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Delcídio: Aécio recebeu dinheiro de Furnas e quis abafar mensalão tucano

Em delação premiada, senador petista afirma que tucano recebeu "valores ilícitos"

Gil Alessi
O senador Aécio Neves, do PSDB.
O senador Aécio Neves, do PSDB.L. Marques (Agência PT)

A delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT) na Lava Jato, tornada pública nesta terça-feira pelo Supremo Tribunal Federal, atinge em cheio Aécio Neves (PSDB), e pode arrastar de vez a oposição para o centro do escândalo de corrupção. No documento de 254 páginas o nome do parlamentar aparece 17 vezes. A principal acusação feita pelo petista contra o colega senador envolve um antigo fantasma dos tucanos: a lista de Furnas, divulgada em 2006. O texto trazia uma relação de 156 políticos que, nas eleições de 2002, teriam recebido dinheiro de caixa 2 da Furnas Centrais Elétricas, empresa de capital misto subsidiária da Eletrobras. Segundo Delcídio disse aos procuradores da força-tarefa, “um dos beneficiários dos valores ilícitos [de Furnas] sem dúvida foi Aécio Neves”. Estima-se que 5,5 milhões de reais tenham irrigado sua campanha para o Governo de Minas. Além disso, o petista acusa o tucano de ter agido para atrasar investigações da CPI dos Correios, de 2005, que poderiam jogar luz no mensalão tucano, até então apontado como o embrião do mensalão petista.

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Esta é a quinta citação ao senador do PSDB no âmbito da Lava Jato feita por colaboradores da Justiça. Até o momento, no entanto, ele não é alvo de inquérito no Supremo, uma vez que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu em março o arquivamento dos processos contra ele. Agora, com a nova delação de Delcídio, existe a expectativa de que o Ministério Público Federal peça ao STF para investigar o tucano.

O senador, que acaba de pedir desfiliação do PT, também destaca em sua delação os laços de amizade entre Aécio e o presidente de Furnas, suposto operador do esquema de corrupção, para reafirmar a acusação de que o tucano recebeu dinheiro ilícito. “Dimas [Toledo, então presidente de Furnas] possui vínculo muito forte com Aécio Neves”. Mais à frente, na delação, Delcídio afirma que, durante uma viagem a Campinas à bordo do avião presidencial, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva indagou quem era Dimas. "É um profissional do setor elétrico, por que o senhor quer saber?”, teria respondido o senador. Na sequência, Lula disse que “o Janene [José Janene, ex-líder do PP na Câmara, morto em 2010] veio me pedir pela permanência dele, depois o Aécio e até o PT, que era contra, já virou a favor da permanência. [Dimas] Deve estar roubando muito!”. Na interpretação de Delcídio, a frase de Lula indica que “seria necessário muito dinheiro para manter três grandes frentes de pagamentos [de propina] a três partidos".

Além da lista de Furnas, Delcídio implica Aécio Neves em um esquema para abafar a divulgação dos dados do Banco Rural à época da CPI dos Correios, em 2005, com o objetivo de ocultar “que a gênese do mensalão teria ocorrido em Minas Gerais”, diz trecho da delação. O chamado mensalão tucano foi um esquema de corrupção no qual o Rural teria sido usado para financiar de forma fraudulenta a campanha de Eduardo Azeredo (PSDB) nas eleições de MG em 1998. Durante a CPI, Delcídio era presidente da comissão, que havia aprovado a quebra do sigilo do banco. “Curiosamente, quando foi feito este pedido de quebra dos sigilos do Banco Rural começou a surgir um certo incômodo por parte do PSDB”, diz trecho da delação feita pelo petista. Mais à frente, ele afirma que “o então governador Aécio Neves era uma dessas pessoas incomodadas com essa quebra (...) Aécio Neves enviou emissários para que os prazos de entrega das quebras de sigilo fossem delongados". A desculpa apresentada pelo tucano foi a de que "não haveria tempo hábil para preparar essas respostas”.

Delcídio também afirma ter ouvido de Janene que "Aécio Neves era beneficiário de uma fundação sediada em um paraíso fiscal, da qual ele seria dono ou controlador de fato". O petista prossegue, dizendo que a empresa seria sediada num paraíso fiscal de Liechtenstein, e estaria em nome de Aécio ou de sua mãe. "Essa operação financeira teria sido estruturada por um doleiro do Rio de Janeiro", diz o senador na delação, fazendo a ressalva de que "não sabe afirmar se há relação entre essa fundação e o mensalão mineiro ou a maquiagem do Banco Rural.”

Em nota, Aécio Neves classificou as citações como "mentirosas que não se sustentam na realidade e se referem apenas a “ouvir dizer” de terceiros", e que "o PSDB não atuou na CPI dos Correios com o objetivo de proteger ninguém". O texto também afirma que a Lista de Furnas "é falsa". Leia a íntegra da nota do senador aqui.

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