Crise no socialismo francês
Reforma trabalhista e algumas medidas antiterroristas dividem a esquerda

As greves realizadas na França contra a reforma trabalhista tornam visíveis as divisões no interior da maioria socialista, que governa o país desde 2012, por causa do desgaste provocado por esse projeto de lei e incrementado pela proposta de reforço do arsenal legal de medidas antiterroristas.
Os protestos atingem o Governo do primeiro-ministro Manuel Valls, impulsionador de uma modernização do mercado de trabalho que na prática extingue a jornada de 35 horas semanais, prioriza os acordos por empresa em detrimento dos setoriais e facilita as demissões coletivas, isso tudo em nome da geração de empregos. Os críticos da reforma veem no projeto uma via para a precarização do trabalho e não se contentaram com a retirada do item que instituía tetos para as indenizações por demissão, decidida de última hora pelo Governo para tentar diminuir os protestos.
Some-se a isso o fracasso da reforma constitucional impulsionada pelo Presidente da República, François Hollande, que voltou atrás em sua intenção de retirar a nacionalidade dos condenados por terrorismo. O erro de Hollande foi mexer em um terreno bastante desestabilizador para a esquerda, que é o das liberdades individuais, em troca de uma medida de eficácia duvidosa para dissuadir terroristas; ele acabou ficando sem força para obter das duas casas parlamentares — uma com maioria da esquerda, e a outra da direita — o consenso necessário para introduzir a medida na Constituição.
Os dois projetos geraram enorme debate no país, mas sobretudo uma divisão entre a corrente mais liberal do socialismo e a esquerda clássica. Em uma país que vive a insegurança diante do jihadismo, preocupado com o desemprego e fustigado pela propaganda da Frente Nacional contra a imigração e contra a Europa, o socialismo se mostra bastante frágil diante de uma direita em reconstrução e de uma poderosa extrema-direita, a um ano das eleições.