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Bernie Sanders: “A América está sofrendo e não confia no ‘establishment”

Em entrevista, o candidato explica suas possibilidades de ganhar de Clinton na reta final da campanha

Pablo Ximénez de Sandoval
O candidato à nomeação democrata Bernie Sanders, durante entrevista ao EL PAÍS.
O candidato à nomeação democrata Bernie Sanders, durante entrevista ao EL PAÍS.Apu Gomes
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Bernie Sanders reconhece que há um ano não seria possível imaginar que Donald Trump acabaria sendo o indicado republicano à presidência dos Estados Unidos. Quando indagado quanto ao que isso diz sobre o país, responde: “Diz que o establishment deste país não é respeitado, que o povo americano tem cada vez menos confiança nele. Esse establishment é a liderança tradicional republicana e a liderança tradicional democrata, a mídia... o povo americano está sofrendo e não vê o establishment dar uma resposta a seu sofrimento. E Trump se apresentou basicamente como um candidato antiestablishment”.

Sanders (Nova York, 74 anos) se senta brevemente com o EL PAÍS minutos antes de sair do palco em Irvine, Califórnia, ao sul de Los Angeles. Seu discurso foi cheio de referências a esse establishment, à grande mídia e às grandes corporações. É seu segundo evento do dia. Participa de duas reuniões diárias desde que concentrou toda a sua campanha na Califórnia, o prêmio gordo da indicação democrata, porque reúne 475 delegados. Sanders precisa arrasar na Califórnia no próximo 7 de junho para conseguir executar seu plano e ser o indicado do Partido Democrata à frente de Hillary Clinton, a candidata favorita. “Não é impossível”, protesta. “É um caminho apertado.”

Esse plano “passa por três coisas”, explica Sanders. “Primeiro, nos Estados onde ganhamos por maioria arrasadora, esperamos que os superdelegados façam o que pediram as pessoas desse estado, que é apoiar Bernie Sanders. Se eu ganho em um estado com 75% dos votos é um pouco absurdo que os superdelegados apoiem a secretaria Clinton.”

Os superdelegados são os 712 dos 4.763 que formam a Convenção Nacional Democrata e que escolherão, no último caso, o candidato. Estes delegados estão liberados e podem dar seu apoio a quem quiserem, enquanto os demais, chamados de delegados comprometidos, têm de apoiar aquele que ganhou as primárias de seu Estado. Esses superdelegados são legisladores e notáveis do partido, ou seja, exatamente o establishment. Um total de 525 declarou seu apoio a Clinton, segundo a contagem do site especializado RealClearPolitics, e 39 apoiam Sanders. O senador acredita que os superdelegados dos Estados em que ele ganhou deveriam respeitar a vontade dos militantes e apoiá-lo.

“Em segundo lugar”, continua em sua explicação do mapa para a vitória, “por mais que seja um caminho muito apertado, e temos de percorrê-lo muito bem, isso eu reconheço, se o fizermos bem na Califórnia e em Nova Jersey e em outros poucos estados que votam em 7 de junho, temos uma possibilidade de conseguir os 50% de delegados comprometidos. Estamos com 46% agora. Temos de trabalhar muito duro para conseguir.”

Além de conseguir empatar na votação dos delegados comprometidos e de fazer mudar de opinião boa parte dos superdelegados, há um último elemento nesse mapa. “E, terceiro, podemos explicar a cada delegado da Convenção Nacional Democrata que em todas as pesquisas que vi ganhamos de Donald Trump por muito mais margem do que Hillary Clinton”, assegura. “De fato hoje (domingo) havia uma pesquisa da NBC na qual nós estávamos 15 pontos acima de Trump, e ela estava com 3 pontos acima. Então nosso argumento não é insignificante.” Ele é a melhor cartada para deter Trump e é dessa forma que pretende se apresentar na Convenção.

Sanders rechaça por completo a ideia de que em algum momento talvez pudesse ter encerrado sua campanha, devido às remotas possibilidades de sucesso, seguindo uma certa tradição das primárias. Parece incomodar-se quando lhe perguntam por que decidiu continuar até o último dia, aconteça o que acontecer. “Acabo de lhe dizer que há um caminho até a indicação”, responde.

Contra todos os prognósticos, esse caminho chegou até a Califórnia, um estado gigante cujas primárias estão marcadas para o fim do calendário para que não tenham tanta importância, mas que o empenho de Sanders transformou em cruciais. Nas últimas duas semanas, Clinton fez uma demonstração de força com o apoio dos líderes latinos do Estado, desde líderes sindicais e de organizações de imigrantes até os cargos políticos mais altos, como o presidente do Senado estadual. “A secretária Clinton teve o apoio do establishment em todos os estados deste país. E ganhamos em 20 estados, e perdemos três ou quatro por um triz. O fato de que o establishment, de qualquer tipo, apoie a secretaria Clinton não é surpresa. Sempre foi assim. Mas ganhamos 20 Estados, acho que temos possibilidades excelentes de vencer aqui na Califórnia e acredito que nos daremos muito bem com o voto latino.”

O público quer Sanders, que se prepara para sair. Eles preenchem aproximadamente a metade de um auditório com capacidade para 16.000 pessoas, nada a ver com os encontros de vinte e poucas pessoas que Sanders organizou há quase um ano em Iowa. Sua “revolução política” não só atrai milhares para ouvi-lo em locais como este de Irvine, como também conseguiu colocar mensagens como a saúde universal ou a universidade gratuita no prime time dos Estados Unidos. Também obrigou Clinton a levar seu discurso mais à esquerda do que no princípio apontava sua campanha. Não é isso já, de certo modo, uma vitória? “Não. A vitória é ganhar.”

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