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Trump busca perfil ortodoxo para candidato a vice-presidente

Os dirigentes republicanos veem com maus olhos sua indicação como candidato a presidente

Luis Barbero

O Partido Republicano levará um bom tempo para digerir a ebulição interna causada por Donald Trump. Sua indicação como candidato conservador à Casa Branca em novembro já é praticamente irreversível depois de ele ter riscado do mapa todos os seus adversários, mas as feridas são profundas. Visto com desconfiança por uma boa parcela dos líderes republicanos, Trump já traça o futuro. Um movimento decisivo nesse aspecto será a escolha que fará do candidato a vice, um perfil que terá de funcionar como contrapeso à heterodoxia do ex-astro televisivo.

Trump em evento eleitoral no último sábado em Lynden (Washington).
Trump em evento eleitoral no último sábado em Lynden (Washington).AP
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Depois de fracassar em sua tentativa de barrar Trump, que poucos levavam a sério quando iniciou sua corrida pela indicação republicana há cerca de um ano, o establishment republicano não esconde o desconforto com aquele que será, sem dúvida, o seu representante na eleição daqui a seis meses. Nos últimos dias, os principais dirigentes e lideranças do partido se pronunciaram de uma maneira ou de outra sobre Trump, cuja luta vitoriosa pela indicação se calcou em um populismo que dividiu a sociedade norte-americana em debates sobre temas como imigração e fez tremerem as bases ideológicas dos republicanos.

Os últimos dois presidentes conservadores, George Bush pai e filho, anunciaram que não apoiarão publicamente Trump nas eleições presidenciais, uma batalha que este travará, como já é quase certo, contra a democrata Hillary Clinton. O presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, que ocupa o cargo institucional mais importante dos republicanos hoje em dia, também expressou que não se sente preparado para apoiar o magnata no processo eleitoral. E dirigentes republicanos de origem hispânica se somaram ao coro de vozes que não escondem o seu mal-estar diante daquele que levará a bandeira da candidatura republicana. Trump, no entanto, não recua diante desse movimento interno, que exprime uma dificuldade para acatar aquilo que as bases republicanas decidiram no longo processo das primárias. À medida que sua candidatura ia se tornando incontornável, Trump amenizava os discursos contra o establishment, mas a desconfiança continua sendo colossal. “Creio que os conservadores querem saber se (Trump) compartilha dos nossos valores e nossos princípios. Há uma quantidade muito grande de perguntas cujas respostas os conservadores ainda gostarão de ouvir”, afirmou Paul Ryan.

Lista de vítimas de ataques de Trump no último ano é longa, incluindo hispânicos e mulheres

Disputar eleições com um partido dividido, diante de alguém com a experiência política e a força de Hillary Clinton, poderia ser um suicídio, algo que tanto Trump quanto a elite republicana sabem perfeitamente. A fim de aparar arestas e tentar unificar um partido fraturado pela dura disputa prévia, Ryan convidou Trump para uma reunião com a cúpula do Partido Republicano nesta semana.

Nesse cenário complexo, a escolha do candidato a vice tem um papel relevante. Trump está ciente de que a indicação pode ser importante para se reconciliar com os muitos setores da sociedade norte-americana com os quais se chocou nos últimos meses, começando pelo establishment republicano. Nesse sentido, o magnata nova-iorquino aventou o nome de John Kasich, o governador de Ohio, um político moderado que lutou até a semana passada pela indicação republicana e é bem visto pelo aparato dos conservadores.

FISSURAS À ESQUERDA E À DIREITA

Donald Trump abriu fissuras à esquerda e à direita no Partido Republicano. Seus discursos xenófobos, contra os mexicanos e os muçulmanos, situam-no num terreno muito à direita dos conservadores, já naturalmente partidários da linha-dura com os imigrantes. Esses ataques causaram estragos para os republicanos junto à comunidade hispânica dos Estados Unidos (mais de 50 milhões de pessoas), que majoritariamente rejeita o magnata, segundo as pesquisas dos últimos meses. E chegar às eleições presidenciais tendo contra si a maioria desse eleitorado é uma deficiência que pode ser decisiva no resultado final, algo do que o Grand Old Party está totalmente ciente.

Mas Trump também violou os cânones conservadores pela esquerda. Suas propostas protecionistas colidem com a clássica ideia republicana do livre comércio. Além disso, o magnata se mostrou partidário de elevar os impostos dos mais ricos e aumentar o salário mínimo por hora, um tema que é debatido em todo o país e já foi alvo de legislação em alguns Estados. O fato de um candidato republicano disputar eleições presidenciais propondo aumentar impostos é mais uma amostra de que Trump deixou a política norte-americana de ponta-cabeça.

Mas a lista de afetados por Trump neste último ano é enorme, incluindo hispânicos e mulheres, dois coletivos cujo voto será decisivo nas eleições presidenciais. O senador Marco Rubio, da Flórida, de origem cubana e candidato do establishment até sua demolidora derrota em seu Estado no mês de março, quis conter as especulações de que poderia ser o companheiro de chapa de Trump. "Não o estou procurando, não estou pedindo nada a ele e não vai acontecer", afirmou Rubio.

Outros nomes que circularam são os das governadoras do Novo México, Susana Martínez, e Carolina do Sul, Nikki Haley, uma das principais promessas dos republicanos. Em janeiro, Haley, filha de imigrantes indianos, foi a encarregada de responder a Barack Obama no seu discurso do Estado da União, o que já alimentou especulações de que poderia disputar a vice-presidência. Haley, entretanto, apoiou Rubio nas primárias e também se encontra entre os dirigentes conservadores que questionaram Trump.

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