Argentina anuncia cortes de energia pela primeira vez em 27 anos
Governo Macri enfrenta crise energética herdada do kirchnerismo
Nos últimos anos, os argentinos se acostumaram, a contragosto, a ficar sem eletricidade nos dias mais quentes do verão. Sem qualquer aviso, um bairro ou um quarteirão ficava sem luz, refrigerador, ventilador ou ar condicionado por algumas horas ou vários dias. Mas não eram apagões de grande alcance. Por isso, residentes de Buenos Aires começaram a protestar, a partir de 2013, com piquetes em determinadas ruas para chamar a atenção dos meios de comunicação, serviços públicos e autoridades. A falta de investimento em distribuição de energia elétrica foi um dos legados de 12 anos de kirchnerismo.
O novo Governo do liberal Mauricio Macri estreou no verão com novas interrupções do serviço e protestos de rua, mas, na quarta-feira, decidiu que os cortes de energia serão programados e sem surpresas, se o calor continuar nesta quinta e sexta-feira. Durante estes dois dias, das 13h às 16h, cerca de aproximadamente 386.000 consumidores ficarão sem luz em 50 bairros da capital argentina e subúrbios. Nesta cidade, os domicílios com energia elétrica totalizam 5,6 milhões.
É a primeira vez, desde 1989, que a Argentina anuncia racionamento de energia. Durante um ano, o então Governo de Raúl Alfonsín estabeleceu interrupções prolongadas e generalizadas diante dos graves problemas de geração de energia. Os apagões aumentaram a impopularidade de Alfonsín no final dos seus seis anos de mandato, em meio a uma hiperinflação de 3.079%.
O kirchnerismo nunca quis que os cortes fossem programados, para evitar qualquer comparação com o colapso de 1989. Já o presidente Macri optou por fazer uso deles. Além dos inconvenientes na distribuição, também surgiram outros relacionados à geração nos últimos dias.
Assim como o Governo de Macri culpa o legado kirchnerista pelos cortes, alguns prefeitos nos arredores de Buenos Aires reforçam o coro de consumidores e políticos kirchneristas nas críticas às concessionárias de energia do setor privado. Em Buenos Aires, existem duas distribuidoras de energia: a Edenor, do empresário Marcelo Mindlin, e a Edesur, controlada pela italiana Enel com alguns acionistas argentinos, como Nicolás Caputo, um dos principais amigos e assessores mais próximos de Macri. Em geração, os principais fornecedores no país são a estatal argentina-paraguaia Yacyretá, Pampa Energía, de Mindlin, a norte-americana AES, Enel e o grupo Miguens Bemberg.
As concessionárias de energia estão esperançosas com o recente aumento de até 500% das tarifas em Buenos Aires. A medida visa reduzir os subsídios que financiavam tarifas mais baixas, assim limitando o benefício apenas para as famílias pobres, de modo a contribuir para a redução do déficit fiscal e desencorajar o consumo de energia. Até janeiro passado, os usuários da capital e arredores pagavam mensalmente pela eletricidade o equivalente a um doce, um café ou uma garrafa de refrigerante. Claro que o aumento das tarifas de um dia para o outro, depois de 15 anos sem reajustes, terá impacto nos bolsos das famílias, nos preços de outros serviços e produtos e provocou uma queixa da União Industrial Argentina e da Associação de Pequenas e Médias Empresas.
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