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Reação de Maduro a eventual derrota eleitoral inquieta a Venezuela

Presidente amplia os ataques verbais contra seus críticos e tenta motivar desencantados

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, durante um ato de campanha eleitoral.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, durante um ato de campanha eleitoral.Miguel Gutiérrez (EFE)

A inquietação sobre o que pode acontecer durante e depois das eleições legislativas do próximo domingo na Venezuela cresce com o passar dos dias. Em um cenário no qual as pesquisas dão clara vantagem à oposição – uma situação incomum nos 17 anos de Governo bolivariano –, os críticos, segundo várias fontes, se lançam a especulações sobre como os governistas reagirão a um eventual resultado adverso. Nos últimos dias, o Governo de Nicolás Maduro intensificou a perseguição aos empresários.

“Se acontecesse o pesadelo de perdermos, a revolução adquiriria novos rumos e um novo caráter”, clamou o presidente na terça-feira, durante seu programa semanal de televisão, para em seguida acrescentar: “Se perdermos as eleições, a revolução continua, e continuaremos lutando da rua”. Vários setores da oposição interpretaram essa afirmação como uma ameaça semelhante à que Maduro proferiu semanas antes, quando disse que o chavismo deveria vencer as eleições “do jeito que for”.

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Aquela foi a primeira vez que Maduro, com baixíssima popularidade – ao contrário de seu antecessor, o falecido Hugo Chávez –, manifestava claramente a possibilidade de o chavismo perder o controle da Assembleia Nacional. Se isso ocorrer, seria preciso levar em conta a margem obtida pela oposição sobre o governismo, a fim de calibrar as medidas que Maduro poderia adotar a partir do próximo domingo. Se as pesquisas estiverem certas, a oposição teria o controle total, mas tudo indica que, em caso de vitória, esta será por uma margem apertada – a maioria simples é de 84 deputados –, o que, entre outras coisas, complicaria a convocação de um referendo revogatório contra Maduro em 2016 e a aprovação de uma anistia para presos políticos, que são duas das iniciativas mais repetidas pela oposição. Para tentar evitar o triunfo de seus rivais, Maduro intensificou nos últimos dias os ataques verbais aos seus críticos e iniciou uma campanha para tentar motivar o amplo espectro de chavistas desencantados. Na semana passada, em pleno processo eleitoral, ele anunciou que inauguraria mais de 50 obras em diferentes Estados do país.

Mais desabastecimento

As eleições venezuelanas ocorrem num momento de agravamento do desabastecimento de produtos de consumo básico, que há dois anos aflige o varejo venezuelano. O Governo de Maduro parece decidido a aproveitar a conjuntura para tirar proveito eleitoral, razão pela qual, além dos ataques a políticos, também está arremetendo contra os empresários. “Bandido (…). Você é um diabo. E cada diabo acaba tendo a sua água benta”, vociferou Maduro, dirigindo-se a Lorenzo Mendoza Giménez, um dos três venezuelanos que costumam aparecer na lista de bilionários da revista Forbes. Ele é o dono e principal executivo do grupo Empresas Polar, a maior companhia privada do país.

Além disso, Maduro anunciou que havia mandado prender o gerente de um supermercado em Guarenas, cidade-dormitório a leste de Caracas. O presidente passava por ali para inaugurar obras quando, segundo relatou, percebeu que havia uma longa fila em frente a um supermercado da rede Plaza’s. “Mandei imediatamente investigar, e descobriram que o gerente havia mandado fechar as portas para criar uma fila e para fazer as pessoas sofrerem. Essa é uma tática psicológica deles. Em seguida ordenei que enviassem uma comissão do SEBIN [polícia política] e o prenderam para mim. Vão me chamar de ditador, mas não me importa, é preciso fazer justiça”, acrescentou Maduro no dia seguinte, durante o comício de encerramento da campanha eleitoral em Barquisimeto (centro-oeste do país).

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