de outras empresas igualmente de fachada e na conta de outros ‘laranjas’. Elas integravam uma organização criminosa especializada em lavagem de dinheiro que vem, desde 2010, e que decaiu após a queda do avião”, disse a delegada Andrea Pinho, em entrevista coletiva.

Para além da compra do avião, a PF diz que o esquema que movimentou milhões de reais foi usado nas campanhas de 2010 e 2014, quando Campos foi candidato a Governador de Pernambuco e a Presidente da República, respectivamente. A ex-ministra e virtual candidata a presidência em 2018, Marina Silva, também integrava a chapa de Campos como vice durante o pleito de 2014. Em nota, o PSB afirmou ter plena confiança na conduta de Eduardo Campos e declarou apoio a apuração das investigações. Marina Silva, hoje no partido Rede, afirmou que “a logística de deslocamento de Campos era de responsabilidade exclusiva do PSB”, legenda que integrava na época.

Lava Jato e Turbulência

Não é a primeira vez que a empresa Câmara & Vasconcelos aparece em uma investigação. Ela já foi citada no âmbito da Operação Lava Jato – que tem causado terremotos diários no mundo político brasileiro – em delação premiada do doleiro Alberto Yousseff. Segundo ele, a empresa teria recebido 18,8 milhões de reais da empreiteira OAS. A construtora informou que não vai se pronunciar. É esse dinheiro que, segundo os investigadores da Operação Turbulência, pode ter sido usado na compra do avião e pagamento de dívidas de campanha de Campos. A Câmara & Vasconcelos afirma que os pagamentos foram feitos por serviços de terraplanagem em obras do Rio São Francisco. Hoje, as informações são também alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) em que um dos investigados é o senador e ex-ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE).

Segundo a PF, Bezerra é um dos suspeitos de negociar o envio do dinheiro ilícito investigado na Operação Turbulência para a campanha de Campos em 2010. Contudo, a delegada Pinho disse não ser possível afirmar que o senador integrava o esquema porque o caso está no STF. Ela também reforçou que o objetivo da Operação Turbulência são as organizações envolvidas no suposto esquema de lavagem de dinheiro e não políticos citados em outros processos. Lava Jato e Turbulência, apesar de não estarem diretamente ligadas, compartilharam informações, como a da delação de Yousseff. Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Federal de Pernambuco, é possível que com as apreensões feitas nesta terça, surjam desdobramentos que mostrem maiores conexões entre as duas investigações. O senador Bezerra Coelho disse que não foi coordenador das campanhas de Campos e que está e sempre esteve à disposição para colaborar com o inquérito que tramita no STF.

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