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Ascensão populista atinge Merkel e os sociais-democratas alemães

Crise dos refugiados impulsiona partido anti-imigração Alternativa para a Alemanha

O líder da AfD em Baden-Wuertamberg, Joerg Meuthen, comemora o resultado.Foto: atlas | Vídeo: FELIX KAESTLE EFE
Luis Doncel

Os 12,7 milhões de alemães que compareceram às urnas neste domingo para algumas eleições regionais emitiram um claro alerta à chanceler (primeira-ministra) Angela Merkel e seus aliados do Governo. O mal-estar social diante da chegada maciça de refugiados impulsiona os populistas de direita da Alternativa para a Alemanha (AfD), que confirmaram o seu potencial de sacudir o sistema político. É uma humilhação gigantesca para os sociais-democratas, que ficaram atrás da AfD em dois dos três Estados onde houve eleição. Depois dos resultados, as críticas a Merkel e o nervosismo nas fileiras democratas-cristãos, o seu partido, aumentaram a um ano das eleições federais.

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A Alemanha acaba de passar por um terremoto político que atinge todos os partidos. Merkel, que se esforçara para mostrar um “rosto amável” para os refugiados que fogem da guerra ou da perseguição, foi penalizada. Com exceção de alguns resultados positivos atribuídos sobretudo a motivações de ordem pessoal, o único grande vencedor foi a AfD. Com isso, quebra-se a excepcionalidade da Alemanha, que, diferentemente de seus países vizinhos, não contava com uma força populista anti-imigração capaz de interferir na agenda política.

A derrota da União Democrata-Cristã (CDU) foi acachapante. Há alguns meses, as forças ligadas a Merkel tinham tudo a seu favor para recuperar os Estados de Baden-Württemberg e Renânia-Palatinado. Pois fracassou nos dois casos; e cada uma dessas derrotas é dolorida por motivos diferentes da outra. A primeira, porque esse land rico e populoso fora durante 58 anos uma espécie de feudo conservador. Os Verdes, que chegaram ao poder em 2011 sob o impulso da tragédia de Fukushima, confirmaram agora a sua força, desbancando a CDU, que liderava o Estado. O fracasso na Renânia-Palatinado é ainda mais surpreendente. A candidata democrata-cristã, Julia Klöckner, era uma das figuras com maior projeção do partido, e há muito tempo dava a vitória como algo consumado.

Mas o milhão de refugiados que chegaram no ano passado à Alemanha mudou as regras do jogo. A Merkel, resta apenas o consolo de que os dois candidatos derrotados de seu partido haviam se distanciado de sua política em relação à migração. E, paradoxalmente, os dois vencedores — um verde e um social-democrata — haviam defendido a gestão da crise pela chanceler com muito mais convicção do que os democratas-cristãos. Assim, os eleitores desses dois Estados referendaram os líderes mais favoráveis à concessão de asilo; e puniram os que pareciam se afastar da chanceler por motivos meramente eleitoreiros.

Democratas-cristãos da CDU, o partido de Merkel, na Renania-Palatinado, acompanham a apuração das urnas nas eleições regionais.
Democratas-cristãos da CDU, o partido de Merkel, na Renania-Palatinado, acompanham a apuração das urnas nas eleições regionais.Thomas Lohnes (Getty Images)

Os resultados antecipam futuras turbulências na CDU. Seus aliados bávaros da CSU, que nos últimos meses atuaram como oposição dentro do Governo, não demoraram a reagir, e já exigem uma mudança de política.

Ninguém espera que estas eleições tenham um efeito equivalente às de 2005. Naquele ano, uma derrota regional motivou o chanceler Gerhard Schröder a adiantar as eleições nacionais, o que acabou levando ao fim de seu Governo e ao início da era Merkel. Tudo indica que a líder resistirá. Mas o golpe sofrido promete transformar em calvário o ano e meio que resta de legislatura.

Os efeitos da AfD

A situação é ainda mais dramática para os aliados de Governo de Merkel, os social-democratas do SPD. Na Alta Saxônia (Saxônia-Anhalt) e em Baden-Württemberg conseguiram pouco mais de 10%, claramente atrás da AfD, um partido que não consideram democrático. Conseguiram salvar o dia com a vitória na Renânia-Palatinado, mas a situação para o líder do partido, Sigmar Gabriel, é de extrema debilidade. Ele mesmo reconheceu que estas eleições representam uma guinada. Gabriel pediu que os membros do Governo cessem as disputas dos últimos meses, que no final só beneficiam a AfD.

Uma amostra de como estas eleições mudam o panorama político é que a grande coalizão — uma fórmula que sempre restava como última opção para formar Governo — não basta em dois dos três Estados. A consolidação da AfD — presente já em oito dos 16 Parlamentos regionais — complica assim a busca de maioria em um sistema político tão necessitado de pactos como o alemão. O segundo efeito do sucesso dos populistas é a radicalização e polarização do debate público.

Surpreende especialmente a vitória dos radicais na Alta Saxônia. O pequeno Estado oriental é território propício para os que insuflam o medo da imigração. No leste da Alemanha nasceu o movimento islamofóbico Pegida e ali são mais numerosos os ataques a solicitantes de asilo. Mas nenhuma pesquisa previa os 24% dos votos obtidos pela AfD, que a coloca como segunda força regional. A transferência de votos se explica ali não só por causa dos antigos democratas-cristãos que abandonaram Merkel devido a seu centrismo. O partido Die Linke (A Esquerda), herdeiro dos comunistas, também sofreu um forte desgaste. Confirma-se, assim, a experiência de outros partidos radicais europeus, apoiados por pessoas das mais variadas procedências ideológicas.

OS VERDES, PELA PRIMEIRA VEZ OS MAIS VOTADOS

À margem dos populistas xenófobos, a noite de domingo deixa dois claros vencedores. O primeiro é Winfried Kretschmann, o presidente de Baden-Württemberg que há cinco anos se tornou o primeiro político verde a liderar um Estado federal. Esse representante da ala conservadora dos ecologistas obtém agora outro recorde: colocar seu partido pela primeira vez como o mais votado em um land.

A segunda vencedora é a social-democrata Malu Dreyer. Com sua vitória na Renânia-Palatinado evita para a catástrofe total seu partido. Os dois líderes, também afetados pelo terremoto político na Alemanha, terão dificuldade em formar Governo e é provável que não reste outra opção a não ser uma coalizão com a CDU.

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