Espanha vive a polêmica da morte de um touro em uma festa popular
No torneio 'Toro de la Vega', animal levou 20 minutos para ser abatido Sua morte foi declarada nula porque os participantes descumpriram o regulamento
Os espanhóis só falam do Toro de la Vega, uma festa popular da Espanha que dividiu o país nesta semana. Não se trata uma corrida tradicional de touro. O evento, de origem medieval e celebrado na cidade de Tordesilhas (Comunidade Autônoma de Valladolid), é bem mais simples: um touro é solto nos arredores da cidade e começa a correr desesperadamente, enquanto vários caçadores com lanças, correndo a pé ou montados em cavalos e seguindo determinadas regras, perseguem o animal até provocar sua morte. Por um lado, os habitantes dessa pequena cidade e os defensores das festas populares defendem o direito de continuar realizando um evento considerado tradicional; por outro, várias manifestações, mensagens nas redes sociais e editoriais de jornais expressam a rejeição da maioria dos espanhóis à essa festa, considerada cruel demais com o animal. A pressão para que fosse proibida não surtiu efeito: nesta terça-feira, o touro Rompesuelas passou a fazer parte da história do Toro de la Vega.
O animal demorou cerca de 20 minutos para ser abatido a partir do momento em que entrou no campo, após cruzar correndo a ponte de Tordesilhas que atravessa o rio Douro. “Foi morto por uma pessoa de fora, que estava a pé”, afirmou um participante do evento após o sacrifício do animal, realizado em meio a uma grande tensão. Mas a morte do touro foi declarada nula, já que os participantes violaram três pontos do regulamento: atingiram o touro por trás, a ação foi feita por mais de uma pessoa e numa zona não permitida. Por isso, podem sofrer sanções administrativas.
A Prefeitura de Tordesilhas explicou que três pessoas atingiram o Rompesuelas, mas, segundo a norma, quem efetua a primeira estocada deve prosseguir até matar o touro. Além disso, uma pessoa executou essa ação por trás, o que não é permitido. Por último, um dos golpes foi desferido numa zona não autorizada. Francisco Alcalá, codinome Cachobo, matou o touro; tem 21 anos e é de Valderas (León).
Minutos antes da corrida de Rompesuelas, manifestantes bloquearam dois pontos do trajeto. Um guarda civil se comunicou via rádio com os organizadores, que decidiram abrir as portas do recinto onde o touro estava para iniciar o torneio. O animal passou a apenas um metro dos manifestantes. “Estávamos atados. A Guarda Civil deveria ter nos soltado, mas não fez isso”, denunciou um deles.
Os insultos entre os dois bandos foram constantes. “Assassinos!”, gritavam de um lado. “Piolhentos. Fora daqui!”, devolviam do outro. Os golpes e empurrões também se repetiram, sem que aparecesse um único agente. Um defensor da festa atingiu um jornalista na cabeça com um bastão e depois fugiu.
Rompesuelas integra a extensa lista dos touros sacrificados neste festejo centenário, de origem medieval, que se repete todo ano imerso numa grande polêmica. Tordesilhas defende sua “tradição”, enquanto os defensores dos animais denunciam a “barbárie”, a “crueldade” e os “maus-tratos” praticados no torneio. Nesta terça-feira, o confronto entre os dois lados também se faz presente nas ruas da cidade. Os moradores observam os forasteiros com receio.
Este 2015 se caracterizou também pelo aumento da pressão social sobre o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). O Partido Animalista (Pacma), que reuniu no último fim de semana milhares de pessoas na Porta do Sol, praça do centro de Madri, para exigir que as autoridades proíbam o Toro de la Vega, entregou no início de setembro 120.000 assinaturas ao partido para que o espetáculo seja paralisado. O Pacma considera que os socialistas são “responsáveis” pela continuação do festejo. Em Tordesilhas, a decisão está nas mãos de um prefeito do PSOE, que denunciou ameaças de morte por parte dos defensores dos animais.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.