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Reforma trabalhista e corrupção no debate entre candidatos espanhóis

No primeiro debate na Internet entre líderes com possibilidade de governar a Espanha, premiê Mariano Rajoy decide não participar

Foto: reuters_live | Vídeo: Uly Martín

Pedro Sánchez (PSOE), Albert Rivera (Ciudadanos) e Pablo Iglesias (Podemos) confrontaram suas propostas durante quase duas horas, no debate organizado pelo EL PAÍS, o primeiro na Internet, entre líderes com possibilidade de chegar ao Palácio La Moncloa. Os três expuseram uma bateria de propostas em todos os blocos analisados, mas também mantiveram enfrentamentos cruzados ácidos, ainda que mantendo um tom e um estilo novos, como, por exemplo, a informalidade de tratamento entre os três. Houve enfrentamentos entre Sánchez e Rivera quando o primeiro identificou o Ciudadanos com a direita e o PP, e entre o socialista e Iglesias, quando este insistiu na presença de ex-dirigentes do PSOE em conselhos de administração de grandes empresas.

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Tudo isso em um debate ágil e sem a camisa-de-força dos anteriores e diante do púlpito vazio de Mariano Rajoy, candidato do PP, que se negou a participar. Os três candidatos deixaram o presidente do Governo fora do palco, pelo menos momentaneamente e por sua própria vontade.

Iglesias e Rivera se esforçaram para tentar identificar o PSOE com o PP e atribuir aos socialistas muitas das disfunções do sistema. Sánchez procurou apresentar-se como o líder do partido que há mais tempo governou na Espanha e que implantou o Estado de bem-estar social. “Os socialistas somos os arquitetos do Estado de bem-estar”, afirmou o candidato socialista.

A primeira divergência ocorreu no bloco relativo ao jihadismo e à possibilidade de a Espanha ter de intervir em um conflito bélico na Síria e na Líbia. Rivera explicou que, com consenso e com respaldo da legalidade internacional da ONU, é preciso ajudar a França. Sánchez também defendeu o apoio à França e recordou que o PSOE mudou a lei para que seja necessária a autorização do Parlamento. Iglesias se destacou dos dois, explicando que os bombardeios não serviram para nada no Afeganistão, Síria, Iêmen ou Iraque, e comprometendo-se a realizar um referendo antes de agir.

Neste ponto chegou o primeiro ataque direto de Iglesias a seus dois oponentes ao identificar Rivera com Aznar e a Guerra do Iraque, e ao contrapor a posição de Sánchez com a de José Luiz Rodríguez Zapatero, contrária às intervenções militares.

No bloco seguinte, o das propostas econômicas, o principal ponto de desconformidade foi o compromisso de Rivera para estabelecer um contrato único. Tanto o líder do PSOE como o do Podemos rechaçaram esta ideia com o argumento de que se trata de uma proposta de direita. As propostas econômicas do líder do Ciudadanos foram o complemento salarial, o contrato único, a reforma do regime dos autônomos, a queda do IRPF e a mudança do modelo de trabalho. As de Iglesias, a luta contra a fraude fiscal, a redução do IVA, os impostos sobre transações financeiras e a renovação do modelo produtivo, com o uso de energia limpa e renovável.

Sánchez se comprometeu de novo a abolir toda a reforma trabalhista do PP e falou de um “projeto claro, progressista e realista” e da proteção dos desempregados sem benefícios, além de expor o que qualificou de conquistas do PSOE no estado de bem-estar.

A troca de recriminações neste caso veio da rejeição ao contrato único proposto pelo Ciudadanos e no debate entre Iglesias e Sánchez. O líder do Podemos colocou em dúvida as propostas de Sánchez e acusou o PSOE de fazer propostas em campanha que depois não cumpre no Governo. E o socialista respondeu com ironia: “Pablo quer fazer o que fizemos há quatro anos”.

“Com conselhos e portas giratórias ou sem?”, respondeu o líder do Podemos em um primeiro ataque entre os dois sobre a saída dos socialistas da atividade pública e os possíveis cargos que ganhariam no setor privado. O choque continuou quando Iglesias questionou Sánchez sobre a ida da ex-ministra Trinidad Jiménez para o Conselho de Administração da Telefônica, o que o socialista negou. E muito mais adiante, quando o líder do PSOE recordou que o Ciudadanos concorreu a eleições pela formação de ultradireita Libertas. “Rivera não é de direita, é do que aparecer”, arrematou Iglesias.

Concordaram em propor acabar com o voto rogado de espanhóis que vivem fora do país, e em um plano de retorno dos jovens que tiveram de ir trabalhar no exterior. O líder do Ciudadanos aproveitou sua proposta de acordo nacional para a educação para censurar o PP e o PSOE quanto às leis sucessivas. “Não basta anular o que o PP fez mal”, disse Rivera a Sánchez. O socialista também atacou Rivera por propor em seu programa de contribuição do usuário ao sistema de saúde.

Outro ponto de enfrentamento foi o da política territorial. Rivera expôs sua ideia de Espanha, na qual a lei é aplicada para enfrentar o separatismo; Sánchez, sua oferta de reforma constitucional, e Iglesias, seu compromisso de referendo na Catalunha. “O Ciudadanos tem de ganhar as eleições de 20 de dezembro para dizer a Mas que chegamos até aqui”, afirmou Rivera. Sánchez aproveitou para arremeter contra Iglesias: “Nenhuma constituição retira o direito de autodeterminação, exceto a da URSS, que é o seu modelo, Pablo”. “Esse é um argumento da caverna midiática”, respondeu o líder do Podemos, utilizando como referência o referendo da Escócia aprovado pelo britânico conservador David Cameron.

O capítulo da restauração democrática terminou com uma dura discussão entre os três, que se acusaram mutuamente sobre casos e atuações. Rivera abriu com propostas como o fim dos aforamentos e listas abertas, entre outras, que seriam retirados em um pacto contra a corrupção. Sánchez se comprometeu a perseguir toda a corrupção “afete quem afetar”.

Iglesias insistiu na crítica às portas giratórias e ao processo de revogação de altos cargos, entre outros, e incluiu uma crítica ao PSOE: “Os que nos meteram em casos como a Púnica ou os ERE não podem nos livrar da corrupção”, referindo-se a dois escândalos de corrupção recentes na Espanha. E o socialista atacou Rivera por apoiar o PP na Comunidade de Madri, onde numerosos casos de corrupção foram registrados. Também por ter como assessor Luis Garicano que estava no conselho de administração de um banco que sofreu intervenção.

Rivera respondeu também referindo-se aos ERE; Iglesias, ao apoio do Ciudadanos ao PSOE na Andaluzia; Sánchez, ao do Podemos por ter como cabeça de chapa por Jaén alguém condenado por agredir um vereador, e Iglesias ao primeiro por ter um deputado autonômico em Madri acusado de falsificar seu currículo.

No encerramento, no chamado minuto de ouro, Rivera apelou para “recuperar o orgulho de ser espanhol com um novo projeto comum para a Espanha”; Iglesias pediu que sejam lidos os programas e se faça a diferença entre “imobilistas e os que querem mudança” e Sánchez reivindicou os “avanços obtidos junto com governos socialistas para liderar a Espanha das oportunidades, porque sabemos fazê-lo e vamos voltar a fazê-lo.”

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