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Estados Unidos suspendem embargo de armas ao Vietnã após 32 anos

Presidente Barack Obama anunciou a medida durante visita oficial ao país asiático

Obama durante uma entrevista coletiva com o presidente do Vietnã Tran Dai Quang.Foto: reuters_live
Macarena Vidal Liy
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Em seu giro pela Ásia nesta semana, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pretende fechar velhas feridas deixadas pelas guerras que seu país travou no continente. Nesta segunda-feira deu um passo de enorme importância simbólica nesse sentido: anunciou, em uma entrevista coletiva em Hanói junto ao presidente Tran Dai Quang, o fim definitivo do embargo de armas ao Vietnã vigente desde o fim do sangrento conflito entre as duas nações.

“Os Estados Unidos suspenderão por completo a proibição de venda de equipamento militar ao Vietnã, em vigor há cerca de 50 anos”, declarou o presidente norte-americano. O anúncio é uma prova dos enormes progressos nas relações entre os antigos inimigos, hoje unidos por interesses econômicos e, sobretudo, de defesa. Ambos compartilham enorme desconfiança sobre a veemência cada vez maior nas reivindicações territoriais de Pequim no Mar do Sul da China.

O Vietnã, que mantém uma relação complicada com a China, seu principal parceiro comercial e companheiro ideológico – mas contra o qual travou uma breve guerra em 1979 –, é hoje em dia o principal oponente na região, ao lado das Filipinas, às reivindicações chinesas. Pequim e Hanói disputam as ilhas Paracel e Spratly, onde a China planeja estabelecer uma base para operações de resgate, conforme noticiou a imprensa oficial chinesa.

Atento aos movimentos de seu poderoso vizinho do norte, o Vietnã foi reforçando a cooperação militar com outros países da região, como Japão e Austrália, e modernizando seu arsenal, até agora fornecido principalmente pela Rússia. Os Estados Unidos insistem que é preciso garantir a liberdade de navegação em águas por onde passam anualmente cerca de cinco trilhões de dólares em bens comercializados, dos quais mais de 20% são norte-americanos. Em várias ocasiões, Washington expressou preocupação com a velocidade em que a China constrói ilhotas artificiais na zona em disputa. Navios militares norte-americanos realizaram várias patrulhas perto de ilhotas que a China considera território próprio.

Obama negou que a decisão de levantar o embargo, parcialmente relaxado há dois anos para alguns equipamentos de defesa marítima, esteja relacionada à preocupação comum com a China. O fim da proibição “não se baseou na China nem em qualquer outra consideração, mas em nosso desejo de completar o que foi um longo processo de avanços na normalização das relações com o Vietnã”, afirmou, conforme cita a Reuters.

Até o momento, a China se limitou a declarar, tanto antes como depois do anúncio, que espera que a normalização das relações entre Washington e Hanói após o conflito terminado em 1975 contribua para manter a paz e a estabilidade na região. “Aplaudimos a normalização do desenvolvimento das relações entre os Estados Unidos e o Vietnã”, ressaltou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores em Pequim, Hua Chunying.

Os Estados Unidos ainda não especificaram quando ou que armamentos pretendem vender ao Vietnã. Qualquer decisão a esse respeito será tomada caso a caso e dependerá, conforme afirmou Obama, de melhorias no respeito aos direitos humanos, uma área em que o histórico do regime comunista deixa muito a desejar. Na sexta-feira, como sinal de boa vontade, Hanói libertou o padre católico Nguyen Van Ly, preso há cerca de 20 anos por seu trabalho em defesa das liberdades.

Mas o anúncio já despertou a ira dos defensores dos direitos humanos. Para Phil Robertson, sub-diretor para a Ásia do Human Rights Watch, a decisão da Casa Branca “põe a perder muito da capacidade de pressão que os EUA ainda tinham para exigir a melhora dos direitos humanos no Vietnã, e basicamente não consegue nada em troca”.

As reuniões de Obama com as autoridades em Hanói também tinham um aspecto econômico e comercial. Apesar de a China ser o principal parceiro comercial do Vietnã, os Estados Unidos são o principal comprador das exportações do país do Sudeste Asiático. Entre outros acordos anunciados na segunda-feira, a Boeing venderá cem aviões à companhia aérea de baixo custo VietJet no valor de 11,3 bilhões de dólares.

A visita de Obama ao Vietnã termina na quarta-feira, quando o presidente norte-americano viajará ao Japão para participar da cúpula anual do G-7, o grupo de países mais desenvolvidos, e, especialmente, para visitar Hiroshima, onde os Estados Unidos lançaram a primeira bomba atômica da história em 6 de agosto de 1945. Obama será o primeiro presidente norte-americano em exercício a visitar o Memorial da Paz dessa cidade e participar de uma cerimônia em homenagem às vítimas. Embora não esteja previsto um pedido de desculpas por parte do mandatário, espera-se que sua presença sirva para virar a página sobre um assunto que, 70 anos depois, ainda suscita fortes debates.

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