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A princesa Leia contra-ataca

Com quase 60 anos, Carrie Fisher volta a interpretar o papel que a deixou famosa A atriz conseguiu superar seus vícios esquadrinhando suas memórias

Álvaro P. Ruiz de Elvira
Carrie Fisher, no ano passado em Roma.
Carrie Fisher, no ano passado em Roma.Getty images

“Meu nome é Carrie Fisher, e sou alcoólatra”. É desta forma que a atriz de Guerra nas Estrelas começa seu monólogo teatral Wishful Drinking. Uma obra autobiográfica que virou um livro de sucesso e que poderia muito bem se chamar Como dizer a verdade sobre meu obscuro passado em Hollywood e sobreviver. Carrie Fisher (Beverly Hills, 1956) não caiu de paraquedas na fama em 1977 com sua interpretação de Leia no primeiro filme de Star Wars, como se costuma dizer. Já era uma celebridade antes de nascer quando foi anunciado que sua mãe, a atriz Debbie Reynolds, estava grávida do cantor Eddie Fisher (que depois as abandonou por Elizabeth Taylor). Desde então sua estrela brilhou com diferentes intensidades, mas ela nunca permitiu que se apagasse. Agora, com quase 60 anos, voltou a viver a personagem que lhe deu e tirou tudo (segundo suas palavras) no sétimo episódio da saga galáctica, O Despertar da Força, que estreia em 17 de dezembro de 2015 no Brasil.

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Fisher, quatro décadas depois de sua primeira grande aparição na tela, continua falando de forma aberta e com muito humor sobre seu passado de drogas e álcool, seu transtorno bipolar e sua perene depressão. Também fala do peso e a sorte que foi se transformar em uma jovem princesa Leia. Tem várias características em comum com sua personagem: são rebeldes, fazem o que querem apesar das imposições, são independentes desde muito jovens e as duas têm pais famosos. Mas a vida de Fisher, vícios à parte, possui também um fundo trágico, anárquico e, porque ela assim o quis, de muito humor negro. “O fato de você saber que tudo isso é engraçado é o que irá salvar sua vida”, diz em sua autobiografia.

Como qualquer outra estrela de Hollywood, todas as complicações enfrentadas pela atriz seriam tabu, seriam escondidas por empresários e desmentidas por estúdios e produtores. Mas Fisher aprendeu não só a enfrentá-las, mas a viver disso. O que não quer dizer que ela conta tudo pelo que passou e não reconheça que algumas coisas que disse ou fez no passado a envergonham. A trilogia de Guerra nas Estrelas (1977-1983) a marcou como atriz. Nunca teve outro papel de protagonista como aquele, apesar de ter aparecido em clássicos modernos como Os Irmãos Cara de Pau (1980), Hannah e suas Irmãs (1986) e Harry e Sally - Feitos Um para o Outro (1989).

Teste de Carrie Fisher para Guerra nas Estrelas

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Após rodar o primeiro filme de Star Wars com 17 anos até o final dos anos oitenta, Fisher passou por seus piores momentos em relação ao uso de drogas e medicamentos. Uma das frases de apresentação de seus espetáculos diz tudo: “Conhecem o ditado que diz que a religião é o ópio das massas? Bom, eu tomei muito ópio religiosamente”. Aqueles foram também seus turbulentos anos de relação e casamento com o músico Paul Simon após um quase casamento com o comediante Dan Aykroyd. “Eu me casei com um homem que era músico, baixinho e judeu. Lembra alguém? Sim, uma cópia exata do meu pai”, sempre admite ironicamente em público.

Carrie Fisher com seu cachorro Gary e o ator do novo filme de Star Wars, Oscar Isaac. O dedo levantado é comum em várias fotografias da atriz.

A escrita salvou sua carreira em Hollywood após uma overdose e um processo de desintoxicação. Em 1987 publicou Postais do Abismo, um romance em grande parte autobiográfico no qual mostrava uma atriz que tentava refazer sua vida após quase morrer uma noite por uso excessivo de drogas. O livro se transformou em filme em 1990, com roteiro da própria Fisher, no qual foi potencializada a relação da protagonista com sua mãe. O filme dirigido por Mike Nichols e estrelado por Meryl Streep e Shirley MacLaine, abriu as portas a Fisher como roteirista em Hollywood. Seus diálogos ácidos e sua capacidade para montar cenas agradaram. A atriz se transformou no que a meca do cinema conhece como script doctors, roteiristas que não aparecem nos créditos e que anonimamente consertam textos de outros, sejam cenas, diálogos ou todo o texto. Por seu bisturi passaram histórias como Hook - A Volta do Capitão Gancho, Mudança de Hábito, Epidemia e dizem até que George Lucas pediu para que ela trabalhasse nos roteiros da segunda trilogia de Guerra nas Estrelas.

E de roteiro em roteiro Fisher foi desfiando partes de sua vida que chegaram aos palcos, às livrarias e, inclusive, à bancada de Oprah Winfrey. Em uma entrevista memorável, a atriz defendeu a terapia de eletrochoque a cada seis meses para diminuir sua depressão crônica. E hoje, através de seus perfis no Twitter e Facebook — com milhares de seguidores —, é possível saber o que anda fazendo (mas que ninguém busque dicas sobre o próximo filme, é segredo absoluto). Em suas contas aproveita para lembrar a grande relação que tem com sua octogenária vizinha (sua mãe) e relatar cada detalhe da vida de seu grande amor, Gary, um buldogue francês que leva para todos os lados. Um cachorro que não é só um animal de companhia, mas que foi adotado como parte de sua terapia para enfrentar o transtorno bipolar com o qual foi diagnosticada aos 29 anos.

Cartaz de 'Movie Mirror' de 1960 com o triângulo Eddie Fisher, Elizabeth Taylor e Debbie Reynolds. O primeiro e a terceira, casados quase por obrigação a pedido de um estúdio, foram padrinhos de casamento de Taylor. Depois Fisher se envolveu com ela.
Cartaz de 'Movie Mirror' de 1960 com o triângulo Eddie Fisher, Elizabeth Taylor e Debbie Reynolds. O primeiro e a terceira, casados quase por obrigação a pedido de um estúdio, foram padrinhos de casamento de Taylor. Depois Fisher se envolveu com ela.

Ela também aproveita a Rede para se mostrar irreverente, mas elegante. É comum ver fotos publicadas por ela na qual aparece mostrando seu dedo do meio para a câmera, algumas vezes ao lado de outras celebridades. Mas é especialmente ativa para apoiar a carreira de sua filha, uma das protagonistas da série Scream Queens. Billie Lourd é fruto de sua relação com o agente Bryan Lourd nos anos noventa. O abandono, quase tanto como o humor, marcou sua vida. Se primeiramente Fisher foi abandonada por seu pai (ainda que os dois sempre tenham mantido uma boa relação), Lourd deixou a atriz por outro homem. Outro problema a mais na convulsa vida de Fisher, que justifica um de seus ditados: “Quando você é uma sobrevivente, é preciso frequentemente se meter em confusões para demonstrar seu talento”.

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