FIFA: sucessão de Blatter está acirrada
Divisão dos votos asiáticos ameaça o favoritismo do suíço Gianni Infantino
Metido em um casaco escuro, com sinais de esgotamento no rosto, Gianni Infantino, secretário-geral da UEFA e candidato à presidência da FIFA, encaminha-se para o terraço do sofisticado hotel Baur au Lac, em Zurique. Quatro Mercedes pretas e um imponente Rolls Royce, propriedade do hotel, mas colocados a serviço da FIFA, ocupam a entrada do luxuoso hotel que hospeda os poucos dirigentes do futebol mundial que ainda não se viram envolvidos nos escândalos de corrupção. Dois deles, Juan Ángel Napout, presidente da Conmebol, e Alfredo Hawit, seu homólogo da Concacaf, passariam a engrossar horas mais tarde essa lista negra ao serem detidos pela Justiça suíça, acusados de receberem subornos milionários pela venda de direitos televisivos de torneios na América do Sul e Central, além de jogos de eliminatórias para Copas.
Em seu trajeto, Infantino ganha a companhia do xeque Ahmad al Fahad, membro do comitê executivo da FIFA e também um peso-pesado do Comitê Olímpico Internacional, do handebol internacional e do futebol asiático. No terraço, já com uma parte envidraçada e preparado com estufas para a chegada do frio, uma linda e apetecível casinha de bolachas e chocolate, ornamentada com guloseimas, testemunha o encontro entre dois potenciais aliados nas eleições para a presidência da FIFA. O xeque Ahmad apoia o xeque Salman bin al Khalifa, presidente da Confederação Asiática de Futebol e um dos candidatos à sucessão de Joseph Blatter na votação de 26 de fevereiro do ano que vem.
Nas últimas semanas, Infantino obteve da Conmebol o mesmo apoio incondicional que a entidade sul-americana dava a Michel Platini, presidente suspenso da UEFA e também envolvido em escândalos. Mesmo depois de Napout engrossar a lista de supostos corruptos na mira do FBI e da Justiça suíça, Infantino continua contando com os 10 votos da Conmebol. O uruguaio Wilmar Waldez, que assumirá nesta semana a presidência interina da entidade regional, trabalhou com Infantino no Comitê de Reformas da FIFA que elaborou uma bateria de novas medidas contra a cultura Blatter, com a intenção de regenerar a questionada instituição que dirige o futebol mundial. “Infantino é mais um executivo do que uma figura representativa. A FIFA precisa mais de trabalho do que representação, e ele está capacitado para assumir essa regeneração”, afirma Waldez.
Possível ruptura
Apesar desses 10 votos assegurados entre as confederações sul-americanas, Infantino e sua equipe anteveem uma batalha mais acirrada do que se esperava, porque a Ásia (46 votos) não parece tão disposta a apoiar Salman em peso. Não só a candidatura do príncipe jordaniano Ali bin al Hussein pode ser um elemento de ruptura, como também há a questão do Catar, que apoiará o candidato que não tentar lhe tirar a Copa de 2022.
A soma dos votos asiáticos com os europeus (53 ao todo), que virtualmente assegurariam a eleição de Infantino se somados aos da Conmebol, não parece tão clara. “A Ásia pode estar mais dividida do que pensamos”, admite um assessor de Infantino. O suíço esteve há duas semanas na Índia para buscar votos do futebol asiático que lhe permitam alcançar a maioria simples entre as 209 confederações afiliadas à FIFA. Nessa viagem exaustiva, algo que transparece em seu rosto, ele também incluiu uma visita a Papua-Nova Guiné para solicitar alguns dos 11 votos da Oceania, território histórico de Joseph Blatter que deverá ser herdado por algum dos dois candidatos que parecem mais próximos do cartola suíço, o francês Jerome Champagne e o sul-africano Tokyo Sexwale. A Oceania não estava com Platini, mas Infantino, segundo membros da sua equipe, causou boa impressão aos representantes desse continente. “Em geral, o feedback que ele está recebendo das suas reuniões está sendo positivo”, garantem. As contas de Infantino passam por assegurar o maior número de votos da Ásia e garantir o máximo que for possível na África (54) e Concacaf (35).
A imagem do presidente interino da FIFA, o camaronês Issa Hayatou, quase dormindo, as detenções de Napout e Hawit e os 16 novos indiciamentos anunciados pelo Departamento de Justiça dos EUA deixaram em segundo plano a aceitação das reformas a serem aprovadas em 26 de fevereiro pelo Congresso da FIFA. Na exposição feita inicialmente por Hayatou e depois pelo presidente do comitê de reformas, François Carrard, amigo de Blatter, pairou a sombra da velha FIFA. Ambos insistiram que esse processo já está em andamento desde 2011, e que algumas das medidas já haviam sido propostas anteriormente. Havia uma intenção clara de fazer constar que Blatter iniciara uma regeneração que, entretanto, não começou a ser aplicada até que os escândalos estourassem.
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