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O Barcelona, campeão dos campeões

Os azuis-grená, com 10 em campo durante uma hora, resistem a um Sevilla competitivo e levantam sua 28ª Copa

José Sámano
Iniesta levanta a Copa do Rei.
Iniesta levanta a Copa do Rei.J.C. Hidalgo. (EFE)

Um jogo duro, tremendo e com variações coroou o Barça na Copa, um Barça obrigado pelas circunstâncias a ser outro Barça. Apertado por um Sevilla inteiro, por este Sevilla tão competitivo que não havia perdido nenhuma das 7 finais em partida disputadas desde 1962, os azuis-grená encararam um roteiro desconhecido. Com Mascherano expulso pouco após meia hora e Luis Suárez machucado na volta do intervalo, a equipe de Barcelona teve que se desdobrar, resistir aos arranques do adversário e esperar pela hora certa. Ela veio na prorrogação, à qual o Sevilla também chegou com um a menos, por um cartão vermelho dado a Banega. E graças a um artilheiro inesperado, Jordi Alba. O lateral marcou um jogo em que colossos como Iniesta, Piqué e Busquets não tiveram foco em seus distintos atacantes. Mas claro que não faltou Messi, autor das duas assistências para os gols, essas diagonais messiânicas que ninguém interpreta melhor que Alba e Neymar, que com seu gol, o último, fez baixar a cortina sobre um Sevilla que não conseguiu se garantir enquanto esteve em vantagem.

O Sevilla começou ditando o ritmo da partida. Mostrou-se o Sevilla mais autêntico, que não deixou os azuis-grená tomarem fôlego, sempre apertados, acossados em cada metro quadrado. Há muito do Atlético, flagelo do Barça mais de uma vez, nessa equipe de centuriões forjada por Emery, onde abundam os soldados rasos de fé infinita, todos de sola gasta. Com o Sevilla tenaz, os barcelonistas viveram um apuro constante, sem a faísca de Neymar –até a parte final-, encapsulado Luis Suárez e com Messi de jaula en jaula, de cadeia em cadeia. Não houve um Barça solto, foi antes confuso, neutralizado exceto em alguma arrancada de Leo e os exóticos passos do Bolshói de Iniesta, mas sempre distante de Sergio Rico, que não apareceu até o final. Neste Sevilla há mais que uma muralha, ele é um conjunto de cercas de arame farpado. Osso duro para qualquer um, incluindo o Barça.

Ceifado o Barça, o time andaluz dominou mais de metade da partida. Sua tática, frente a rivais desse vulto, é rebaixar o adversário. É seu primeiro desafio, e o cumpriu, a ponto de deixar sem trabalho seu goleiro, até a prorrogação quase de folga diante de um ataque com tantos astros. Do segundo movimento, para a frente, cuidaram Iborra e Gameiro. Uma dupla tão básica como eficaz, cristalina. Um caça em voo, o outro, o francês, na velocidade. Ambos protagonizaram a jogada que mudou a trama. Iborra desviou, Gameiro foi para cima de Ter Stegen, e Mascherano agarrou a camisa do gaulês. Expulsão ou expulsão, e foi que aconteceu. No mínimo o Barça teria quase uma hora pela frente em desvantagem. Não tinha conseguido se impor com 11, agora tinha que se virar com 10. E caberia ao juiz administrar a justiça com o mesmo rigor, o que nem sempre fez, aos olhos dos torcedores do Barça, exasperados ao máximo até o vermelho para Banega, vendo um excesso de permissividade com os jogadores do Sevilla.

A perda de Mascherano foi determinante para a partida. Houve mudança de papéis. Luis Enrique esperou o intervalo para tirar Rafinha e pôr Rakitic. Em maioria, o Sevilla viu chegada a hora de mudar de seu papel de resistente. Não é equipe acostumada a conduzir nas grandes ocasiões, sente-se mais à vontade na sala de espera, sempre alerta para as sobras. Ao Barça cabia jogar no contra-ataque. Conduzido por Banega, o Sevilla foi pelas laterais, com Iborra no ponto de mira e Gameiro como alternativa. Mas faltou convicção aos rapazes de Emery, e, fora uma finalização de Banega na trave, não conseguiram superar um adversário protegido pela teia de Piqué, tão efetivo quanto Ter Stegen, goleiro tão bom com as mãos quanto com os pés. Também não faltou a ajuda de Busquets, pau pra toda obra. Com um a menos e Luis Suárez rumo à enfermaria, para o Barça a partida ficou submetida a esses substitutos de menor brilho.

Perda de Mascherano foi determinante para a partida

Subjugados pelo Sevilla, os azuis-grená se socorreram em Iniesta, o calmante de todos, o mais capacitado a puxar a equipe, tirá-la da cova. Com seu cuidado com a bola, que em seus pés fica invisível para os adversários, companheiros e público, Iniesta manteve os seus até que no último suspiro antes da prorrogação Banega derrubou Neymar e foi para o mesmo caminho que Mascherano. O Sevilla perdeu seu momento. Igualadas as forças, surgiu o Messi que conhecemos, o passador sublime, o que patenteou uma jogada autoral: suas diagonais para Neymar e Jordi Alba. Ação vista mil vezes, mas há algo nos gênios que, por mais que repitam o truque, ninguém descobre como é feito. Já na prorrogação, pela enésima vez na temporada, Leo fez a ligação com Alba, que chegou à área como costuma fazer, com a cabeça erguida e um jato nos pés. Gol. Como gol fez Neymar, com outro passe de Messi. Para certificar definitivamente um campeão dos campeões. Por uma dupla conquista de torneios –a sétima de sua história- deste Barça que coleciona 24 Ligas e 28 Copas. E por esse Sevilla mitológico, um competidor feroz sempre à espreita. Glória para ambos, o trono para o Barça e um pedestal para Iniesta.

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