_
_
_
_
_

Neymar, o hóspede inoportuno

Atacante visita o Monumental de Buenos Aires para jogo do Brasil e Argentina Craque é aguardado por um adversário com muitas dúvidas e sem Messi em campo

Juan I. Irigoyen
Neymar durante o treino desta quarta.
Neymar durante o treino desta quarta.Cordon Press

Quando o Brasil ainda não conseguia despertar, talvez, do seu pior pesadelo num campo de futebol, após ser goleado pela Alemanha nas semifinais da sua própria Copa (7 x 1), um inesperado torcedor da Argentina apareceu na final do Maracanã: Neymar. “Talvez vocês achem estranho que um brasileiro queira que a Argentina ganhe a final, mas não estou torcendo pela Argentina. Estou torcendo por Lionel Messi”, disse o camisa 11 do Barcelona. “Se preferirem, sou torcedor do Messi Futebol Clube.” Com a lesão nas costas por causa da joelhada de Zúñiga, e com a seleção brasileira em chamas depois da eliminação, o jogador brasileiro deu as caras por seus companheiros e, destemido, não hesitou em apoiar o clássico rival da Canarinha. “É verdade que muita gente no nosso país não gostou das palavras do Ney, mas para mim foi algo normal. Queria a felicidade do seu amigo”, afirma Djalminha, ex-jogador do Palmeiras e do Deportivo de La Coruña.

Mais informações
Argentina tenta sobreviver sem Messi e com Neymar em ebulição
Horários e classificação das eliminatórias sul-americanas
Romário: “Dunga não chama os melhores para a seleção”
“Seleção brasileira tem muita habilidade e pouca técnica”, diz Tostão
Sem Messi, Argentina tenta sobreviver a Neymar

Mais de um ano e meio depois, Neymar e o Brasil visitam a casa do seu amigo, o Monumental, em Buenos Aires. Messi, contundido, não será anfitrião. “Acho que ninguém na Argentina vai se lembrar daquelas palavras de Neymar. É o clássico de sempre, e as pessoas querem ganhar”, diz o ex-jogador argentino Gustavo López, que atuou em clubes como Celta e Zaragoza. E, para botar lenha na fogueira alviceleste, o 10 do Brasil chega endiabrado.

No domingo passado, Neymar deu uma de Ronaldinho frente ao Villarreal: chapéu de costas e arremate para a rede antes de a bola roçar o chão. Mais uma prova de que, em sua terceira temporada como azul-grená, o futebol do capitão do Brasil anda nas alturas. O dianteiro do Barça marcou 13 gols desde o começo da temporada (11 em 10 jogos na Liga, onde é o artilheiro). E o jogo de Neymar torna menos dolorosa a ausência de Messi no Camp Nou. “É um jogador maravilhoso e ainda pode crescer muito no Barcelona e no Brasil”, afirma Djalminha. Tata Brown, campeão mundial pela Argentina no México-86, acrescenta: “Tem um futuro tremendo. Lembro que, quando eu fui treinador da sub-17 da Argentina, enfrentamos o Brasil no Mundial da Nigéria e ficamos muito surpresos com a forma como ele se colocava em campo, como sempre pedia a bola”. “Não há receita para marcar Neymar”, alerta Maidana, zagueiro da Argentina.

Com a surra do Equador na memória

Em sua estreia nas eliminatórias para a Copa da Rússia-18, a seleção de Tata Martino caiu no Monumental diante do Equador (0 x 2). Um fato inédito para a equipe andina e em parte também para a alviceleste, que não está acostumada a desperdiçar pontos em sua casa. O último antecedente de uma queda em Buenos Aires datava de 5 de setembro de 1993, contra a Colômbia e com uma tremenda sacudida (0 x 5). Desde então, a Argentina só havia perdido em casa numa ocasião, e contra o Brasil, à época – como hoje – treinado por Dunga. Mas aquele 1 x 3, em setembro de 2009, aconteceu em Rosário.

A vitória do Equador pegou de surpresa não só o público do Monumental como a própria equipe de Gustavo Quinteros. “Haviam se passado 20 minutos do primeiro tempo e não atinávamos que poderíamos ganhar da Argentina”, relata uma pessoa que participava da delegação equatoriana. “Ficamos surpresos com a atitude dos jogadores argentinos. Estavam calados. Até Mascherano, que nunca para de falar, não dizia nada. E foi aí que pensamos: vamos, que dá!”. Após aquela derrota, Tévez admitiu que “foi a pior partida, faltou atitude”. A Argentina volta ao Monumental, e desta vez contra uma camisa amarela bem mais tradicional: a do Brasil.

O último Argentina x Brasil em eliminatórias foi em 5 de setembro de 2009, em Rosário (3 x 1 para o Brasil), com Maradona como treinador do time mandante. “Foi duro, um daqueles dias em que nada dá certo para você. Num clássico assim, esse resultado foi como uma bomba que destroça a gente. São momentos da vida e do futebol”, relembra Brown, assistente de don Diego em sua etapa na seleção. As estatísticas registram 96 confrontos entre as duas seleções, com 36 vitórias para cada lado e 24 empates. “É, tanto para nós como para eles, a partida que todos esperamos. Mental e fisicamente, a preparação é diferente”, diz Gustavo López. Já Djalminha rebaixa as expectativas: “Acredito que os clássicos contra a Argentina sejam mais tranquilos hoje em dia. Há muitos jogadores que jogam juntos e são amigos”. E, embora Messi vá assistir de Barcelona, Neymar terá em Buenos Aires a chance de se encontrar com o colega Mascherano.

“Sem Messi eles não são os melhores”, dispara David Luiz. Além de enfrentar a ausência do Pulga, Tata Martino terá também os desfalques dos contundidos Agüero e Tévez e esperará até o último momento para saber se poderá ou não contar com Pastore (que sente a panturrilha direita). Dunga, por sua vez, tem Marcelo e Marquinhos no departamento médico. “Além de ter muitas baixas, a seleção argentina chega com muitas dúvidas no jogo. No caso do Brasil, que não é mais o do ‘jogo bonito’, os resultados vêm favorecendo”, avalia López. E Djalminha destaca o papel de Neymar: “Temos o nosso principal astro, no seu melhor momento”.

Para o 11 do Barcelona, será sua primeira visita ao Monumental num jogo de eliminatórias. “Vamos ver como se comporta num campo rival. É uma partida que tem muitas incógnitas”, adverte o ex-jogador do Celta. Em todo caso, o paulista já sabe o que é ser marcado pela Argentina. Soma dois gols no clássico, ainda longe do maior artilheiro: Pelé (9). Seu amigo Messi já marcou quatro gols no Brasil, ao passo que Maradona só comemorou um contra a amarelinha. “É a partida para que Neymar dê um passo à frente e suba um degrau a mais”, diz Brown. Djalminha discorda: “O Ney não precisa de uma grande partida. Claro que todo mundo vai comentar se ele for bem, mas é sabido que o Brasil sem ele não é o mesmo”. “Contra a adversidade, o jogador argentino dá algo a mais. Há ótimos jogadores para que vejamos um grande jogo”, devolve López. Neymar chega a Buenos Aires, um hóspede inoportuno.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_