BTG Pactual encara desconfiança do mercado após prisão de Esteves
Agências de risco colocam banco sob observação negativa depois do escândalo
A prisão de André Esteves, presidente e fundador do BTG Pactual, no âmbito da Operação Lava Jato trouxe uma reação nervosa no mercado financeiro, o que acabou gerando uma sucessão de rumores e alimentando dúvidas sobre o futuro do banco. No mesmo dia em que Esteves foi preso, o Banco Central enviou nota à imprensa informando que a entidade financeira apresenta “robustos indicadores de solidez”. Mas, especialistas acreditam que há um risco grande em jogo: o da perda de credibilidade, que pode balançar os investidores a rever suas aplicações e negócios no BTG. As ações do banco perderam quase 24% do seu valor desde quarta-feira.
A detenção de Esteves também preocupa investidores estrangeiros, uma vez que os investimentos no exterior têm grande participação nas receitas do banco atualmente. Em entrevista recente ao jornal Valor, o sócio do BTG Pactual Roberto Saloutte previa que 65% das receitas da instituição deveriam vir de fora do Brasil no ano que vem. Hoje o banco está presente em 20 países, como Chile, Colômbia, Argentina e México, e possui unidades em grandes centros financeiros, como Nova York e Londres. Em setembro deste ano, concluiu a compra da gestora suíça de recursos BSI.
No mesmo dia do escândalo, os executivos do banco tentavam mostrar que a entidade financeira pode seguir sem Esteves. Para começar, foi nomeado para assumir o lugar dele, o economista Pérsio Arida, que é sócio da entidade, e foi um dos pais do Plano Real. Ex-presidente do Banco Central, o banqueiro tem um nome de prestígio no mercado.
Nesta quinta, em evento em São Paulo para 400 clientes do BTG Pactual, Arida afirmou que a Operação Lava Jato é algo bom para o país e que tem plena confiança que Esteves não está envolvido em nenhum esquema de corrupção. “Estamos tristes por razões óbvias”, disse o presidente interino do banco que aproveitou a apresentação para agradecer a confiança da plateia presente. Caberá a Arida a difícil tarefa de dissociar a imagem do banco da de Esteves.
Apesar da mensagem de Arida, a agência de avaliação de crédito Fitch Ratings decidiu colocar o banco e as entidades a ele relacionadas em observação negativa, sob o argumento de que a prisão de Esteves poderia impactar a relação do BTG Pactual com os clientes. É a segunda agência de rating a tomar a decisão, que já tinha sido anunciada pela Moody's.
O BTG Pactual, que é hoje um dos maiores bancos de investimentos do Brasil e da América Latina, gerencia 302 bilhões de reais em ativos e, neste ano, faturou 6,5 bilhões de reais até o mês de setembro. O grupo tem participação em mais de 20 empresas em setores diferentes e sempre foi conhecido pelo apetite voraz ao entrar em um negócio. “Esse perfil agressivo, muitas vezes com negócios que beiram à ilegalidade, era conhecido por todos. O mercado já esperava algo nesse sentido, de que em algum momento poderia dar um problema”, afirma um executivo do setor que preferiu não se identificar.
Para especialistas, no entanto, o banco tem solidez e a prisão de Esteves ainda é um fato pontual. Em outras palavras, ainda é cedo para tomar conclusões, como a de que a crise que começou nesta quarta possa contagiar outros bancos. “Não vejo a possibilidade de risco sistemático [de afetar outras instituições]. Claro que não é todo dia que um banqueiro é preso. Quarta foi um dia difícil, mas quem está sendo investigado ainda é apenas Esteves, não há um envolvimento do banco”, afirma Luis Miguel Santacreu, da consultoria Austing Rating.
Luís Eduardo Assis, ex-diretor do Banco Central, também acredita que é muito cedo para concluir qualquer coisa. “O banco, até anteontem [terça], tinha um desempenho excepcional, veremos o resultado [da prisão de Esteves] nos próximos dias. Mas é um banco grande e sólido, too big to fail (muito grande para quebrar)”, acredita. Assis entende que o BC já começou a monitorar o desempenho dos papeis do BTG Pactual “minuto a minuto” para avaliar os riscos que ele pode gerar para o sistema financeiro depois desta quarta-feira. Para Santacreu, numa situação limite em que se configurasse o envolvimento de Esteves em algum ilícito ele venderia as ações e sairia do banco de modo que a instituição se preservasse.
O banco tem procurado passar uma imagem de tranquilidade ao mercado, mesmo admitindo que houve saques dos fundos do BTG Pactual no mesmo dia da prisão do seu executivo número um. Mas, tem informado que as retiradas estariam aquém do esperado, o que seria um motivo de celebração. De qualquer modo, ainda é difícil dimensionar a dimensão dos saques, já que há clientes com investimento de longo prazo que só poderiam fazer resgates de recursos num prazo de dois meses.
“A grande questão é quanto tempo Esteves ficará preso. Quanto mais tempo, pior. Pois aumentará a insegurança dos clientes. Se as investigações mostrarem realmente que o banco está envolvido, a instituição terá que ser vendida”, afirmou um executivo do mercado.
Hoje, o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki negou o pedido de liberdade feito pela defesa do banqueiro. A prisão de Esteves é temporária, com duração de cinco dias, mas a Procuradoria Geral da República poderá pedir extensão desse prazo.
Segundo a Polícia Federal, Esteves estava destruindo provas das investigações da Operação Lava Jato. Hoje em depoimento, o banqueiro negou as acusações e afirmou ainda que não conhece pessoalmente Nestor Cerveró e nunca teve qualquer forma de contato com o mesmo.
(Colaborou Carla Jimenez)
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