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‘A Passageira’, um filme sobre a reconciliação

Dirigido por Salvador del Solar e estrelado por Magaly Solier, o longa estreia no Brasil

O peruano Damián Alcazar e a peruana Magaly Solier em cena de 'A passageira'.
O peruano Damián Alcazar e a peruana Magaly Solier em cena de 'A passageira'.

A Passageira, filme peruano que chegou às salas brasileiras nesta quinta, 28 de setembro, é o relato do reencontro, 25 anos depois, de um militar – hoje taxista – e uma mulher dos Andes que foi sequestrada na adolescência numa instalação militar por um coronel do Exército. O então suboficial Magallanes ajudou a menor a fugir e se livrar da escravidão sexual. O ator argentino Federico Luppi encarna o coronel, em cadeira de rodas e com demência, mas ainda autoritário; e o peruano Christian Meier é o filho do militar, um advogado rico e arrogante que fica sabendo tarde sobre as ações de seu pai durante a luta contra a insurgência do Sendero Luminoso. O ator colombiano Jairo Camargo completa o elenco, na pele de um experiente chefe policial.

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O diretor do filme, Salvador del Solar (Lima, 1970) elaborou o roteiro com base no romance La Pasajera (sem tradução no Brasil), de Alonso Cueto, num trabalho que levou nove anos.

É difícil falar apenas de uma cena desse filme peruano, exibido em vários festivais internacionais. O monólogo em língua quíchua de Celina – interpretada pela atriz peruana Magaly Solier – numa delegacia diante dos homens que a ultrajaram 25 anos antes; ou o taxista Magallanes (encarnado pelo ator mexicano Damián Alcázar) em seu quarto em Lima, buscando numa sacola velha os cadernos de anotações e desenhos feitos durante a guerra em Ayacucho. O taxista, que se encontra por coincidência em Lima com a estilista Celina, uma mãe solteira afundada em dívidas, tenta se redimir e ajudá-la com dinheiro, que também lhe é escasso.

Em A Passageira, que tem coprodução argentina e espanhola, Del Solar tenta retratar as mulheres que procuram se esquecer do passado nos grandes centros urbanos. Um passado trágico e injusto – 16.000 pessoas desapareceram no conflito que durou 20 anos. A atriz Solier, nascida em Ayacucho, o departamento que mais sofreu nos anos de violência (1980-2000), disse a Radioprogramas, na segunda-feira passada, que é uma mulher como Celina. “O filme convida você a se sentar com quem lhe causou danos, a dizer as coisas como elas são”, disse a também cantora.

A Passageira tenta nos levar ao cinema para que possamos nos olhar, para nos entretermos também, mas para que nos incomodemos ou pensemos de novo”, disse à agência Andina o diretor do filme, que no último sábado ganhou o premio do público do 19o Festival de Cinema de Lima.

Del Solar afirmou a EL PAÍS que estava mais interessado “nas consequências psicológicas dessa violência do que nos métodos para perpetrá-la”. O diretor disse também que, nesta primeira vez em que adapta um roteiro, foi “um trabalho especialmente desafiante pensar essa história em termos de imagens e ações a partir de uma narração literária”.

Mas o primeiro desafio, completa, foi “encontrar delicado equilíbrio entre a trama, com elementos de ação e suspense, e a história para a qual essa trama está a serviço. Uma história dolorosa, que toca fundo num passado recente que, no entanto, acompanha o presente do Peru muito mais do que gostamos de admitir.”

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