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Milagre da recém-nascida Nubia marca o fim do ebola na Guiné

A criança, de somente 21 dias e última contaminada, consegue sobreviver à doença

José Naranjo
Funcionário do MSF carrega Nubia em seus braços
Funcionário do MSF carrega Nubia em seus braçosSAMUEL ARANDA (MSF)

Ela se chama Nubia, tem apenas 21 dias de vida e é quase um milagre. Nascida no centro de tratamento de ebola de Nongo, na capital da Guiné, perdeu sua mãe, Mamasta, de 25 anos, que morreu vitimada pela doença alguns dias depois do parto. Apesar de ter pouquíssimas chances de sobreviver, na segunda-feira Nubia foi declarada oficialmente curada após dois testes darem negativo, transformando-se no primeiro bebê nascido com ebola a superar a doença.

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E a boa notícia não veio sozinha. Nubia é também o último caso da epidemia que atingiu a África ocidental durante quase dois anos, afetando 28.571 pessoas, das quais mais de 11.000 morreram. Se não surgir nenhum novo contágio em 42 dias, em 28 de dezembro a Guiné será declarada oficialmente livre do ebola e o surto mais mortal da história terá chegado ao seu fim.

“Estamos muito felizes”, afirma Laurence Sailly, coordenadora de emergências da missão Ebola da organização Médicos sem Fronteiras (MSF) na Guiné, “a menina está bem, dorme bem e está recuperando peso”. Nascida prematuramente em 27 de outubro de parto natural com 2,8 quilos, a doença a fez chegar aos 2,4 quilos, quando sua vida esteve seriamente em risco. Hoje, entretanto, já está de volta aos 2,7 quilos. No centro de tratamento é atendida não só por médicos e enfermeiros da MSF, mas por pessoas já curadas da doença que se encarregam da amamentação e não a perdem de vista por um só instante.

Nubia, oficialmente curada, ainda permanecerá alguns dias no centro de tratamento até finalizar os procedimentos médicos necessários antes de voltar com seu pai, que vive em uma pequena aldeia de Kalia, na região de Forecariah. Lá a pequena se reencontrará com seu meio irmão de três meses, Mibemba, e com outros dois irmãos de três e dez anos, depois que os três também conseguiram vencer a doença. Mamasta, a mãe de Nubia, e a mãe de seus meio irmãos morreram. “Fizemos o possível por elas, mas não conseguimos salvá-las”, diz Sailly.

Com Nubia declarada curada, já não existe mais ninguém com ebola na Guiné, o último país ainda com a epidemia

Com Nubia declarada curada, já não existe mais ninguém com ebola na Guiné, o último país ainda com a epidemia, de modo que na terça-feira começa a contagem dos 42 dias, dois períodos de incubação, para o fim do surto ser oficialmente declarado, o que, se não aparecerem novos casos, será no dia 28 de dezembro. Já há alguns dias nenhuma pessoa se encontra sob quarentena e vigilância e todas as redes de transmissão conhecidas acabaram. “Mas precisamos ficar atentos, isso ainda não acabou. Ainda existe o risco de que apareça algum caso, já nos aconteceu no passado, portanto continuaremos vigilantes até o final”, diz Sailly.

Segundo os cientistas, a epidemia começou na Guiné em dezembro de 2013 quando um menino de dois anos de uma aldeia chamada Meliandou contraiu a doença após ter contato com um morcego. O vírus avançou silenciosamente até que em março de 2014 o surto foi oficialmente declarado. A doença entrou depois na Libéria e Serra Leoa e viveu seu momento mais intenso durante o verão, coincidindo com o contágio dos primeiros ocidentais, entre eles dois missionários espanhóis, Manuel García Viejo e Miguel Pajares. Pessoas doentes também levaram o vírus até o Mali, Nigéria, Senegal e até mesmo aos Estados Unidos e Espanha, onde a auxiliar de enfermagem Teresa Romero se tornou a primeira contaminada fora da África. Romero também está entre os infectados que venceram a doença.

Guiné, Serra Leoa e Libéria foram os três países que mais sofreram com a epidemia, alcançando o número de 28.571 contaminados e 11.299 mortes. Todos prendem a respiração agora que, pela primeira vez em 23 meses, não existe ninguém oficialmente doente de ebola. A Libéria foi declarada livre do vírus em 3 de setembro, Serra Leoa comemorou em 7 de novembro e a Guiné, se não aparecerem novos casos nos próximos 42 dias, conseguirá o feito em 28 de dezembro.

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