Tecnologia que cura
Indústria de dispositivos médicos busca crescimento com a incorporação de sistemas de informações compartilhadas em rede
Realizar uma web conferência com médicos de especialidades distintas, espalhados por diversas regiões do país e do mundo para discutir o melhor tratamento possível para um paciente. Receber, pelo celular, os resultados de um exame realizado há poucos minutos pelo paciente em outra clínica. Digitalizar amostras e enviá-las para laboratórios especializados em outros Estados para que sejam analisadas. O mercado de saúde brasileiro pode encontrar na tecnologia soluções para os inúmeros entraves que enfrenta atualmente, como a escassez de profissionais nas regiões mais afastadas da metrópole e a falta de equipamentos de diagnóstico em quantidade suficiente para atender a demanda.
Esse conceito, que busca integrar a rede de saúde por meio de sistemas de compartilhamento de informações em nuvem, vem se disseminando pelo mercado diagnóstico europeu e, aos poucos, é assimilado pela indústria brasileira de dispositivos médicos - segmento que engloba, por exemplo, equipamentos de diagnóstico, próteses e implantes, materiais de laboratório, aparelhos de diagnóstico in vitro.
“O nosso sistema sofre com inúmeros problemas, que vão desde a falta de leitos e de médicos especialistas à de equipamentos de qualidade. Mas nem sempre a solução está em equipar mais os hospitais. O que o mercado precisa é aprender a utilizar aquilo que já têm de uma forma mais sustentável”, afirma Carlos Eduardo Gouvêa, presidente da Aliança Brasileira da Indústria Inovadora em Saúde (ABIIS).
Atualmente, a indústria brasileira de dispositivos médicos fatura cerca de 5,5 bilhões de dólares por ano, segundo estimativas da ABIIS. Já o consumo doméstico de dispositivos médicos, incluindo produtos nacionais e importados, representa 2,35% dos gastos totais com saúde pública e privada do país, ou 10,6 bilhões de dólares. O mercado brasileiro, conforme destaca Gouvêa, ainda têm muito espaço para crescer. O faturamento global da indústria atingiu 350 bilhões de dólares no ano passado. Entre as dez maiores fabricantes de tecnologias médicas do mundo, sete são empresas americanas, que juntas somam receitas de 107,6 bilhões de dólares.
Para estimular o uso de novas tecnologias na área da saúde, a ABIIS elaborou um conjunto de 25 sugestões de melhoria do sistema, consolidadas no livro Saúde 4.0: propostas para impulsionar o ciclo das inovações em dispositivos médicos no Brasil. A obras será lançada na próxima terça-feira (18), durante o II Fórum Nacional de Produtos para Saúde, que ocorrerá das 9 às 14 horas, no auditório do Senado Federal, em Brasília.
“O objetivo dessa iniciativa é contribuir para que o setor de saúde brasileiro seja inserido em um novo conceito de produção global, a indústria 4.0”, explica Gouvêa. O termo faz uma alusão ao que vem sendo chamado hoje de “quarta revolução industrial”, movimento que consiste na interconexão de tecnologias de ponta com o auxílio de redes virtuais, surgido na Europa em 2011. “Em um país como o Brasil, que tem dimensões continentais e sério entraves de infraestrutura, o acesso a serviços presenciais de saúde pode ser, em partes, suprido pelo uso de tecnologias em rede”, complementa.
As 25 propostas englobam os principais obstáculos que essa indústria enfrenta atualmente, como a necessidade de incentivar o segmento de pesquisa e desenvolvimento, de aprimorar a regulação do setor, de ampliar o acesso às tecnologias de ponta e melhorar a gestão hospital. Elas foram elaboradas em conjunto entre a ABIIS e as entidades que representa: a Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para a Saúde (Abimed), Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Implantes (Abraidi), Câmara Brasileira do Diagnóstico Laboratorial (CBDL) e Advanced Medical Technology Association (AdvaMed).
Entre as sugestões apresentadas estão mais articulação entre o governo e o setor privado no apoio à políticas industriais voltadas à inovação, assim como o aumento no volume de investimentos e no número de profissionais voltados para o estudo de novas tecnologias, agilidade e transparência nas aprovações do uso de dispositivos médicos pelos órgãos reguladores, incorporação de tecnologias móveis na rede de atendimento médico e redução de carga tributária sobre os dispositivos médicos.
De acordo com Gouvêa, um modelo de “saúde 4.0” permitiria ao mercado “fazer mais com menos”, estratégia fundamental em momentos de recessão. “A desaceleração da economia brasileira tende a impactar a produção e venda de dispositivos médicos, mas não acredito que tenha um impacto tão forte no setor, já que serviços de saúde são essenciais e não têm substitutos”, afirma.
As importações de dispositivos médicos, que abastecem parte do varejo, refletem a desvalorização do real no ano. Nos primeiros seis meses de 2015, as compras do exterior somaram 2,7 bilhões de dólares, um recuo de 7,54% em relação ao mesmo período do ano passado. Por outro lado, as exportações cresceram 13,5%m, atingindo 460,2 milhões de dólares.
Já a produção industrial de instrumentos e materiais para uso médico e odontológico e artigos ópticos, segundo a Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentou crescimento de 11,3%, em relação ao mesmo período de 2014.
Segundo Gouvêa, uma pequena parte dos hospitais brasileiros, representada pelos maiores privados do país, já usufrui da tecnologia para aprimorar a prática médica. Ele também cita hospitais da rede pública que são referência nacional no uso de tecnologia da informação para dispositivos médicos, como os hospitais universitários. “A maior parte da rede de atendimento, contudo, nem começou a cogitar o uso desse modelo, conceito que contribuiria bastante para dar mais eficiência ao sistema de saúde do país”, diz.
O próprio número de equipamentos hospitalares distribuídos pelo país é insuficiente para atender as necessidades do sistema de saúde nacional. Gouvêa destaca que a maior concentração de máquinas de diagnóstico por imagem ocorre no Distrito Federal, de 0,98 aparelhos por mil habitantes. A região que apresenta a pior relação é o estado do Amapá, com 0,21 - quase cinco vezes menos.
Esta notícia, patrocinada pela Aliança Brasileira da Indústria Inovadora em Saúde (ABIIS), foi elaborada por um colaborador do EL PAÍS.
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