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Suspeita de atentado contra avião russo coloca Putin na defensiva

Dirigentes russos continuam sem se pronunciar sobre a causa do desastre no Sinai

Pilar Bonet
O presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou, na quarta-feira
O presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou, na quarta-feiraRIA NOVOSTI (REUTERS)

A possibilidade de que um atentado terrorista tenha causado a queda do Airbus 321 russo no sábado passado, como aponta o Reino Unido, incomoda os dirigentes russos, que na quinta-feira continuavam sem se pronunciar a respeito da causa do desastre que custou a vida de 224 pessoas na península do Sinai (Egito). A hipótese do terrorismo vai se instalando na sociedade e nos meios de comunicação russos, alguns dos quais a refletiam em suas capas. O presidente Vladimir Putin conversou por telefone com o premiê britânico, David Cameron, e pediu que ele se baseie apenas nos dados oficiais sobre a catástrofe, segundo o serviço de imprensa do Kremlin.

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“Ao avaliar as causas do incidente na península do Sinai é necessário se basear nos dados que são esclarecidos no decorrer da investigação oficial em andamento”, disse Putin. Os dois líderes trocaram opiniões sobre a causa do incidente e sobre a “a luta comum contra o terrorismo internacional”, segundo o Kremlin.

O chefe do comitê de Relações Exteriores do Conselho da Federação, Konstantin Kosachov, opinou que a decisão britânica de interromper os voos para o Egito contém “elementos de pressão psicológica” contra a Rússia. “Há uma oposição geopolítica às atividades da Rússia na Síria”, disse Kosachov, segundo a agência RIA Novosti. “Há no mundo muitas pessoas que, sem a devida base, prefeririam atribuir esta catástrofe a uma reação contra a Rússia por parte dos jihadistas”, afirmou o senador.

Apesar de o porta-voz presidencial Dmitri Peskov ter descrito as versões britânicas como “informações não verificadas ou especulações”, o primeiro-ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, ordenou ao ministro dos Transportes, Maksim Sokolov, que coordene medidas adicionais de segurança com os países para onde companhias aéreas russas voam.

Nas redes sociais e em comentários informais, muitos cidadãos russos manifestam insatisfação com a resposta de Putin à queda do avião, especialmente por não aparecer em público durante o fim de semana. Na manhã de sábado, Putin organizou uma comissão governamental, distribuiu ordens e manifestou pêsames, mas dá a impressão de que os russos prefeririam uma reação mais emotiva e só foram notar essas condolências na segunda-feira, quando o presidente as repetiu numa reunião com o ministro dos Transportes.

Putin, que segundo as pesquisas tem um apoio popular de 90%, “não quis interromper seu fim de semana”, escreveu a jornalista Karina Orlova no site Ekho Moskvy. Segundo Orlova, o homem que chorou ao ser reeleito e pelo qual se lutou em Donetsk (Ucrânia) e na Síria “não considerou necessário atrapalhar seus dias de folga”. Os jornais russos da quinta-feira não chegam a dar como certa a hipótese de terrorismo no Sinai, mas citam essa possibilidade. “Afinal, foi um ato terrorista?”, diz a manchete do popular jornal Komsomolskaya Pravda. A versão do ato terrorista é muito desvantajosa para o Egito e para a Rússia. Para o primeiro porque implica um duro golpe no turismo, e para a segunda por demonstrar que é “extremamente difícil defender os cidadãos dos atentados terroristas e das ameaças que aumentaram depois da operação na Síria”, afirma, no Facebook, Varvara Pakhomenko, analista do International Crisis Group e especialista em problemas do Cáucaso. Ela comenta que, no novo vídeo do Estado Islâmico reivindicando a autoria da suposta explosão a bordo e ameaçando Putin com “novos atentados”, quem fala é um jovem “com rosto de traços eslavos” e que se expressa “em russo sem sotaque”. Pakhomenko menciona supostas vitórias dos serviços de segurança russos e afirma que é fácil informar sobre “operações estranhas” de prevenção ao terrorismo em Moscou ou sobre a detenção de seguidores de seitas proibidas, mas que a “ameaça é real” e afeta sobretudo os russos estão no exterior – militares, diplomatas e turistas.

Sensação de ameaça

A ameaça, salienta Pakhomenko, existe independentemente de o EI ter ou não derrubado o avião, e é menor dentro da Rússia do que fora, porque internamente há mais controles, com dificuldades para o retorno dos cidadãos russos que hoje combatem nas fileiras do EI.

A hipótese de uma possível bomba colocada a bordo era debatida pelos cidadãos em San Petersburgo, segundo relatou um historiador e cientista político daquela cidade contatado por telefone de modo informal. As opiniões evidentemente surgem à margem do que realmente tenha acontecido no Airbus 321, mas indicam tendências na opinião pública. “Primeiro as pessoas acreditaram que o avião estava ruim, mas depois passaram a comentar que poderia ter acontecido uma explosão e a se perguntar quem poderia colocar a bomba”, dizia esse cientista político, segundo quem a hipótese da bomba se ampara nos rumores, difundidos após a identificação das vítimas, que fazem referência a cadáveres calcinados e irreconhecíveis dos passageiros e tripulantes que estavam na parte traseira do avião.

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