Netanyahu chama de “erro histórico” pacto nuclear de potências com o Irã
Oposição israelense afirma que primeiro-ministro fracassou diante do desafio de Teerã
Apesar de ter tentado bloquear o programa nuclear do Irã por duas décadas, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, constatou, nesta terça-feira, que os Estados Unidos, seu principal aliado, e o restante das grandes potências mundiais não compartilham de sua visão apocalíptica. “Teerã recebeu um sinal verde para obter armas nucleares. Graças às concessões que está recebendo, muitas das limitações que impediam isso serão suspensas”, afirmou ele, em Jerusalém, pouco antes da oficialização do acordo em Viena. “Mas nos comprometemos em impedir que o Irã consiga ter armas nucleares, e esse compromisso se mantém”, alertou.
Netanyahu e grande parte da sociedade israelense acreditam que um Irã com capacidades nucleares representa uma ameaça para a sobrevivência do Estado judaico. “Nas ruas de Teerã, ainda continuam gritando ‘Morte à América’, ‘Morte a Israel’”, disse o primeiro-ministro. “Agora [com a suspensão das sanções], o Irã vai obter centenas de bilhões de dólares para continuar com sua política de agressão e terror no Oriente Médio e em todo o mundo. É um erro de proporções históricas”, sentenciou, fazendo alusão aos laços da República islâmica com o braço armado do Hamas na Faixa de Gaza e com a guerrilha do Hezbollah no Líbano.
A vice-ministra de Relações Exteriores, Tzipi Hotovely, descreveu abertamente o acordo como uma “rendição histórica do Ocidente a um eixo do mal encabeçado pelo Irã”. Também afiliado ao partido governista Likud, o ministro da Imigração, Zeev Elkin, convidou a oposição a se aliar ao Governo para, juntos, iniciarem a batalha pela hasbará [pressão e propaganda a favor de Israel] no Congresso e junto à opinião pública norte-americana”, segundo declarações colhidas pela Rádio do Exército de Israel.
O Gabinete de Netanyahu está se preparando há tempos para tirar da manga a carta da influência diante do Legislativo dos Estados Unidos, que terá que rever e aprovar definitivamente o acordo de Viena. A proximidade da campanha para as eleições presidenciais e legislativas norte-americanas, em 2016, também pode favorecer a estratégia do primeiro-ministro israelense, que espera poder contar com o apoio da influente comunidade judia daquele país.
O principal líder da oposição, o trabalhista Isaac Herzog, já tinha lamentado a obtenção de um acordo com Teerã em Viena, no jornal Yedioth Ahronoth. “É inconcebível que Israel tenha chegado a este momento crucial com zero influência sobre as negociações. Isso se deve exclusivamente a um fracasso pessoal de Netanyahu, que colocou seus interesses eleitorais à frente das relações com os Estados Unidos e da segurança de Israel”, argumentou o líder da centro-esquerda em referência ao discurso contra a negociação nuclear com o Irã, feito pelo primeiro-ministro no Congresso norte-americano em março, pouco antes das recentes eleições israelenses.
Um dos principais analistas da imprensa israelense, Ben Caspit, colunista do diário Maariv, parece concordar com esse diagnóstico: “Não importa o ângulo com que olhemos a questão, trata-se de um fracasso pessoal de Netanyahu, que há 20 anos tem se apresentado como o líder que iria bloquear o programa nuclear iraniano”.
Na edição desta terça-feira do mesmo diário pró-conservador, um alto comandante militar afirma que as Forças Armadas de Israel estão “preparadas para qualquer cenário” caso Teerã obtenha armas nucleares – “inclusive o de uma ofensiva”. Os serviços de inteligência civis e militares têm previsão de se reunir imediatamente, assim que for divulgado o conteúdo do acordo com o Irã, para depois apresentar suas conclusões ao Gabinete de Segurança do Executivo.
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