Brasil festeja o Carnaval apesar do zika vírus
A epidemia de microcefalia não afetou, até agora, a participação nas ruas
O mosquito Aedes Aegypti foi enterrado em uma festa, nesta sexta-feira, em Olinda (PE). A Secretaria da Saúde do município, com 370.000 habitantes, organiza há mais de dez anos um desfile de Carnaval que procura educar os moradores no sentido de conter o avanço da dengue. Neste ano, os participantes incluíram o zika vírus, transmitido pelo mesmo inseto, como inimigo. Dentre as recomendações divulgadas: não deixar água parada em casa ou no jardim, usar repelente e, se a moradora estiver grávida, redobrar os cuidados.
Apesar de tudo, o Carnaval começou nesta sexta-feira no Brasil, o país mais afetado pelo zika vírus. Houve desfile de escolas de samba na avenida em São Paulo. Neste sábado, os desfiles continuam e milhões de pessoas saíram às ruas para acompanhar os blocos nas principais cidades do país: Rio, Salvador, Recife, entre outras. Ainda que seja necessário levar um repelente a tiracolo, os brasileiros decidiram esquecer as más notícias, incluindo os riscos gerados pelo zika vírus. Só o Cordão da Bola Preta, tradicional bloco carioca, reuniu 1 milhão de pessoas no centro da cidade. A doença está, aparentemente, vinculada à microcefalia, uma malformação que atinge o cérebro do feto causando graves doenças para o resto da vida e que pode ter atingido 3.670 recém-nascidos desde o fim de outubro de 2015.
As festas tiveram início dentro da normalidade. Não houve cancelamento de bailes nem de desfiles de rua, que reúnem milhares de pessoas, embora paire no ar um clima de mais preocupação e incerteza. Ninguém sabe efetivamente a dimensão já alcançada pela transmissão do zika vírus, onde e desde quando, nem quais são as consequências a longo prazo, embora os especialistas insistem em dizer que é preciso manter a calma: em 80% dos casos, as pessoas que contraem a doença não manifestam nenhum sintoma, enquanto outras apresentam manchas avermelhadas no corpo, coceira e febre baixa. No entanto, o vírus também é apontado como responsável pelo aumento, no Brasil, de casos de uma outra doença neurológica, a síndrome de Guillain-Barré, que pode causar paralisia.
Não é fácil manter a atualização permanente sobre a evolução da epidemia, pois novidades surgem a cada instante. Nesta sexta-feira, por exemplo, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (instituição vinculada ao Ministério da Saúde) afirmaram ter encontrado o vírus ativo na saliva e na urina de pacientes infectados. A Fundação esclareceu que é preciso pesquisar mais para confirmar a transmissão por essas duas vias, mas essa descoberta gera preocupação. Na semana passada, a Organização Mundial da Saúde alertou para o fato de que o vírus se expandiu de forma “explosiva” e declarou a microcefalia, que pode ser gerada por ele, uma emergência mundial.
Se for confirmado que o contágio pode ocorrer pela saliva, essa seria uma explicação para a velocidade com que o vírus tem se expandido. O problema é que grande parcela dos que participam dos festejos do Carnaval no Brasil considera o beijo um componente essencial dos blocos, que realizam os desfiles de rua. Ao mesmo tempo em que a notícia da possível transmissão pela saliva vinha a público, as redes sociais eram inundadas por brincadeiras sobre isso, e o jornal O Globo estampou o seguinte título para a sua matéria: “Posso beijar no Carnaval ou devo ter medo do zika vírus?”.
A situação é particularmente delicada por se tratar de um período de chuvas em muitas regiões do país, e as grandes aglomerações de pessoas também podem facilitar o contágio. Alguns especialistas criticaram a campanha feita anualmente pelo Governo para o Carnaval, que está centrada na recomendação do uso de preservativo nas relações sexuais para evitar doenças transmitidas por essa via, sem mencionar o Aedes Aegypti – embora haja, também, uma campanha pública referente à dengue e ao zika. Enquanto o Brasil se preparava para sair às ruas, quatro farmácias do centro financeiro de São Paulo informavam, na tarde de sexta-feira, que seus estoques de Exposis, um dos mais fortes repelentes de mosquitos, estavam esgotados.
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