Com chances de vencer, oposição da Venezuela tem de provar solidez
A oposição pode ser grande vencedora das eleições legislativas de 6 de dezembro No entanto, a vitória pode ocasionar uma série de novas tensões entre lideranças
A cena acontece em Chacao, mas se repete em Petare ou no bairro de Pinto Salinas, lugares que representam diferentes ecossistemas desta Caracas que enfrenta, sob um sol forte, o final do ano com um acontecimento que, sem dúvida, marcará o futuro dos próximos meses na Venezuela. "Abajo, a la izquierda, en la esquina, la de la manito (Abaixo, à esquerda, na esquina, aquela do polegar)”. Através de uma melodia própria de uma canção pegajosa e fácil de memorizar, os defensores dos diversos partidos de oposição venezuelanos destacam o lugar ocupado pela Mesa da Unidade Democrática (MUD), que reúne a maioria das forças da oposição, na cédula eleitoral.
Não é meramente um exercício de propaganda eleitoral. A cantiga visa evitar que a escolha da MUD seja confundida com a opção que está bem próxima na cédula, que também mostra a palavra Unidade, mas que é de um partido próximo ao Governo. Mas, acima de tudo, para que a ideia de ir às urnas no domingo seja martelada insistentemente. Na noite de 6 de dezembro, a oposição, segundo todas as pesquisas, pode conseguir uma vitória sem precedentes nos 16 anos de Revolução Bolivariana, com a maioria dos assentos na Assembleia Nacional.
Esse triunfo inédito —que ainda precisa se cristalizar nas urnas em meio a condições adversas, como uma lei eleitoral que prejudica claramente a oposição pela distribuição dos assento— poderia se transformar, em vez de um catalisador da precária aliança, em uma fonte de novas tensões que coloquem à prova a solidez de uma unidade nem sempre harmoniosa.
Até agora, a aversão ao chavismo tem servido como força de compressão para a unidade. No entanto, a maneira de combater o oficialismo poucas vezes foi unânime. A divergência sobre esse ponto ameaçou provocar um racha em 2014, quando uma facção da oposição, liderada por María Corina Machado e Leopoldo López, impulsionou o movimento A Saída, o que foi interpretado como uma tentativa de derrubar o Governo de Nicolás Maduro. Enfrentava-se, assim, o setor dominante da MUD, liderado por aquele que foi duas vezes candidato à presidência e atual governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles Radonksi, que defendia cumprir o calendário eleitoral para, enquanto isso, fazer um trabalho político capaz de persuadir cada vez mais eleitores das classes populares para apoiar a oposição. Ainda hoje, muitos simpatizantes e líderes próximos a Machado e a López, preso há quase dois anos, criticam muito Capriles, a quem não perdoam porque o ex-candidato, depois de perder para Maduro em 2013 por uma margem apertada, tentou acalmar os ânimos e não convocou a população para tomar as ruas, como reivindicavam os outros opositores.
Com o enfraquecimento do movimento A Saída, as negociações internas para lançar os candidatos parlamentares ocorreram em meio a inúmeras disputas locais. Em março de 2015, a MUD optou por definir suas candidaturas através do consenso das forças políticas, mas, participar das eleições primárias apenas quando conseguisse o consenso, tornou-se impossível. No final, depois de um tortuoso processo que se arrastou até junho para mostrar resultados, foram nomeados 127 candidatos por consenso e 40 por voto direto dos militantes.
Esse triunfo inédito poderia se transformar em fonte de novas tensões que ponham à prova a solidez de uma unidade nem sempre harmoniosa
O método pretendia acelerar a nomeação de representantes da oposição e, acima de tudo, minimizar o estragos de um conflito interno. Apesar desse esforço, ficaram algumas feridas. Nos principais circuitos, alguns dos pré-candidatos descartados decidiram entrar na disputa como independentes. As pesquisas de opinião apontam até 10% das intenções de voto para essas candidaturas. Um exemplo de destaque é o do empresário e atual deputado do Estado de Lara (centro-oeste do país), Eduardo Gómez Sigala, que empata — e, segundo algumas fontes, supera — com o candidato oficial da oposição, Alfonso Marquina.
A unidade foi possível também porque, de certa forma, são eleições que não são mandatórias, onde importa mais a votação em bloco do que em um ou outro deputado. Por isso, foi possível evitar ter um líder que predomine sobre o resto. A posição foi conseguida pelo secretário executivo da MUD, Jesus Torrealba, apoiado por todos os líderes da oposição. Estes fizeram campanha separadamente. Apesar desta quinta-feira marcar o encerramento da campanha da MUD, desde o início deste ano não foram vistos juntos em um evento Capriles, María Corina Machado, muito mais ativa do que o primeiro, e Lilian Tintori, que despontou como uma espécie de alter ego do marido, preso na penitenciária de Ramo Verde.
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