Para poupar energia, repartições venezuelanas só irão trabalhar às segundas e terças
Seca afeta geração energética e leva o Governo chavista a paralisar o setor público
O vice-presidente da Venezuela, Aristóbulo Istúriz, deu a notícia mais inesperada de todas as que acontecem neste aflito país. O Governo decidiu paralisar quase completamente o setor público, num desesperado esforço para impedir uma queda ainda maior no nível da represa que abastece a principal usina hidrelétrica venezuelana, responsável por 70% da energia consumida no país, o que ameaça causar um blecaute generalizado.
Istúriz divulgou a medida, cujo alcance poderá ser avaliado de forma mais precisa quando for publicada na Gazeta Oficial, logo após sobrevoar a Central Hidrelétrica Simón Bolívar, mais conhecida como a represa de Guri, no Estado de Bolívar (sudeste), na companhia do ministro de Energia Elétrica, Luis Motta Domínguez. Na noite de terça-feira, o presidente Nicolás Maduro informou que a medida valerá a partir desta quarta-feira. As atividades escolares foram suspensas às sextas-feiras para contribuir com essa campanha de economia energética que ocupa o Governo desde o começo do ano.
As autoridades decretaram meses atrás uma espécie de versão local do Período Especial de Cuba, imposto para fazer frente às dificuldades na ilha após a queda da Cortina de Ferro. Ainda antes da Semana Santa Maduro havia decidido que o setor público não trabalharia às sextas-feiras, e bem antes disso restringira todas as atividades vespertinas da burocracia. A partir desta quarta, o expediente das repartições públicas será às segundas e terças, das 7h às 13h.
O chefe do Estado esclareceu que a medida permanecerá em vigor por 15 dias e pediu aos chefes do Executivo e Judiciário que apoiem essa decisão. Todos os olhares da oposição estão voltados para os trabalhos do Conselho Nacional Eleitoral, que atualmente examina as assinaturas de uma petição para um referendo sobre a permanência de Maduro no cargo.
O presidente afirmou que, com a virtual paralisação do setor público, conseguiu atenuar o ritmo de redução da represa de Guri de 20 para 10 centímetros por dia. O Governo chama os apagões diários de “plano de economia energética”, uma interrupção atinge principalmente as províncias, estendendo-se por várias horas durante o dia e a noite.
Uma somatória de fatores levou a Venezuela a esta calamitosa situação: a seca prolongada, causada pelo fenômeno meteorológico El Niño, a falta de investimentos no setor elétrico, sob controle estatal desde 2007, e o fracasso na instalação de usinas termoelétricas que poderiam minimizar a dependência da geração hidrelétrica, que provém do sul do país. A emergência do setor decretada em 2010 pelo então presidente Hugo Chávez terminou em um fracasso retumbante. Parte dos equipamentos comprados não funciona, ou então a verba destinada a eles foi desviada para os bolsos de pessoas escolhidas pelo Estado para importá-los.
O ministro Motta admitiu que a barragem de Guri está a apenas 1,60 metro sobre o nível que levaria ao seu colapso. Neste momento tão difícil, o Governo torce por uma antecipação da temporada de chuvas, ou então por por mais encomendas petrolíferas que permitam continuar financiando o seu modelo de desenvolvimento. Só temporais dignos de um romance de García Márquez poderiam poupar a Venezuela de viver à espera de que a luz volte.
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