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Casos de síndrome de Guillain-Barré, ligada ao zika vírus, elevam tensão no Rio de Janeiro

Afetados pela Guillain-Barré, doença rara associada ao vírus, se multiplicam em Hospital do Rio

María Martín

O aumento de casos da síndrome neurológica de Guillain-Barré no Rio aumentou a preocupação sobre as consequências da contrair o zika vírus, para além da microcefalia. Só neste ano, conforme divulgou o jornal O Globo, o Hospital Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense, atendeu 16 pacientes com a doença rara. A Organização Mundial da Saúde associa a síndrome ao vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que já infectou pelo menos 500.000 brasileiros, segundo o Ministério da Saúde.

Campanha de conscientização sobre o zika vírus no Carnaval do Rio.
Campanha de conscientização sobre o zika vírus no Carnaval do Rio.C.S. (AFP)
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O sistema imunológico de quem padece desta síndrome acaba atacando o sistema nervoso, chegando a paralisar os músculos e, em casos extremos, os músculos responsáveis pela respiração, como o diafragma, param de funcionar. Embora a mortalidade da síndrome é considerada baixa – cerca de 5% dos casos – o Governo da Colômbia acabou de confirmar as três primeiras mortes associadas ao zika, de três pacientes portadores da síndrome Guillain-Barré.

“As pessoas se preocupam muito com a microcefalia [que tem 3.893 casos suspeitos no Brasil], e acho que devem, mas existe uma doença que pode afetar indivíduos em qualquer idade e que, em algumas situações, pode ser grave. É uma síndrome que nós vemos em 0,5 a 4 indivíduos por cada 100.000 habitantes, e que de repente passa a nos preocupar ao recebermos informação de colegas do Nordeste alarmados pelo número elevado de pacientes com a síndrome e que sofreram uma infecção prévia do zika”, relata o professor titular e coordenador de pesquisa e pós-graduação em Neurologia da Universidade Federal Fluminense, Osvaldo Nascimento.

“Só no mês de janeiro tivemos seis pacientes internados e cerca de dez atendidos, com sintomas leves de síndrome de Guillain-Barré, no ambulatório. Todos com história de infecção pelo vírus zika. Precisamos de investimento das autoridades para investigar e estudar os casos. Se começarmos a receber pacientes, o hospital não tem estrutura para atendê-los”, alerta o médico, supervisor de ensino do centro. O hospital, referência em doenças dos membros periféricos, e que costuma receber cinco casos por ano, só confirmou a internação de um paciente com a síndrome e afirmou em nota que “não há motivo no momento para o pânico e alarde na população”.

Os primeiros laços entre o vírus zika e a síndrome Guillain-Barré foram estabelecidos pelos cientistas em 2013-2014, durante o primeiro surto do vírus na Polinésia Francesa, que ainda coincidiu com um surto de dengue. Assim como as autoridades do território francês de ultramar, as autoridades no Brasil também atestaram um aumento dos casos da doença. O Ministério da Saúde não conta com dados oficiais no país pois a notificação dos casos não é compulsória, mas segundo um levantamento de dezembro do portal de notícias G1, pelo menos seis estados observaram um aumento significativo de ocorrências da síndrome. Em Pernambuco, foco do surto de microcefalia e em estado de emergência pelo vírus, foram registrados os casos de 130 pacientes com a Guillain-Barré frente aos nove de 2014. Aumento de casos foram observados também no Piauí e no Maranhão.

A síndrome pode afetar pessoas de todas as idades e começa com formigamento e alteração da sensibilidade nas extremidades. A síndrome não tem uma cura específica. O tratamento é baseado no combate aos sintomas mediante a injeção de imunoglobinas e plasmaférese. Segundo o National Institute of Neurological Disorders and Stroke (Instituto Nacional de Desordens Neurológicas e Derrame, em suas siglas em inglês), a parte mais crítica do tratamento é manter o corpo do paciente funcionando enquanto se recupera, pois em alguns casos é preciso conectar a pessoa a respiradores automáticos o monitorar constantemente o trabalho do coração. A maioria dos pacientes consegue recuperar a mobilidade após um ano da doença, mas cerca de 30% deles mantêm sequelas após três anos de tê-la contraído, segundo o Instituto.

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