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Espanha teme infiltração de jihadistas entre refugiados

Polícia alerta forças de segurança depois de um roubo de 1.500 passaportes na Síria

Javier Casqueiro
O ministro do Interior, Jorge Fernández Díaz, no Senado.
O ministro do Interior, Jorge Fernández Díaz, no Senado.JuanJo Martin (EFE)

O Ministério do Interior da Espanha está em alerta para “tomar medidas adequadas” diante do temor de que no próximo contingente de refugiados que a Espanha acolherá possa estar infiltrado um grupo de terroristas jihadistas. O ministro Jorge Fernández reconheceu nesta terça-feira em Paris sua preocupação com essa hipotética entrada, especialmente depois de as forças de segurança serem avisadas sobre o roubo na Síria de 1.452 passaportes originais em branco que poderiam ser usados pelos terroristas do DAESH [acrônimo em árabe do Estado Islâmico]. O ministério usa esse argumento para analisar em detalhes o novo grupo de refugiados que será admitido no país.

Jorge Fernández reiterou em Paris, durante sua participação na Conferência sobre a Violência contra as Minorias no Oriente Médio, a nova doutrina que o presidente do Governo (primeiro-ministro) impôs a seu Executivo, de que não serão postos limites nem empecilhos nem problemas econômicos à admissão do número de refugiados que a Comissão Europeia definir. Mas o Ministério do Interior é o órgão mais reticente a que esse contingente chegue de qualquer jeito à Espanha, sem controle nem ordem nem uma análise minuciosa das pessoas encaminhadas. O ministro repetiu no evento em Paris o que já havia antecipado no dia anterior em La Moncloa durante a primeira sessão da comissão interministerial criada pelo Governo: ofereceu sua colaboração e cooperação máxima, mas sem precipitar-se nem descuidar da segurança interna.

Jorge Fernández quer que essas futuras transferências de novos refugiados sejam realizadas “com um procedimento comum” e bem definido por todos os países da União Europeia para ordenar a redistribuição das pessoas, mas recordou que ainda não foram preparados os centros de recepção (hotspots) que todos os países europeus haviam concordado em estabelecer antes do início do segundo semestre. O ministro aceitou que agora a “realidade está adiante da capacidade de resposta”, mas nem por isso quer precipitações.

As razões de Jorge Fernández Díaz

  • Ministro do Interior assegura que o Estado Islâmico tem entre seus planos utilizar os fluxos imigratórios para "infiltrar" alguns de seus membros na Europa.
  • A Embaixada da Espanha na Turquia alertou para o roubo de 1.452 passaportes sírios em branco em agências de expedição desses documentos nas províncias de Raqqa e Deir ez Zur. A polícia suspeita que os documentos possam ter sido vendidos, na base de 2.500 dólares cada um.
  • A Espanha reivindica um "procedimento comum" e "bem definido" para toda a Europa para ordenar a distribuição dos refugiados.
  • O Ministério do Interior pediu um crédito de 7 milhões de euros para aumentar a dotação do órgão que registra e encaminha os pedidos de refúgio.

O ministério teme que o Estado Islâmico queira aproveitar essa crise imigratória para introduzir em alguns países da União Europeia elementos terroristas. Fernández comentou que sua pasta não descarta a possibilidade de que haja infiltrações (“tempos atrás o Estado Islâmico fez uma ameaça nesse sentido”) e antecipou que tomará “as medidas adequadas” porque considera essa tese “uma realidade a ser levada em conta em razão da ameaça do DAESH ”.

No ministério, mais especificamente na Polícia Nacional, levaram bastante a sério uma advertência enviada da Embaixada da Espanha na Turquia, no período do inverno europeu, e renovada dias atrás, relacionada a um roubo de 1.452 passaportes sírios em branco em uma agência de expedição desses documentos nas províncias de Raqqa e Deir ez Sur.

A polícia suspeita que esses documentos possam ter sido vendidos, na base de 2.500 dólares (9.500 reais) cada um, a integrantes de organizações terroristas radicais ligadas ao Estado Islâmico, mais precisamente o grupo Jabhat al Nusra, com o objetivo de que alguns de seus membros possam adentrar em outros países, segundo informou a agência Efe. O ministério considera essa ameaça verossímil e utilizou internamente esse argumento para frear o ímpeto de algumas autoridades que agora não impõem nenhum limite para acolher os 15.000 novos refugiados fixados pela Comissão Europeia ou até um número maior.

Cautela

O ministério avalia que é preciso realizar um estudo detalhado da situação, com os demais países, e para isso espera coordenar mais as ações durante a reunião de ministros europeus no dia 14 em Bruxelas, mas também quer ter tempo para montar sua operação na Espanha. Outros países europeus, especialmente a Alemanha e a Áustria, não foram tão relutantes e já adiantaram que receberão número muito maior que os da Espanha e também a partir do próximo ano.

O Governo espanhol conta que terá mais tempo e dinheiro para organizar-se melhor e aperfeiçoar esse mapa de colaboração de todas as administrações. O primeiro-ministro Mariano Rajoy sustenta que a questão imigratória será um dos grandes desafios dos próximos anos, em médio e longo prazo, da União Europeia. Os responsáveis pelos diferentes órgãos afetados repetem essa máxima e estão levando esse planejamento ao pé da letra.

O Ministério do Interior já estava na prática transbordando na tramitação dos pedidos de refúgio que recebe e que passaram de quase 6.000 em 2014 a mais de 17.000 previstos neste exercício. A pasta pediu um crédito especial de 7 milhões de euros (cerca de 30 milhões de reais) para aumentar a dotação do setor que registra e estuda as solicitações. No entanto, não se prevê que haverá uma enxurrada de refugiados chegando nem nas próximas semanas nem sequer nos próximos meses. O prazo que vem sendo considerado para a chegada da nova leva de refugiados que for definida agora se estende a dois anos. E as autoridades entendem que nesse período terão espaço e orçamento para lidar com o novo cenário.

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