Morre aos 65 anos a cantora Natalie Cole
A artista, filha de Nat King Cole, teve numerosos problemas de saúde e em 2009 se submeteu a um transplante de rim
Natalie Cole, cantora de soul, jazz e pop, morreu no último dia de 2015, na sua Los Angeles natal, no hospital Cedar Sinai. Natalie, de 65 anos, foi a única dos cinco filhos do lendário Nat King Cole que se dedicou com sucesso ao mundo do espetáculo.
Poderíamos dizer que Natalie Cole recebeu de seu pai um presente envenenado. Nat King Cole teve êxito, mas teve de enfrentar o racismo ainda imperante nos Estados Unidos do presidente Eisenhower. Apesar da limpa imagem familiar, no lar dos Cole houve muitas turbulências: as infidelidades do pai estiveram a ponto de romper seu casamento, embora que a união se recompôs quando se detectou o câncer que acabou com sua vida em 1965. Naquelas batalhas, Natalie tomou partido pelo pai e decidiu se dedicar a seu ofício. Enfrentou a mãe, Maria, que havia desenvolvido certa antipatia pelo show business. Depois de seus anos universitários, onde inclusive flertou com o radicalismo político dos Panteras Negras, começou a cantar profissionalmente. Seu sobrenome facilitava os contratos, mas a longo prazo resultou ser uma âncora: produtores e gravadoras esperavam um repertório middle of the road e ela era uma criatura dos anos sessenta, atraída pelo soul e o rock. Ela se negava a interpretar as canções identificadas com Nat King Cole.
Foi lançada pela Capitol Records, a companhia de seu pai, em 1975 e teve sucesso imediatamente, com músicas como Inseparable, Sophisticated lady ou I’ve got love on my mind. Os produtores seguiram o modelo dos discos maduros de Aretha Franklin, o que provocou a irritação da Rainha do Soul. Na verdade, Aretha não tinha nada a temer: a proximidade de Natalie às drogas pesadas não era um segredo na indústria musical e explicava os numerosos deslizes e ausências. Além disso, Natalie era mais flexível no musical: em 1988, colocou nas listas de mais ouvidas sua versão new wave de uma canção de Bruce Springsteen, Pink Cadillac.
Já nos anos noventa, Natalie se rendeu à pressão e decidiu explorar o legado familiar. Aceitou que a sombra de seu pai era gigantesca demais: viu a agonia de seu tio, o grande cantor e pianista Freddy Cole, cujo desespero o levou a titular um álbum I'm Not My Brother I'm Me. Em 1991, Natalie lançou Unforgettable… with love, onde recriava sucessos do pai. E não só isso: a tecnologia permitia que gravasse um dueto com a voz de Nat King Cole, o que as línguas pérfidas do negócio musical chamaram de “desenterrado”. Mas isso se dizia em petit comité: em um de seus espasmos de tradicionalismo, a Academia premiaria Natalie com vários prêmios Grammy.
A fórmula do “desenterrado” se popularizaria internacionalmente: sua aceitação comercial facilitou aberrações com duetos entre dois ou mais artistas que estavam há décadas debaixo do chão. Pode ser afirmar que ela aproveitou bem a ressurreição de sua carreira: além dos inevitáveis discos de Natal e as gravações com orquestras sinfônicas, deu vazão à sua paixão pelo jazz. Em 2000, publicou uma autobiografia, Angel on my shoulder, onde relatava seus problemas com a heroína, o crack e o álcool, além de seus conflitos religiosos. Essas confissões facilitaram sua aceitação pelo mundo da televisão, onde protagonizou abundantes especiais e apareceu como atriz em diversas séries; convenientemente embelezada, sua vida transformou-se em um telefilme chamado Livin’ for love. Como ela reconhecia, era seu sobrenome o que despertava a curiosidade de personagens tão diversos como Nelson Mandela ou Frank Sinatra.
Seus últimos anos foram marcados por problemas de saúde. Portadora de hepatite C, teve que se submeter a um transplante de rim em 2009. Foi particularmente crítica com artistas que exibiam seus excessos, como Amy Winehouse e viveu como uma tragédia a morte de sua amiga Whitney Houston.
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